Há 76 anos, no dia 6 de agosto de 1945, a cidade de Hiroshima foi arrasada por uma única bomba nuclear. No dia 9, Nagasaki sofreu idêntico destino. Mais de 80 mil pessoas morreram nas duas cidades no próprio dia do ataque e muitos milhares mais pereceram nas semanas, meses e anos seguintes. Nas décadas posteriores, detonações experimentais causaram mortes e graves prejuízos à saúde e ao meio ambiente.
Todos os anos, naquelas datas, realizam-se em ambas as cidades cerimônias oficiais em homenagem às vítimas e em prol da paz mundial. De 2007 a 2011 tive a honra de representar em Hiroshima o secretário-geral das Nações Unidas, Ban Ki-moon, exceto em 2010, quando ele compareceu pessoalmente.
Desde o advento das armas nucleares, a comunidade internacional procura chegar a um consenso sobre como eliminá-las. Inúmeros estudos científicos revelam que os efeitos de detonações nucleares, independentemente das causas, não se limitam às fronteiras nacionais e são de amplas proporções e de longo prazo. Os danos ambientais decorrentes de uma conflagração nuclear serão profundos e potencialmente irreversíveis.
Esforços multilaterais ao longo das últimas sete décadas resultaram na adoção de vários instrumentos internacionais que visam evitar a proliferação de armas nucleares. Foi possível, até o momento, limitar a nove o número de países possuidores desse armamento. Cinco dentre eles (China, Estados Unidos, França, Reino Unido e Rússia) são reconhecidos como tais pelo Tratado de Não Proliferação de Armas Nucleares (TNP), cujos membros se comprometeram a negociar medidas de desarmamento.
Todos os demais se obrigaram a não vir a obtê-las, com exceção da Coreia do Norte, Índia, Israel (que não confirma nem desmente oficialmente a posse de armamento nuclear, mas acredita-se que possua um arsenal de cerca de 90 ogivas) e Paquistão, que não aderiram a esse tratado e desenvolveram seu próprio armamento. 114 países em cinco continentes estabeleceram zonas livres de armas nucleares. Desde 2006 não têm sido realizados ensaios com explosivos atômicos. Tratados multilaterais baniram as outras duas categorias de armas de destruição em massa —bacteriológicas (biológicas) e químicas.
A corrida armamentista, porém, não cessou —ao contrário, vem recrudescendo. Até hoje não houve qualquer acordo de desarmamento nuclear. Os possuidores continuam a desenvolver e aperfeiçoar engenhos cada vez mais velozes, potentes e mortíferos e não se mostram dispostos a acolher e examinar propostas de eliminação de seus arsenais.
Em 2017, por exemplo, 122 países negociaram o Tratado de Proibição de Armas Nucleares (TPAN) que entrou em vigor em 22 de janeiro último. 81 países o assinaram e 54 já o ratificaram. A ratificação pelo Brasil se encontra em exame no Congresso Nacional. Os países nuclearmente armados consideram o tratado “prematuro” e “contraproducente”. Não participaram da negociação e se recusam a subscrevê-lo.
Em 16 de junho último os presidentes dos Estados Unidos e da Rússia declaram conjuntamente que “uma guerra nuclear não terá vencedores e jamais deverá ocorrer” e prometeram explorar medidas futuras de controle de armamentos e redução dos riscos nucleares. É uma intenção louvável, mas não suficiente. Esses dois países têm o dever de liderar ativamente a busca de compromissos juridicamente vinculantes, verificáveis e irreversíveis de desarmamento nuclear. Somente a completa eliminação poderá evitar a ameaça das armas nucleares à sobrevivência da humanidade.
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