A resenha feita por Carlos Graieb do livro "China Contemporânea" encontra-se aquém da expectativa do leitor e do padrão usual na mídia impressa. Falta-lhe objetividade e imparcialidade. A dicção, os adjetivos, os tipos de juízo emitidos foram emprestados da linguagem dos influenciadores digitais. Nesse mimetismo prevalecem cacoetes dos ativistas das redes sociais: discorrer, em tom peremptório, sem meditação prévia, sobre assuntos que não dominam. As considerações do resenhista transmitem a impressão de leitura apressada e incompleta. Vejamos.
No comentário do artigo de Luiz Enrique Vieira de Souza sobre a situação ambiental na China, Graieb mostra apenas os aspectos negativos. Ignora as páginas que apresentam avanços como a internalização de critérios ambientais na legislação e os investimentos em energia limpa, eficácia energética e reflorestamento. O leitor não é informado de que o objetivo explícito do sociólogo foi estabelecer um balanço do andamento contraditório da questão, da polaridade entre “fluxos de modernização ecológica” e “vetores de degradação ambiental”.
Graieb qualificou como “leitura árdua” o artigo do economista e professor da USP Alexandre de Freitas Barbosa. Os motivos elencados —a confrontação de teorias da história econômica, o esforço de abstração— revelam o descaso do resenhista com o pensamento conceitual, forma de conhecimento inaugurada por Sócrates e eixo estruturante da ciência moderna desde Galileu.
O resenhista acusou Elias Jabbour e Alexis Dantas, especialistas reconhecidos pela originalidade de suas análises por economistas de diferentes escolas, como Luiz Carlos Bresser-Pereira e Luiz Gonzaga Belluzzo, de “compromisso ideológico”. A ideologia, assim posta, é atribuída ao outro; com a recorrência ao ad hominem, evita-se a discussão intelectual. Esse registro suscita a indagação: por que os juízos prévios de Graieb sobre a China não são “ideológicos”?
A resenha não informa nem sequer que o artigo de Jabbour e Dantas examina o papel do Estado na gestão, coordenação e planificação da economia, sustentando a tese de que essa intervenção teria gestado uma formação econômica-social específica: “o socialismo de mercado”. Tampouco menciona os pilares do ensaio, os conceitos de “nova economia do projetamento” e “geopolítica institucionalizada pela China”.
Graieb recusa-se a comentar o artigo de Wladimir Pomar por conta das credenciais de “ativista político” do autor. Pomar é conhecido nos meios jornalísticos por ter coordenado a campanha de Lula em 1989. Sua respeitabilidade intelectual deriva também de suas investigações sobre o enigma chinês, assunto sobre o qual publicou quase uma dezena de livros. A atitude do resenhista assemelha-se à dos ideólogos da Escola sem Partido, que pretendem banir da bibliografia os livros de Karl Marx, um destacado ativista político.
O resenhista confessa que o artigo de Francisco Foot Hardman o deixou “desconcertado”. Não esclarece se foi por se deparar com a aplicação dos conceitos de “simultaneísmo” e “fusão” aos espaços-tempos histórico-culturais ou por não conseguir comentar as obras ali analisadas do romancista Mo Yan e do cineasta Jia Zhangke. Sua reação ao desconforto, uma boutade desprovida de graça, surpreende, pois repete o comportamento de semiletrados.
Graieb não dissimula seus preconceitos e seu anti-intelectualismo. Não admira que prefira manter estereótipos a reconhecer as valiosas contribuições brasileiras para entender a gênese, o desenvolvimento e o futuro da ascensão chinesa.
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