Agentes americanos encontraram na última terça-feira (12) uma menina de sete anos abandonada por um coiote na fronteira entre os Estados Unidos e o México. As imagens da criança apoiada nas costas de um homem descendo o muro com uma corda e depois sendo deixada sozinha foram capturadas pelo sistema de vigilância.
De acordo com informações do Serviço de Alfândegas e Proteção das Fronteiras (CBP, na sigla em inglês), a menina é natural de El Salvador. Ela foi localizada na cidade californiana de Calexito e encaminhada para o centro de processamento de migrantes de El Centro.
Os agentes informaram que assistiram à cena ainda quando o homem descia o muro com a menina, mas preferiram aguardar até que ela estivesse em segurança, no solo, para não criar pânico ou feri-la.
Em um comunicado, o chefe local do serviço de fronteiras, Gregory K. Bovino, afirmou que “os contrabandistas sempre verão as crianças como uma mercadoria para obter lucro, desconsiderando a segurança e o bem-estar”.
“Ninguém, muito menos uma criança de qualquer idade ou raça, deve ser exposto aos perigos de cruzar ilegalmente a fronteira para este país”, afirmou ele na nota.
Cenas de crianças sendo abandonadas na fronteira americana com o México não são incomuns. Em abril, o sistema de segurança de Santa Teresa, no estado do Novo México, registrou duas irmãs sendo jogadas por cima do muro. As meninas, de três e cinco anos, são equatorianas.
Também se multiplicam os casos em que agentes da patrulha encontram menores abandonados na fronteira. A situação vai ao encontro daquele que é considerado o maior fluxo na divisa dos EUA com o México em duas décadas.
Os números ilustram o cenário: somente no mês de agosto, 18.847 crianças desacompanhadas cruzaram a fronteira. O número é cinco vezes maior que o registrado no mesmo mês em anos anteriores —foram 3.100 em agosto de 2020 e 4.119 no mesmo mês em 2019.
No ano fiscal de 2021 (de outubro de 2020 a agosto deste ano), o número de crianças desacompanhadas passou de 132,6 mil, volume superior ao registrado no ano fiscal de 2019 —80,6 mil. Em 2020, em parte devido à pandemia de coronavírus, o número total foi menor, de 33,2 mil.
O presidente Joe Biden, que outrora prometeu reverter políticas anti-imigratórias de Donald Trump, vem sendo criticado pela continuidade de duras medidas, como a que facilita a expulsão imediata de pessoas que tentarem entrar no país violando restrições de viagens ou de forma ilegal, sem permitir que busquem asilo.
Autoridades americanas e mesmo agentes da fronteira atribuem à medida, conhecida como Título 42, uma alavanca para o alto fluxo na fronteira, já que ela estaria impulsionando os casos de pessoas que cruzam a fronteira várias vezes para tentar escapar da captura.
Apenas entre os meses de maio e junho, mais de 2.800 bebês e crianças brasileiras com até seis anos de idade atravessaram irregularmente a fronteira e acabaram detidas pelo serviço de migração, como mostrou reportagem da BBC Brasil. Doze delas entraram no país sem a companhia dos pais ou de algum responsável legal.
Os Estados Unidos estimam que, no total, 184 mil crianças migrantes desacompanhadas cheguem à divisa com o México neste ano.
Uma das áreas de maior preocupação para a administração de Biden são os países do chamado Triângulo Norte da América Central (El Salvador, Honduras e Guatemala), cujos moradores, em face da violência, da desigualdade social e das mudanças climáticas, cada vez mais têm migrado em caravanas para os EUA.
O crescente número de menores potencializa ainda as críticas à situação dos abrigos para imigrantes nos EUA, considerados inadequados para adultos e, especialmente, para bebês e crianças.
A organização não governamental Save the Children tem denunciado que milhares de crianças continuam a ser mantidas em centros de processamento por mais tempo do que as 72 horas permitidas por lei.
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