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Na maior parte do tempo, a influencer digital Lu Xiao Maomao utilizava as redes sociais para divulgar dicas de beleza e as últimas novidades do mundo da moda. Natural de Zuzhou, na província de Hunan, Lu acumulava cerca de 770 mil seguidores no Douyin (versão local do TikTok) e ganhava a vida documentando o seu dia e participando de campanhas publicitárias online.
Há uma semana, porém, ela abriu uma live para falar de um tema diferente. Pela manhã, fez uma postagem curta dizendo que seria a última. Citou ter depressão e convidou seus seguidores a assistirem a uma live à noite.
Quando abriu a transmissão, Lu disse que tinha chegado "ao fundo do poço". Ela tentou se matar ao vivo, passou mal e morreu no dia seguinte.
O caso explodiu nas redes sociais, e um único tópico sobre o assunto no Weibo (espécie de Twitter chinês) atraiu 78,2 milhões de acessos. Muitos internautas condenaram usuários da rede social que teriam incentivado a jovem a ingerir o veneno durante a live. A própria família da influencer afirmou que os comentários foram os responsáveis por incentivar Lu a seguir em frente com o plano.
"Essas pessoas podem escapar da Justiça, mas certamente não escaparão do inferno", escreveu um usuário.
Porém, a maior parte da discussão girou em torno do Douyin. As lives são uma das funções mais lucrativas no aplicativo e, em tese, devem obedecer a uma série de regras governamentais para prevenir conteúdo nocivo. Vários internautas cobraram uma resposta da ByteDance, dona da plataforma.
Por que importa: há dois pontos na trágica história que ajudam a entender a China atual.
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O poder e as falhas das big tech. O caso expôs a debilidade da segurança nos algoritmos de filtragem da ByteDance. A empresa vem sofrendo escrutínio do governo e, até a publicação desta edição, não havia se manifestado sobre o caso.
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Saúde mental e a visão de fragilidade. Embora a maioria das reações ao episódio tenha sido de revolta, não foram poucos os que acusaram a jovem de fraqueza. Alguns ironizaram o tratamento que ela vinha fazendo, indicando que, "quando alguém quer morrer, nada pode pará-lo (a)". Esses comentários são um indicativo do quanto o tema permanece um tabu. Estima-se que ao menos 90 milhões de chineses sofram de depressão, mas o acesso a psicólogos e a redes de proteção à vida segue burocrático e estigmatizado.
O que também importa
Depois de um extenso trabalho para controlar um surto da variante delta na província costeira de Fujian, a China voltou a registrar novos casos de Covid-19. Autoridades relataram que um casal de turistas de Xi'an ---cidade famosa por abrigar os Guerreiros de Terracota--- receberam o diagnóstico da doença.
Em Pequim, uma mulher foi colocada em quarentena na terça após apresentar desconforto na garganta. Um teste PCR confirmou a infecção por Covid, e o sequenciamento genético mostrou que ela carregava a variante delta do vírus. A paciente foi isolada em um hospital, e o distrito onde ela mora foi colocado em lockdown.
O aumento no número de casos fez Pequim acelerar o programa de vacinação com doses de reforço para pessoas com mais de 18 anos e imunizados há seis meses. Nacionalmente, a China já aplicou mais de 2 bilhões de doses. Estatísticas oficiais indicam que 78% da população está totalmente vacinada.
A polícia de Pequim prendeu o famoso pianista chinês Li Yundi. Ele é acusado de ter contratado uma prostituta. A atividade é ilegal no país e tanto profissionais do sexo quanto clientes são detidos pela polícia.
No Weibo, a delegacia de Chaoyang escreveu que chegou até o pianista após receber denúncias anônimas de moradores da região. Li e a prostituta, identificada apenas pelo sobrenome Chen, foram presos e admitiram "comportamento ilegal".
Li ficou nacionalmente conhecido por vencer nos anos 2000 o tradicional Concurso Internacional de Piano Chopin. Ele tinha 18 anos na época e se tornou o primeiro chinês a receber a honraria. Ganhou status de celebridade e se apresentou em vários programas de TV.
O Financial Times dobrou a aposta e afirmou que a China testou duas vezes um suposto novo míssil nuclear com tecnologia inovadora. No início da semana, o periódico britânico noticiou o lançamento de um "míssil hipersônico que os EUA nem sonham em produzir".
O anúncio pegou agências de inteligência e governos nacionais agitados, mas foi negado pelo porta-voz da chancelaria chinesa, Zhao Lijian. "Não era um míssil, era uma espaçonave. Os testes são muito importantes para reduzir o custo de espaçonaves e fornecer um método barato e conveniente para humanos viajarem pacificamente do e para o espaço", disse em uma entrevista coletiva.
Mesmo assim, o jornal britânico voltou a reportar sobre o assunto e citou não uma, mas duas ocasiões em que os mísseis teriam sido disparados: 27 de julho e 13 de agosto.
O míssil representaria uma dor de cabeça para as Forças Armadas de países inimigos. Além de ser muito rápido, ele também teria a capacidade de mudar de direção em pleno voo, tornando-se praticamente imune a escudos antimísseis. Até a conclusão da newsletter, nem a Casa Branca nem autoridades em Pequim tinham reagido à nova reportagem do jornal.
fique de olho
Pressionada pelas recentes crises energéticas, a Comissão Nacional de Desenvolvimento e Reforma anunciou que estuda como intervir no preço no carvão. A commodity está em seu valor recorde, pressionando a inflação e o custo de bens de consumo. Ao mesmo tempo, o Conselho de Estado disse que avalia medidas para estabilizar preços e cogita novas políticas de subsídios e redução de impostos de curto prazo.
Por que importa: o carvão é a base da matriz energética chinesa. Se o preço sobe, encarece outros produtos. O governo parece indicar preocupação com o endividamento das famílias e, principalmente, com os impactos financeiros para pequenas e médias empresas. Esses empreendimentos ainda não recuperaram todas as perdas causadas pela pandemia e muitos vêm funcionando no limite.
para ir a fundo
- A Editora Cai Cai iniciou uma campanha de financiamento coletivo para trazer ao Brasil a edição original da história de Hua Mulan. Adaptada pela Disney em uma animação indicada ao Oscar e em uma superprodução live action no ano passado, o conto é um clássico do folclore chinês. A edição brasileira deve contar com ilustrações de Yu Rong e tradução da professora Verena Veludo. (pago, em português)
- O caractere 女 (Nǚ) pode ser traduzido como "mulher", mas está associado a vários termos negativos em chinês como "traição" e "inveja". O Sixth Tone traz uma reportagem contando como internautas chineses têm tentado chamar a atenção para o problema alterando a estrutura de algumas palavras nas redes sociais. (gratuito, em inglês)
- A USP vai sediar entre os dias 26 e 29 de outubro a 5ª edição da BRICS Conference, destinada a debater assuntos estratégicos do grupo formado por Brasil, Rússia, China, Índia e África do Sul. O evento deste ano contará com 12 painéis e será online. As inscrições podem ser feitas neste link. (gratuito, em inglês)
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