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Ministro da Defesa do Peru se demite após denúncias de promoção irregular de militares

Caso aprofunda crise do governo de Pedro Castillo; audiência no Congresso analisa abertura de investigação

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Lima | AFP

O governo do presidente Pedro Castillo no Peru, em crise constante desde que assumiu, assistiu à saída de mais um ministro nesta segunda-feira (8). O titular da pasta de Defesa, Walter Ayala, apresentou sua renúncia após virem a público informações de que ele teria buscado promoções para militares próximos ao chefe de Estado.

Castillo ainda não confirmou se aceita a renúncia. Caso o faça, o ex-juiz Ayala se tornará o décimo ministro trocado em pouco mais de três meses de governo –ele tomou posse em julho. Há uma semana, Luis Barranzuela (Interior) deixou o governo após realizar uma festa em meio à proibição para eventos do tipo no país.

O fato se deu dois antes de, na quinta-feira (4), o Congresso enfim aprovar a segunda configuração do ministério do presidente esquerdista.

O ministro da Defesa, Walter Ayala, e o presidente do Peru, Pedro Castillo - 30.jul.21 - Presidência do Peru via Reuters

O novo capítulo da crise no governo teve início após o presidente demitir os comandantes do Exército, general José Vizcarra, e da Força Aérea, Jorge Chaparro. Os dois disseram, posteriormente, que foram pressionados para promover de maneira irregular algumas figuras das Forças Armadas. Segundo afirmam, as tentativas partiram do ministro Ayala e de Bruno Pacheco, secretário de Castillo.

"Respondi que [não faria isso] de maneira nenhuma, que iria respeitar a meritocracia e os procedimentos estabelecidos na lei", disse Chaparro ao jornal peruano El Comercio. Após as declarações, parlamentares de oposição anunciaram que tentariam retirar o ministro do cargo. Horas depois, ele apresentou sua renúncia.

"Coloco meu cargo à disposição, agradecendo ao meu país e cumprindo meu dever com a pátria", escreveu Ayala em uma publicação no Twitter. "Não usem pretextos contra a democracia."

O Congresso peruano chamou os dois para testemunhar na Comissão de Defesa e Ordem Interna, que deve avaliar o pedido de uma investigação sobre possíveis pressões exercidas por Castillo nas Forças Armadas. Teriam sido favorecidos os generais Ciro Bocanegra Loayza e Carlos Sánchez Cahuancama, segundo Vizcarra e Chaparro.

O parlamentar José Williams Zapata, do Avança País, que preside a comissão, disse que mesmo a saída de Ayala –caso a renúncia seja acatada por Castillo– não coloca um ponto final na crise.

O congressista afirmou que as denúncias revelam um "grande erro" das autoridades políticas. "Já vimos que envolver as Forças Armadas na política é o pior que se pode fazer", disse. "As Forças Armadas não são do presidente, não são do governo, mas sim da nação, do povo, e devem obedecer à Constituição."

No início da tarde desta terça, a imprensa local noticiou que a deputada e terceira vice-presidente do Parlamento, Patricia Chirinos, havia apresentado uma denúncia constitucional contra Ayala. As acusações serão avaliadas pelos congressistas e, caso sejam julgadas procedentes, podem render ações criminais contra o ex-juiz.

A recém-nomeada primeira-ministra peruana, Mirtha Vázquez, chamou as denúncias de graves, mas frisou que o governo "respeita as Forças Armadas, que são um ator estratégico e muito importante para a proteção da soberania do Estado". Ainda ao comentar o pedido de renúncia do ministro, ela disse que o governo anunciará medidas nas próximas horas.

No início da tarde, Castillo se reuniu com os chefes das Forças Armadas: Alberto Alcalá, da Marinha, Walter Horacio Córdova Alemán, do Exército, e Alfonso Javier Artadi Saletti, da Força Aérea. Em uma rede social, o Comando Conjunto das Forças postou um vídeo no qual, ainda que sem fazer menção às denúncias, diz que "um dos fatores mais importantes dos militares é o respeito".

Há um mês, em busca de governabilidade, Castillo trocou o presidente do Conselho de Ministros, figura que no Peru corresponde ao cargo de premiê, e parte de seu gabinete ministerial. Os novos nomes propostos pelo presidente foram motivo de divergências internas no partido governista, o Perú Libre, e aprovados na última quinta (4) pelo Legislativo.

O candidato de esquerda derrotou no pleito do primeiro semestre deste ano, com uma pequena margem, a direitista Keiko Fujimori, filha do ditador Alberto Fujimori —que liderou o país de 1990 a 2000 e, com estado de saúde delicado, cumpre pena por corrupção e crimes contra a humanidade.

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