O Congresso peruano concedeu voto de confiança ao novo gabinete ministerial nomeado pelo presidente Pedro Castillo, que reestruturou sua gestão no início de outubro em busca de governabilidade. A decisão foi chancelada em sessão do Legislativo nesta quinta-feira (4).
Depois de dez horas de debate, aprovaram o gabinete 68 parlamentares (só 2 a mais do que o mínimo necessário), enquanto 56 o rejeitaram e 1 deles se absteve.
A sessão contou com a apresentação do plano de governo de cada pasta e com um apelo da nova primeira-ministra, Mirtha Vázquez, para que a decisão não fosse adiada. "Estamos presos em um problema que não nos deixa começar o governo e precisamos começar a atuar. O Peru precisa dessa aprovação."
A votação começou no último dia 25 de outubro, mas na ocasião a sessão foi interrompida com o anúncio em plenário da morte do deputado Fernando Herrera Mamani, do Perú Libre (mesma legenda de Castillo). O parlamentar morreu em casa, de um ataque cardíaco, horas após se sentir mal no prédio do Congresso.
O partido governista se dividiu depois das mudanças que Castillo promoveu em sua equipe —medida tomada justamente por causa de ameaças do Congresso de pedir o impedimento do gabinete anterior, aprovado no final de agosto com 73 votos, após duas longas sessões. Com nomes considerados radicais, da ala mais à esquerda do Perú Libre, o ministério sofria críticas do centro e da direita, no espectro político, e em setores da sociedade civil. Muitos nomes eram vinculados diretamente ao líder do partido, Vladimir Cerrón, um admirador do chavismo.
As mudanças de Castillo levam ao gabinete membros da esquerda moderada e mais tradicional do país. O Perú Libre reagiu, com suas lideranças avisando desde o primeiro momento que votariam contra. Ao final, a bancada do partido se mostrou dividida, mas o ministério foi chancelado pelo Congresso.
Um dos entraves para a aprovação era a presença de Luis Barranzuela no Ministério do Interior. Advogado de Cerrón, ele responde a um processo por corrupção e vinha sendo atacado pela oposição. O político se viu forçado a renunciar na terça (2), após realizar uma festa em casa —esses eventos estão proibidos por um decreto da própria pasta do Interior, para conter o avanço do coronavírus, que já matou mais de 200 mil pessoas no Peru.
O novo titular do ministério é o ex-promotor Avelino Guillén, 67, que ficou conhecido por ter processado o ex-presidente Alberto Fujimori em 2009 –o político foi condenado a 25 anos de prisão por violações humanitárias. Em uma rede social, Castillo saudou a chegada do novo ministro e disse que seu conhecimento, sua experiência e trajetória vão permitir "continuar combatendo o crime no país".
Outro nome que agrada pouco ao Legislativo, mas acabou permanecendo, é a titular de Desenvolvimento e Inclusão Social, Dina Boluarte, investigada por lavagem de dinheiro e financiamento ilegal de campanha. No domingo (31), quando estava encarregada temporariamente dos despachos presidenciais, Boluarte promulgou texto que suspende a realização de primárias para as eleições regionais e municipais de 2022.
A decisão foi criticada pela vice-presidente do Congresso, Lady Camones, da Aliança para o Progresso, de direita. "É lamentável que Boluarte promulgue uma norma que significa uma sabotagem às regras democráticas", escreveu a congressista em uma rede social.
O Perú Libre ocupa hoje uma minoria de 27 das 130 cadeiras do Congresso. Os demais partidos também votaram com a bancada dividida.
A aprovação é uma vitória de Mirtha Vázquez, advogada de centro-esquerda, considerada moderada e que não pertence ao Perú Libre. Escolhida para ser a substituta de Guido Bellido Ugarte, ela passou os últimos dias dialogando com os líderes de vários partidos para tentar chegar a um consenso pela governabilidade, algo que não foi conseguido por seu antecessor. Ugarte, que voltou ao Parlamento, diga-se, votou pela rejeição ao novo gabinete.
A nova primeira-ministra reforça que uma nova Constituição, como havia prometido Castillo na campanha, não é uma prioridade para o país, e que os esforços devem ser concentrados agora na vacinação e na recuperação econômica.
O ministro da Economia, Pedro Francke, outro moderado que não tem a simpatia de Cerrón, também acabou mantido no cargo.
Nesta quinta, Castillo comemorou nas redes sociais a aprovação do novo gabinete. "Com o voto de confiança do Congresso, continuaremos batalhando sem descanso pelas mudanças que o povo necessita. Somos o governo que impulsiona a reivindicação social e que aposta no desenvolvimento das regiões. Com unidade e consenso, conseguiremos", escreveu.
Diversos congressistas do partido governista teceram críticas durante a sessão. Um deles, Bernardo Quito, disse: "Não podemos deixar que um governo de esquerda continue com as políticas neoliberais. É importante sermos coerentes com o que defendemos durante a campanha".
"O Peru está há 100 dias com um presidente que se esconde quando as batatas queimam, 100 dias de destruição de nossa pátria. Temos um presidente que nos leva a um triste fim, porque está incendiando a economia", disse Patricia Chirinos, do Avanza País, em referência ao período de mandato do esquerdista Castillo.
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