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Peng Shuai conversa com presidente do COI para conter pressão sobre a China

Thomas Bach falou com tenista chinesa durante 30 minutos por meio de videoconferência

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Lausanne (Suíça) | AFP

O presidente do Comitê Olímpico Internacional (COI), Thomas Bach, conversou neste domingo (21) com a tenista chinesa Peng Shuai, 35, durante cerca de 30 minutos, por meio de videoconferência, de acordo com um comunicado divulgado pelo órgão olímpico.

O encontro ocorre em meio a dúvidas sobre o paradeiro da esportista, que no início do mês acusou Zhang Gaoli, ex-vice-premiê da China, de assédio sexual. Desde então, estrelas do tênis, além do presidente da Associação de Tênis Feminino (WTA) e da ONU, manifestaram-se em busca de informações sobre Peng.

A preocupação em torno da situação da atleta e a intervenção do COI também acontecem num momento em que grupos de direitos humanos e o presidente dos Estados Unidos, Joe Biden, sugerem um boicote às próximas Olimpíadas de Inverno, que serão disputadas em fevereiro, na capital chinesa.

O presidente do COI, Thomas Bach, durante videoconferência com a tenista chinesa Peng Shuai
O presidente do COI, Thomas Bach, durante videoconferência com a tenista chinesa Peng Shuai - Greg Martin/COI via AFP

Segundo o COI, a atleta "explicou que está em segurança em sua casa em Pequim, mas que gostaria que sua privacidade fosse respeitada". "Por isso ela prefere ficar com amigos e familiares neste momento. Porém, ela continuará envolvida com tênis, o esporte que ela tanto ama." Também participaram da reunião a presidente da Comissão dos Atletas, Emma Terho, e a chinesa Li Lingwei, membro do Comitê Olímpico.

Neste sábado (20), Hu Xijin, editor-chefe do Global Times, jornal alinhado ao Partido Comunista Chinês, já havia publicado no Twitter três vídeos que provariam que a tenista está viva. Um dos registros mostra Peng na cerimônia de abertura da final de um torneio que aconteceu na manhã de domingo em Pequim, no horário local, para tentar responder a dúvidas se os outros vídeos, divulgados horas antes, seriam atuais.

Antes, Hu divulgou uma gravação de Peng jantando "com o técnico e amigos em um restaurante" e compartilhou uma postagem de outro jornalista chinês com fotos da esportista brincando com um gato. Não havia referências a datas que comprovassem quando as imagens foram feitas.

O Global Times, liderado por Hu, é publicado pelo People's Daily, jornal oficial do Partido Comunista Chinês. Desde que o caso de assédio foi denunciado, nem Zhang ou qualquer outro membro do governo chinês fizeram comentários sobre as alegações da tenista. O post dela foi rapidamente excluído da rede social, assim como os tópicos de discussão na ultracontrolada e censurada internet chinesa.

Após a divulgação das fotografias e dos vídeos, o Ministério das Relações Exteriores do Reino Unido divulgou comunicado pedindo à China que dê "evidência verificável" da segurança e localização da tenista.

Também em nota, o presidente da WTA, Steve Simon, afirmou que fica "feliz em ver os vídeos publicados pela imprensa estatal chinesa", mas que "ainda não está claro se ela está livre e pode tomar decisões e agir por conta própria, sem coerção ou influência externa", porque "o vídeo, sozinho, é insuficiente".

Na mesma toada, o chanceler francês, Jean-Yves Le Drian, antes do anúncio do COI, pediu mais provas de que a tenista está em segurança e afirmou que poderia haver consequências diplomáticas se a China não esclarecer a situação. Após a divulgação da conversa com Bach, Le Drian não fez comentários.

Segundo uma captura de tela da conta de Peng no Weibo, espécie de Twitter chinês, a esportista afirmou que o ex-vice-premiê, que fez parte do Comitê Permanente do Politburo, órgão que representa a cúpula do Partido Comunista, a coagiu a fazer sexo. Depois, eles tiveram uma relação consensual intermitente.

Na mesma mensagem, a esportista disse não ter evidências que sustentem suas alegações. Mesmo assim, a denúncia gerou forte reação. Na quinta (18), o presidente da WTA já havia dito que estuda abrir mão de eventos esportivos na China se as acusações não forem investigadas.

Zhang, 75, foi vice-premiê da China entre 2013 e 2018. Ele também foi secretário do partido na província de Shandong e integrou o Comitê Permanente do Politburo entre 2012 e 2017. A tenista, por sua vez, foi a número 1 no ranking mundial de duplas em 2014, tornando-se a primeira chinesa a alcançar o topo da lista, após conquistar os torneios de Wimbledon em 2013 e Roland Garros em 2014.

Por anos, casos de assédio e abuso sexuais raramente foram abordados publicamente na China. O cenário mudou em 2018, quando o movimento #MeToo chegou ao país, após uma estudante universitária acusar um professor de assédio. O episódio chamou a atenção de ONGs, imprensa e outros setores.

Assim como no caso de Peng, as redes sociais costumam ser o principal canal de exposição das denúncias, pois a imprensa local em geral não cobre o tema. Ainda assim, discussões nos espaços online não fogem dos olhos do governo, que vigia a internet no país. Para isso, criou-se uma série de leis e ferramentas digitais de bloqueio, como parte de uma política que vem sendo aprimorada desde os anos 1990. As empresas do mercado digital do país são obrigadas a fiscalizar e restringir a atividade dos usuários, sob pena de perderem o direito de operar. Quem violar as regras pode ser multado e preso.

O controle da internet é parte da política do Partido Comunista, que veta a circulação de notícias e informações que desagradem o governo ou que, na visão do regime, gerem problemas para a sociedade.

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