O ex-senador dos Estados Unidos Bob Dole morreu neste domingo (5), aos 98 anos. A informação foi confirmada pela Fundação Elizabeth Dole em uma publicação no Twitter, que não revelou a causa nem o local da morte.
De acordo com o jornal The New York Times, Dole havia anunciado em fevereiro que estava com um câncer de pulmão e que iniciaria o tratamento.
Segundo o comunicado oficial, que destacou que Dole "serviu fielmente ao seu país por 79 anos", o político morreu dormindo. "Os EUA perderam um de seus heróis e nossa família, sua rocha. Ele personificou a integridade, o humor, a compaixão e a ética ilimitada. Era uma voz poderosa em prol do conservadorismo pragmático", acrescentou a família, em nota.
Veterano da Segunda Guerra Mundial, Robert Joseph Dole tentou ser presidente dos EUA por três vezes. Em 1976, compôs como vice a chapa com Gerald Ford, que perdeu para o democrata Jimmy Carter. Quatro anos depois, foi preterido nas prévias republicanas por Ronald Reagan.
Em 1996, enfim foi o cabeça de chapa do partido à Presidência, mas acabou derrotado por Bill Clinton —em uma campanha definida pelo New York Times como desastrosa.
Durante a disputa, ele tentou explorar o que poderiam ser pontos fracos do democrata, como acusações de adultério e evasão do serviço militar. "Se algo acontecesse no caminho e você tivesse que deixar seus filhos com Bob Dole ou com Bill Clinton, acho que provavelmente os deixaria com Dole", disse, em um discurso.
Ao final, o republicano venceu em 19 estados, de um total de 50, e sofreu uma derrota de 379 a 159 no Colégio Eleitoral. Um ano depois da campanha, recebeu do rival a medalha presidencial da liberdade, maior honraria civil do país —em 2018, também foi laureado pelo Congresso, onde representou o estado do Kansas por 35 anos.
Dole foi deputado (1961-1969) e senador (1969-1996), definido como um conservador pragmático e político habilidoso, com boa relação com a bancada democrata e capaz de construir coalizões. No Senado, serviu como líder da maioria em dois períodos (1985-1987 e 1995-1996) e, entre eles, como líder da minoria.
Sua mulher, Elizabeth, também teve trajetória política, tendo sido eleita senadora pela Carolina do Norte (2003-2009) e ocupado cargos nas administrações Bush e Reagan.
Em uma de suas últimas aparições públicas, em dezembro de 2018, Dole compareceu ao velório do ex-presidente George H. W. Bush. Em 2016, foi um dos poucos nomes da velha guarda do Partido Republicano a endossar o nome de Donald Trump como candidato —depois que seu favorito, Jeb Bush, desistiu das prévias. Às vésperas de completar 93 anos, foi o único ex-postulante da legenda a comparecer à convenção que oficializou o empresário, que se sagraria vencedor na disputa contra a democrata Hillary Clinton.
Um ano depois da campanha, o político ainda exaltou Trump "por ter restaurado a posição dos EUA como líder do mundo livre".
Mais recentemente, porém, ele manifestou impaciência com as falsas alegações do ex-presidente de fraude nas eleições do ano passado. "Ele perdeu, e eu lamento", disse ao jornal USA Today.
Conhecido por se referir a si mesmo na terceira pessoa, o político seguiu o que a agência Reuters definiu como uma clássica jornada americana: da pobreza na Grande Depressão nos anos 1930 aos corredores do poder, passando pelos campos de batalha da Segunda Guerra.
Em um combate na Itália, foi atingido por uma granada no ombro. O episódio quebrou vértebras, comprometeu um rim e o fez passar 39 meses em hospitais, também limitando os movimentos do braço direito. Quando retornou da guerra, foi condecorado pelo heroísmo.
Como político, se tornou defensor dos direitos das pessoas com deficiência. Atuou na aprovação de uma lei de 1990 que proíbe a discriminação a esse grupo nos transportes, em locais públicos e no recrutamento profissional e lutou pelo financiamento da Previdência nos EUA.
Também teve papel preponderante na construção de um memorial para os veteranos da Segunda Guerra no National Mall de Washington.
Advogado de formação, Dole tinha uma filha, Robin, do seu primeiro casamento.
Neste domingo, sua morte foi lamentada por políticos americanos. O presidente Joe Biden lembrou que fez uma visita ao ex-colega de Congresso em fevereiro, pouco depois de tomar posse. "Foi como se no dia anterior estivéssemos rindo na sala de jantar do Senado ou debatendo assuntos do dia", disse, em comunicado. "Ainda que muitas vezes discordássemos, ele nunca hesitou em trabalhar comigo e outros democratas quando era importante."
O ex-presidente Trump também se manifestou em comunicado, chamando Dole de herói de guerra. "O Partido Republicano ficou mais forte com seus serviços", escreveu.
"Quando eu penso na geração grandiosa [nascidos na Grande Depressão que lutaram na Segunda Guerra], penso no senador Bob Dole. Um homem que dedicou a vida a servir ao país", escreveu no Twitter o senador republicano Mitt Romney, também ex-candidato presidencial.
O deputado democrata Adam Smith saudou Dole como um "veterano heroico, estadista e apaixonado defensor das causas das pessoas com deficiência". A presidente da Câmara, Nancy Pelosi, determinou que as bandeiras do Capitólio fiquem a meio mastro, em sinal de luto.
"Todos os que tivemos o privilégio de conhecê-lo sentirão sua falta", disse o ex-vice-presidente Mike Pence. O líder republicano no Senado, Mitch McConnell, destacou "o caráter o profundo patriotismo" de Dole.
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