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Líbia adia eleição a dois dias de votação; cresce temor de novos conflitos entre facções

Comissão eleitoral fala em ausência de bases constitucionais para realização do pleito, previsto para sexta-feira (24)

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Trípoli | Reuters

O Parlamento da Líbia anunciou nesta quarta-feira (22) o adiamento das eleições presidenciais que estavam marcadas para ocorrer na sexta-feira (24). O pleito, projetado como o desenrolar mais importante de um processo de paz no país do Norte da África, foi inicialmente postergado para daqui a um mês.

A comissão eleitoral afirmou que havia impossibilidade de realizar as eleições, que já foram alvo de disputas internas nos últimos meses, quando diversos candidatos, entre os quais o filho do ditador Muammar Gaddafi, morto em 2011, foram impedidos de concorrer à Presidência.

Guarda em frente ao prédio da Alta Comissão Eleitoral Nacional, em Benghazi
Guarda em frente ao prédio da Alta Comissão Eleitoral Nacional, em Benghazi - Esam Omran Al-Fetori - 16.dez.21/Reuters

A realização do pleito é resultado de um processo mediado pelas Nações Unidas para encerrar o caos social e os conflitos entre facções do leste e do oeste do país de pouco mais de 6,8 milhões de habitantes.

Após um acordo de cessar-fogo ser assinado em outubro de 2020, um governo de transição foi estruturado para governar a Líbia até que eleições fossem realizadas neste mês. Muitos líbios já tinham se registrado para obter o título de eleitor e ir às urnas, o que partidos de todos os espectros políticos caracterizaram como um sinal contundente de desejo de participação popular.

Ainda assim, existiam temores de que o pleito alçasse um partido com bandeiras separatistas, que devolvesse a Líbia à divisão regional que levou a uma guerra sangrenta antes do cessar-fogo. Candidatos discutem se um adiamento mais longo ajudaria a estabelecer bases mais seguras para a votação.

A vice-representante especial das Nações Unidas para assuntos políticos na Líbia, Stephanie Williams, disse que estava se reunindo com participantes do fórum político que iniciou o processo eleitoral no ano passado e reiterou a necessidade de eleições livres, justas e confiáveis.

O embaixador dos EUA na Líbia, Richard Norland, disse, em comunicado, que o país está desapontado com o adiamento das eleições e pediu que os líderes líbios resolvam prontamente todos os obstáculos para a realização das eleições, como, por exemplo, a finalização da lista de candidatos aptos a concorrer.

"Neste momento crítico da trajetória da Líbia, é mais importante do que nunca que os líbios estejam vigilantes sobre a desinformação que só beneficia os que desejam interromper o progresso do país."

O adiamento das eleições fez crescerem os temores de que uma nova rodada de confrontos civis tenha início. O status do governo interino, que deveria se despedir na sexta, também tem sido questionado.

Até o momento, a despeito dos esforços da ONU, não houve acordo sobre a base constitucional para a eleição. O chefe da comissão eleitoral, Emand Sayeh, disse que o adiamento se justifica porque as regras não são adequadas para lidar com disputas de elegibilidade.

Os candidatos mais proeminentes foram, também, os que tiveram seus nomes envolvidos em polêmicas: o militar Khalifa Haftar, o filho de Gaddafi, Saif al-Islam, e o premiê interino, Abdulhamid al-Dbeiba.

Ativistas locais protestam em frente a um prédio da administração pública da Líbia pedindo que as eleições não sejam adiadas - Mahmud Turkia - 15.dez.21/AFP

Haftar, líder do Exército Nacional da Líbia, é rechaçado por muitos moradores do oeste do país por ter liderado ataques à capital, Trípoli, que destruíram partes da região há pouco mais de um ano. Ele fez diversas tentativas de unificar a Líbia sob seu controle e chegou a se proclamar líder do país em 2020.

O filho de Gaddafi, por sua vez, foi condenado por um tribunal líbio por crimes de guerra cometidos durante o levante popular contra seu pai e também é procurado pelo Tribunal Penal Internacional desde 2011. Já Al-Dbeiba havia prometido, ao assumir o cargo de premiê, que não concorreria a uma eleição.

A Líbia vive profunda instabilidade desde o levante apoiado pela Otan (Organização do Tratado do Atlântico Norte), em 2011, que levou à morte do ditador Gaddafi.

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