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Ômicron: casos de Covid-19 disparam na África do Sul, mas gravidade é incógnita

Cientistas locais, porém, afirmam que ainda não há sinais de alerta; nova variante já está presente em mais de 20 países

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BBC News Brasil

A ômicron, nova variante do coronavírus, agora é dominante na África do Sul e está causando um forte aumento no número de novas infecções, segundo autoridades de saúde.

Cerca de 8.500 novos casos de Covid foram registrados, segundo o último dado referente ao total de infecções diárias. Esse valor é quase o dobro dos 4.300 confirmados no dia anterior. Há poucas semanas, em meados de novembro, as infecções registradas diariamente estavam em uma média de 200 a 300.

Enfermeiro da cidade de Dutywa prepara seringa com dose da vacina contra a Covid para ser aplicada - Siphiwe Sibeko - 29.nov.21/Reuters

A variante ômicron vem chamando a atenção de especialistas pela quantidade e variedade de mutações genéticas. Ainda há muitas dúvidas, no entanto, sobre a nova variante —como o nível de gravidade da infecção que ela causa e se ela será capaz de escapar do efeito das vacinas atualmente em uso.

A OMS (Organização Mundial da Saúde) classificou a ômicron como uma "variante de preocupação" e diz que evidências preliminares sugerem que existe um risco elevado de reinfecção. A variante já foi detectada em pelo menos 24 países ao redor do mundo, de acordo com a organização.

A África do Sul foi o primeiro país a detectar a variante. O Instituto Nacional de Doenças Transmissíveis da África do Sul disse que mais de 70% dos genomas de vírus sequenciados em novembro foram da ômicron.

Índia, Gana, Arábia Saudita e Emirados Árabes Unidos estão entre os mais recentes países a confirmarem seus primeiros casos da variante. Outros, incluindo Reino Unido, EUA e Alemanha, também já registraram pessoas infectadas pela variante. No Brasil, ao menos três casos ligados à ômicron foram confirmados.

Incógnitas

Nesse contexto, especialistas esperam aumento da taxa de novas infecções nesta quarta onda da Covid na África do Sul, e o Departamento de Saúde afirma que houve um ligeiro aumento nas internações.

Para Nick Triggle, correspondente de saúde da BBC, ainda é difícil dizer o que isso significa para o resto do mundo, dado que a África do Sul teve uma onda puxada pela mutante beta, que não decolou fora do país.

O epidemiologista Salim Abdool Karim, da Africa Task Force for Coronavirus (força-tarefa da África contra o coronavírus), diz que, como aconteceu com as variantes beta e delta, o panorama completo na África do Sul não ficará claro até que "as pessoas fiquem tão doentes que precisem ir ao hospital", o que geralmente ocorre "três, quatro semanas depois". "Mas o feedback que estamos recebendo é que realmente não há sinais de alerta —não estamos vendo nada dramaticamente diferente, o que estamos vendo é o que estamos acostumados", disse ele ao programa Newsday da BBC.

Cientistas e autoridades do mundo todo estão atentos ao que ocorre no sul da África, na busca de entender as características e os possíveis efeitos da nova variante.

A médica sul-africana que primeiro identificou a nova variante ômicron do coronavírus, Angelique Coetzee, disse que os pacientes infectados até determinado momento mostraram "sintomas extremamente leves" —mas explicou que mais tempo ainda é necessário para avaliar o efeito em pessoas vulneráveis.

Especialistas vêm alertando que ainda não há elementos suficientes para determinar se a nova variante tende a gerar infecções mais ou menos graves. Na quarta-feira (1°), a líder técnica da OMS para a Covid-19, Maria Van Kerkhove, destacou que ainda é cedo para entender as propriedades da variante e que a entidade está avaliando dados enviados diariamente por diferentes países.

Ela disse haver indícios de que a variante é mais transmissível, mas que mais estudos são necessários. "Esperamos ter mais dados sobre a transmissão em alguns dias, não necessariamente em semanas."

A especialista evitou comentar o nível de gravidade da variante, também por falta de informações. "Temos visto relatos de casos da ômicron que vão desde uma doença leve até uma doença grave. Há alguma indicação de que alguns dos pacientes estão apresentando doença leve, mas, novamente, ainda é cedo."

A maioria das pessoas que foram hospitalizadas na África do Sul não foi vacinada contra o coronavírus, de acordo com o NICD. Não há escassez de vacinas no país, e o presidente Cyril Ramaphosa pediu que mais pessoas fossem vacinadas, dizendo que essa continua a ser a melhor maneira de combater o vírus.

Cerca de 24% dos sul-africanos já foram totalmente vacinados —muito mais do que a média de 6% registrada no continente africano em outubro, mas abaixo da última média europeia de 54%.

Restrições de viagem

Nos últimos dias, países ao redor do mundo restringiram viagens do sul da África à medida que detalhes da disseminação surgiram, o que levou o Ministério das Relações Exteriores da África do Sul a reclamar que estava sendo punido —em vez de aplaudido— por descobrir a variante. Ramaphosa se disse "profundamente desapontado" com as proibições de viagens, que ele descreveu como injustificadas.

O chefe da OMS, Tedros Adhanom, também alertou que as medidas estavam penalizando o sul da África.

O Brasil anunciou na última sexta (26) o fechamento de voos vindos de seis países do sul da África. E EUA, Canadá, União Europeia e Reino Unido estão entre os que anunciaram restrições a viagens e voos vindos de locais em que já há casos confirmados de infecção desse novo tipo de coronavírus.

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