Embaixador do Brasil nos EUA busca se aproximar de estados após tensão com Congresso

Nestor Forster teve encontros com governos de Carolina do Sul e Geórgia, que combatem vacinação obrigatória

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Washington

O embaixador do Brasil em Washington, Nestor Forster, tem apostado na aproximação com governos e entidades estaduais dos Estados Unidos, em uma estratégia para melhorar a interlocução e desviar da pressão que o Brasil tem sofrido no Congresso americano. Diversos parlamentares têm feito críticas duras ao presidente Jair Bolsonaro (PL) e pedido um esfriamento na relação entre os dois países.

Nos últimos meses de 2021, Forster fez ao menos quatro viagens. O diplomata alternou idas a estados governados por democratas, como Connecticut e Carolina do Norte, e viagens a áreas sob comando republicano, caso de Carolina do Sul e Geórgia, onde obteve mais resultados.

O embaixador do Brasil em Washington, Nestor Forster, posa ao lado do governador da Carolina do Sul, Henry McMaster, na assinatura de memorando de parceria entre o Brasil e o estado americano, em 28 de outubro de 2021. Foto: Nestor Forster no Twitter
O embaixador do Brasil em Washington, Nestor Forster (à dir.), posa ao lado do governador da Carolina do Sul, Henry McMaster, na assinatura de memorando de parceria entre o Brasil e o estado americano - 28.out.21/Nestor Forster no Twitter

Na Carolina do Sul, Forster assinou no final de outubro um memorando de entendimento para ampliar o comércio e a troca de investimentos entre o estado e o Brasil, no primeiro termo do tipo já fechado com um ente subnacional dos EUA —em 2020, negócios entre as duas partes movimentaram US$ 910 milhões.

Governador do estado, o republicano Henry McMaster é um crítico do presidente Joe Biden e tem combatido as medidas de vacinação obrigatória da Casa Branca para controlar a Covid. A Carolina do Sul foi um dos estados que processaram o governo federal e conseguiram barrar a exigência na Justiça.

"Estamos chocados com os excessos do governo Biden. Nenhum morador da Carolina do Sul deveria ter de escolher entre seu emprego e uma vacina contra a Covid-19", disse o governador, em novembro. Ele também assinou um decreto para proibir órgãos estaduais de exigir a vacinação de funcionários.

O republicano se coloca ainda como defensor de pautas conservadoras. Pediu ao superintendente de educação do estado que investigue denúncias de livros com "trechos obscenos" em bibliotecas de escolas públicas; como exemplo, citou queixas de pais sobre a obra "Gender Queer: A Memoir", de Maia Kobabe, HQ sobre transição de gênero. Ele também defende que a Suprema Corte revogue o direito ao aborto.

Na Geórgia, cujo governo também processou a Casa Branca para suspender as exigências de vacinação, Forster se reuniu em novembro com representantes dos departamentos estaduais de Agricultura e Desenvolvimento. À Folha Pat Wilson, comissário do Departamento de Desenvolvimento Econômico, destacou a relação do estado com o Brasil, já que Geórgia tem um escritório em São Paulo há 25 anos.

"Muitas empresas brasileiras empregam milhares de georgianos. Negócios da Taurus [fabricante de armas], da Guidoni [de extração de rochas ornamentais] e da Embraer [aviação] se tornaram parte importante da nossa comunidade", afirmou ele.

Já em estados sob comando democrata, como Carolina do Norte e Connecticut, a agenda do embaixador se concentrou em visitas a fábricas —como a da Gerdau—, universidades e centros de pesquisa locais. "Assim como o Brasil, os EUA são um país complexo, de grande diversidade regional, e é importante que a embaixada busque ampliar sua presença junto a comunidades locais", disse Forster.

As visitas fazem parte de um plano para ampliar a interlocução do Brasil com estados americanos e buscar mais parceiros fora de Washington. A determinação foi encorajada por Bolsonaro, que antes da pandemia também fez visitas aos EUA em cidades afastadas da capital.

O presidente esteve na Flórida em 2020 e foi ao Texas um ano antes —para receber um prêmio que seria entregue inicialmente em Nova York. A cerimônia, porém, foi alterada após pressão pública do então prefeito, o democrata Bill de Blasio, para que Bolsonaro não fosse à cidade. Os movimentos também buscavam reforçar o alinhamento com o ex-presidente Donald Trump; o brasileiro fez campanha aberta pela reeleição do republicano, que acabou derrotado por Biden em novembro de 2020.

Para Fernanda Magnotta, pesquisadora do Cebri (Centro Brasileiro de Relações Internacionais), a atuação de Forster pode ser parte de um novo cenário global, no qual líderes locais ampliam a atuação internacional, e uma resposta às ações recentes de governadores brasileiros. "Eles tomaram a frente na importação de vacinas e buscaram protagonismo em agendas como a do ambiente. Em Glasgow [na COP26], havia a delegação brasileira e representantes dos estados, muitas vezes dissonantes", avalia.

Funcionários da embaixada também esperam que as viagens estaduais ajudem a fortalecer as relações com parlamentares americanos no Congresso. Forster teve reuniões recentes com o senador republicano Lindsey Graham, da Carolina do Sul, e com o deputado democrata Bill Keatind, de Massachussets.

O governo brasileiro tem sido alvo de críticas no Congresso dos EUA. Desde setembro, democratas enviaram ao menos três cartas ao governo Biden, pedindo distanciamento na relação entre os países. Na mais recente delas, do começo de dezembro, oito senadores democratas pediram um "reset" diplomático e acusaram Bolsonaro de ser responsável pela alta no desmatamento e por ameaçar a democracia no país.

Os textos se inserem em um contexto de pressão feita por ativistas e grupos progressistas do partido do presidente americano. O embaixador respondeu aos críticos também com cartas, nas quais defendeu as ações de Bolsonaro e chegou a dizer que parlamentares americanos estavam mal informados.

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