Juíza se irrita com pedido de invasor do Capitólio para visitar família da namorada na Jamaica

Pedido foi protocolado exatamente um ano depois de um dos maiores atentados à democracia americana

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Belo Horizonte

No dia em que os EUA lembraram a marca de um ano do maior ataque recente à democracia do país, uma juíza do Distrito de Colúmbia foi direta ao julgar o pedido inusitado de um acusado de participação no ato. "Este tribunal não comemorará o aniversário de um ano do ataque ao Capitólio", escreveu Beryl Howell.

A magistrada analisou a solicitação de Anthony Williams, acusado de cinco crimes por envolvimento na invasão do Congresso por apoiadores de Donald Trump, para uma viagem de dez dias à Jamaica. O objetivo dele era visitar a família da namorada, com quem mantém um relacionamento "há mais de um ano". A promotoria já havia se manifestado contrária ao pedido.O caso foi revelado pelo BuzzFeed News.

Anthony Williams participou da invasão ao Capitólio, em 6 de janeiro de 2021
Anthony Williams participou da invasão ao Capitólio, em 6 de janeiro de 2021 - Reprodução

Na decisão, Howell usa por mais de uma vez um tom de sarcasmo, dizendo saber que sua negativa impactará o que seria "um importante passo na relação pessoal [amorosa]" do réu, "que deseja deixar o inverno de Michigan para passar dez dias no clima mais quente da Jamaica".

Ela ressalta, porém, que Williams "abdicou de sua irrestrita autorização para viagens internacionais quando [...], em 30 de dezembro de 2020, anunciou a intenção" de participar de agitações em Washington. Na data, enquanto Trump propagandeava alegações falsas de fraude na eleição que perdeu para Joe Biden, muitos apoiadores planejavam ações para o dia da confirmação do resultado no Congresso.

"Sim, estamos irritados e estamos indo ao Capitólio", escreveu Williams em um post no Facebook destacado na ação. Na decisão, Howell ainda lembra que, no dia do ataque, o réu se mostrou orgulhoso e satisfeito ao dizer que, junto com a multidão, havia "tomado [aquela] porra de prédio".

Apesar do vandalismo, do registro de ameaças a congressistas e de enfrentamentos com policiais —a invasão do Capitólio deixou cinco mortos—, ele tratou o dia como "o que mais se orgulha na vida".

A investigação descobriu a participação de Williams no ataque devido a publicações no Facebook feitas enquanto ele estava no prédio. Nos vídeos, aos quais o FBI teve acesso, ele fala do sucesso de entrar no Congresso e diz que "tempos extremos pedem medidas extremas". As imagens também o mostram ao lado de estátuas que ficam na sede do Legislativo americano.

Willians é acusado de cinco crimes, entre os quais entrar e permanecer num prédio ou terreno restrito, conduta desordenada e disruptiva em prédio ou terreno restrito e conduta desordeira no Capitólio.

O pedido de viagem não é inédito. De acordo com o BuzzFeed, em fevereiro um americano do Texas também acusado de participar da invasão solicitou autorização para ir ao México a trabalho.

Na ocasião, o promotor não se opôs, e o juiz do caso autorizou a viagem. O episódio revoltou muitos americanos, que acusaram o Departamento de Justiça de serem frouxos com os invasores. Nos EUA, é comum que magistrados autorizem o deslocamento de réus que respondem por crimes não violentos.

Um ano depois de uma multidão invadir o Congresso tentando cancelar o resultado da eleição que marcou a derrota de Donald Trump, os EUA já encontraram e puniram mais de 700 participantes do ataque.

A investigação envolve diversos órgãos federais. Em uma das frentes, o FBI tem feito um amplo trabalho para identificar e prender pessoas que participaram da invasão de fato. A grande quantidade de imagens, muitas delas publicadas em redes sociais pelos próprios ativistas, tem ajudado na tarefa.

Segundo dados do Departamento de Justiça, até 30 de dezembro cerca de 725 réus foram presos. Destes, mais de 225 foram processados por atacar ou impedir o trabalho de funcionários públicos, 10 por atacar profissionais de imprensa e 75 por entrar em área restrita com uma arma mortal.

Outros 40 foram processados por conspiração para obstruir ação do Congresso, impedir a ação da polícia ou atacar agentes. Dos réus, 165 se declararam culpados e 70 já foram julgados: 38 receberam penas de prisão —a mais dura delas foi de 5 anos e 3 meses.

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