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Racha em Honduras elege dois chefes do Congresso às vésperas de posse presidencial

Esquerdista Xiomara Castro assume nesta quinta-feira com Parlamento dividido e crise no partido

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Buenos Aires

Uma crise dividiu o Congresso de Honduras a dois dias da posse da nova presidente, a esquerdista Xiomara Castro. Em cerimônias separadas nesta terça-feira (25), dois líderes foram eleitos para chefiar a Casa, como se houvesse a instalação de duas legislaturas.

A confusão se deu devido a um racha no Libre (Libertad y Refundación), partido da líder eleita. Um grupo de 18 deputados dissidentes, com apoio de legendas de direita, escolheu Jorge Cálix como presidente, em uma reunião realizada num clube social em Zambrano, localidade turística próxima à capital Tegucicalpa.

Paralelamente, no edifício do Congresso, 65 parlamentares fiéis ao Libre —o Congresso hondurenho tem 128 deputados— ajudaram a eleger Luis Redondo, do Partido Salvador de Honduras, que apoia Xiomara.

Honduras elege dois presidentes do Congresso

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As posses dos deputados Luis Redondo, no Congresso, e Jorge Cálix, em um clube, nesta terça-feira (25) - Orlando Sierra/AFP e Divulgação/AFP

A presidente eleita acusa de traição os dissidentes de sua sigla. Ela capitaneou um movimento para expulsá-los da legenda e afirma que eles se aliaram ao conservador Partido Nacional —de Juan Orlando Hernández, que se prepara para deixar a chefia do Executivo— em troca de favores políticos.

JOH, como ele é chamado, é acusado nos Estados Unidos de ligação com o narcotráfico e vem buscando acordos que possam lhe conferir imunidade, evitando uma possível extradição a Washington.

Na sexta (21), os enfrentamentos entre as correntes do Libre resultaram em trocas de socos e pontapés no Congresso. Xiomara afirmou considerar Redondo o legítimo líder do Legislativo. "É necessário que parem de violentar nossa democracia. As decisões do povo têm de ser cumpridas de modo pacífico."

Enquanto isso, em Zambrano, Cálix, o escolhido entre os dissidentes, disse que "este Congresso falará por meio de atos e resultados". "Vamos fazer deste poder o mais transparente e a serviço dos hondurenhos".

Xiomara deve tomar posse na Presidência nesta quinta (27). Para a cerimônia estão previstas as presenças da vice-presidente dos EUA, Kamala Harris, do rei da Espanha, Felipe 6º, dos presidentes de El Salvador, Nayib Bukele, e do Panamá, Laurentino Cortizo, do Panamá, além da vice argentina, Cristina Kirchner. O México enviará o chanceler Marcelo Ebrard.

O governo Jair Bolsonaro (PL) não terá enviados, sendo representado pelo embaixador Breno da Costa.

Como mostrou a Folha, houve certo mal-estar diplomático com o fato de a hondurenha ter despachado convites aos ex-presidentes Luiz Inácio Lula da Silva e Dilma Rousseff, ambos do PT —o marido de Xiomara, Manuel Zelaya, governou o país e ficou refugiado na embaixada do Brasil após sofrer um golpe na época em que Lula estava no poder. Os petistas, porém, tampouco devem ir a Tegucigalpa.

Deputados Rassel Tome e Jorge Cálix trocam socos em sessão do Congresso - Orlando Sierra - 21.jan.22/AFP

A crise no partido e a existência de dois Congressos são fatores que por óbvio dificultam a agenda de reformas que a esquerdista vinha prometendo colocar em marcha desde a campanha.

Entre os principais desafios de Honduras estão a situação econômica —agravada pela pandemia e por catástrofes climáticas—, que teve uma contração do PIB de 9% em 2020. Segundo o Banco Mundial, mais de 55,4% da população vive abaixo da linha da pobreza. Associadas à violência da disputa entre "maras" (facções criminosas), essas cifras levam milhares de hondurenhos a tentarem emigrar para os EUA.

Uma das reformas prometidas por Xiomara e que o Partido Nacional deseja interromper no nascedouro é a que cria um órgão anticorrupção apoiado pelas Nações Unidas. O projeto é baseado em uma experiência que foi bem-sucedida na Guatemala e causou o impeachment do então presidente Otto Pérez Molina e a prisão dele e de outros funcionários corruptos da administração.

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