O premiê do Canadá Justin Trudeau anunciou nesta quarta-feira (23) que irá encerrar o estado de emergência imposto para conter os protestos de caminhoneiros contra a obrigatoriedade de vacinas no país.
"Depois de análise cuidadosa, estamos prontos para confirmar que a situação não é mais uma emergência. Por isso, o governo federal irá encerrar o uso da Lei de Emergências", afirmou o premiê em entrevista coletiva.
Trudeau também classificou a adoção da lei como "ponto de inflexão" e "coisa necessária e responsável a ser feita" para acabar com os atos, que paralisavam a capital Ottawa há três semanas.
Logo após o anúncio do premiê, o primeiro-ministro de Ontário, Doug Ford, também revogou o estado de emergência na província, que havia sido imposto antes da exceção na esfera federal.
A lei foi imposta no último dia 14, ocasião em que os protestos paralisavam o centro de Ottawa em meio a bloqueios em importantes pontos de comércio e transporte na fronteira do Canadá com os Estados Unidos.
Uma vez em prática, a legislação dava poder ao Executivo nacional para suspender liberdades civis para manter a ordem, como impedir reuniões públicas, restringir o movimento de pessoas e bloquear contas bancárias.
Segundo autoridades financeiras federais, contas de organizadores e participantes dos bloqueios já começaram a ser descongeladas.
Antes do atual período, o Canadá viveu momentos de exceção apenas nas duas grandes guerras e, em tempos de paz, na chamada Crise de Outubro, quando em 1970 o grupo separatista Frente de Libertação do Québec sequestrou um diplomata britânico. Curiosamente, o primeiro-ministro na ocasião era Pierre Trudeau, pai do atual premiê.
No último dia 18, quase 200 manifestantes que se recusavam a dispersar o protesto foram presos em Ottawa, já durante a vigência da Lei de Emergências, e o bloqueio na capital canadense foi encerrado.
Alguns dos presos usavam coletes à prova de balas e tinham granadas e outros fogos de artifício em suas malas e veículos, segundo a polícia local disse na ocasião.
Na quarta-feira anterior (16), a polícia já havia distribuído panfletos avisando que os caminhoneiros deveriam sair do centro da cidade ou seriam presos, mas a iniciativa não teve efeito.
Os atos, chamados pelos participantes de "comboios da liberdade", tiveram adesão de 15 mil pessoas, mas logo caíram para algumas centenas de veículos. Inicialmente contra a obrigatoriedade de vacinação, os protestos terminaram como foco de insatisfação contra Trudeau e se transformaram em uma das maiores crises vividas pelo premiê.
Os líderes autonomeados do movimento, alguns com histórico militar e em organizações de direita, orquestraram uma ocupação disciplinada e altamente coordenada, segundo reportagem do The New York Times.
O temor de radicalização política cresceu também com a adesão de representantes de movimentos da ultradireita, como os americanos Proud Boys (considerados terroristas no Canadá) e os conspiracionistas do QAnon.
A primeira e principal medida usadas pelo governo canadense para conter os protestos, depois da imposição da Lei de Emergências, foi a tentativa de bloquear o dinheiro do protesto organizado.
Financiados majoritariamente por plataformas de financiamento coletivo, os protestos receberam mais de 55% das doações vindas dos EUA. Alguns dos doadores listados em informações vazadas e analisadas pela rede pública CBC foram doadores das campanhas presidentes do ex-presidente Donald Trump, apoiado pelos grupos extremistas.
Nessas três semanas, o Canadá sofreu pressão do governo americano de Joe Biden para usar poderes federais e acabar com manifestações inspiradas na de Ottawa que impediam o tráfego de pessoas e mercadorias em pontos da fronteira com os EUA.
Pelo principal deles, a ponte Ambassador, que liga a canadense Windsor à americana Detroit, passam 10 mil veículos comerciais todos os dias carregando 25% de todo o comércio entre os dois países. Também lá a polícia agiu para desobstruir o fluxo de veículos, prendendo ao menos 25 pessoas.
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