Canadá prende ao menos 170 manifestantes antivacina em operação para dissolver atos

Bloqueio paralisa Ottawa, a capital do Canadá, por três semanas e se tornou uma das maiores crises do mandato de Justin Trudeau

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Ottawa | AFP e Reuters

A polícia canadense usou spray de pimenta e granadas de efeito moral neste sábado (19) e fez outras dezenas de prisões para encerrar um bloqueio que há três semanas paralisa Ottawa, a capital do Canadá, e se tornou uma das maiores crises do mandato do premiê Justin Trudeau. Pelo menos 170 pessoas foram detidas em dois dias, de acordo com a polícia.

O ato começou se opondo a medidas sanitárias decretadas para conter a pandemia de Covid-19 e acabou com manifestantes pedindo a queda de Trudeau. Pressionado, ele declarou estado de emergência nacional, o que permite ao governo usar a força contra os manifestantes.

Manifestante que participava de bloqueio antivacina é detido pela polícia de Ottawa, capital do Canadá - Scott Olson - 18.fev.22/AFP

Alguns dos presos no sábado usavam coletes à prova de balas e tinham granadas e outros fogos de artifício em suas malas e veículos, disse a polícia.

Funcionários faziam a limpeza da cidade e o reboque dos veículos estacionados na região, mas ainda havia risco de que os manifestantes mudassem de local, disse o chefe de polícia interino, Steve Bell.

"Estamos cientes dos manifestantes deixando a delegacia parlamentar e se locomovendo para os bairros vizinhos. Não vamos a lugar nenhum até que você tenha suas ruas de volta", disse Bell, dirigindo-se aos cidadãos de Ottawa.

Usando megafones, a polícia alertou a multidão para se dispersar ou ser presa. Pelo segundo dia, a polícia também pediu aos manifestantes que retirem as crianças da área.

Na sexta (18), imagens de televisão mostraram ao vivo a polícia efetuando as prisões. "Você deve cessar atividades ilegais e remover imediatamente seu veículo dos locais de protesto", declarou a polícia de Ottawa em um tuíte. "Qualquer pessoa dentro dos locais de protestos ilegais será presa."

Às 17h50 do horário local (19h50 em Brasília), a corporação anunciou que, devido à agressão de parte dos manifestantes, alguns dos quais tentaram desarmar os policiais, agentes a cavalo foram enviados para criar uma linha de separação entre a polícia e os manifestantes.

A Câmara dos Comuns, que tem sede na área ocupada pelos caminhões, cancelou excepcionalmente a sessão pela primeira vez desde o início dos protestos, por razões de segurança.

Tamara Lich e Chris Barber, dois dos principais líderes do bloqueio, foram detidos na noite de quinta (17). Os policiais algemaram Barber e o colocaram na traseira de um veículo, como mostrou um vídeo postado na página dos organizadores no Facebook. Mais tarde, outro vídeo, postado na página do grupo no Twitter, exiibiu a prisão de Lich.

Desde 28 de janeiro, os motoristas, acompanhados por milhares de manifestantes e cerca de 400 veículos, transformaram as ruas ao redor do Parlamento no centro de Ottawa em uma barulhenta área de protesto.

Os motoristas protestam contra a obrigatoriedade da vacina para os que trabalham na rota que liga o país aos EUA, mas muitos pediam também a queda de Trudeau.

Ameaças de multas e prisão ajudaram a convencer os manifestantes a se retirarem nesta semana de quatro pontos de fronteira dos EUA, onde também haviam se instalado.

"Estamos reforçando nossos recursos, desenvolvendo planos e nos preparando para agir. A ação é iminente", disse Bell na manhã da sexta. "Para aqueles envolvidos nos protestos ilegais, se você quiser sair sob seus próprios termos, agora é a hora de fazê-lo."

Na quarta (16), a polícia já havia distribuído panfletos avisando que os caminhoneiros deveriam sair do centro da cidade ou seriam presos, mas a iniciativa não teve efeito.

Os líderes autonomeados do movimento, alguns com histórico militar e em organizações de direita, orquestraram uma ocupação disciplinada e altamente coordenada, segundo reportagem do The New York Times.

A equipe inclui ex-policiais, veteranos militares e ativistas conservadores, colaboração que ajudou a transformar uma manifestação contra a obrigatoriedade das vacinas em uma força que desestabilizou a cidade e enviou ondas de choque por todo o Canadá.

Principal face pública da manifestação, a ex-instrutora de ginástica Tamara Lich desempenhou um importante papel na organização de uma campanha no site GoFundMe que arrecadou US$ 7,8 milhões (R$ 40,3 milhões) para os protestos antes que o site de vaquinhas a fechasse, após receber "relatos policiais de violência e outras atividades ilegais".

Lich tem laços com o Partido Maverick, pequeno grupo de centro-direita com sede em Calgary criado para promover a separação de três províncias do resto do país.

O ministro da Segurança Pública, Marco Mendicino, alertou nesta semana que uma parte dos manifestantes "tem uma forte ligação com uma organização de extrema direita que tem líderes em Ottawa". Ele se referia à prisão de 13 pessoas em Alberta, no começo da semana, ligadas ao bloqueio de um ponto da fronteira com o estado de Montana, nos EUA, que está desde então liberada.

Segundo a polícia, o grupo pertencia a uma pequena célula na província que planejava usar violência se os agentes tentassem desmobilizar o ato. Diversos armamentos, incluindo 13 armas de cano longo, revólveres, um facão, vários conjuntos de armaduras e uma grande quantidade de munição e revistas foram descobertos em trailers em Alberta.

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