Descrição de chapéu Folhajus

Ex-policial que trocou taser por arma e matou jovem negro nos EUA pega 2 anos de prisão

Promotoria pedia sentença de 7 anos; condenação de agentes em casos semelhantes é incomum no país

  • Salvar artigos

    Recurso exclusivo para assinantes

    assine ou faça login

Reuters

A ex-policial Kimberly Potter, 49, foi condenada a dois anos de prisão nos Estados Unidos, nesta sexta (18), pelo assassinato de Daunte Wright, homem negro morto aos 20 anos durante uma abordagem policial em abril do ano passado. A pena, mais leve do que a sentença de sete anos pleiteada pelos promotores do caso, será cumprida dois terços na prisão e o tempo restante em liberdade condicional.

Potter alega ter confundido um taser, arma de choque usada para imobilizar pessoas em fuga, com sua arma de fogo durante a abordagem realizada em Brooklyn Center, no estado de Minnesota. Ela renunciou ao cargo dois dias após o episódio, que despertou grandes protestos na região, e estava presa desde que um júri a considerou culpada de duas acusações de homicídio culposo em dezembro.

Ilustração do rosto de Daunte Wright durante um protesto que pedia a condenação da ex-policial Kimberly Potter - Nicole Neri - 8.dez.21/Reuters

Daunte Wright foi abordado por Potter e outro agente enquanto dirigia porque portava um purificador de ar pendurado no retrovisor do carro, algo proibido pela legislação local. Os policiais constataram que o homem tinha um mandado de prisão em aberto e tentaram detê-lo, quando Wright resistiu e tentou se desvencilhar dos agentes.

Potter, uma mulher branca, então, atirou no jovem, como é possível ver nas cenas gravadas pela câmera acoplada ao uniforme da policial. Wright chegou a dirigir alguns quilômetros, até que bateu o carro em outro veículo e morreu no local. A juíza Regina Chu, do condado de Hennepin, responsável por proferir a sentença, descreveu Potter como "uma policial que havia cometido um erro trágico".

A magistrada afirmou que a policial foi obrigada a tomar uma decisão em frações de segundo durante uma abordagem "caótica e tensa" e que as evidências apresentadas no julgamento justificam o uso de um taser para proteger outro policial que estava no local e tentava entrar no carro para conter Wright. Acrescentou, porém, que o homem foi morto devido à imprudência de Potter, que confundiu as armas.

A mãe de Wright, que conversou com o filho ainda durante a abordagem policial, por telefone, criticou a sentença, que descreveu como branda. "Kimberly Potter assassinou meu filho em 11 de abril [de 2021], e hoje o sistema de Justiça o assassinou de novo", disse Katie Wright a repórteres após a audiência de sentença. "Lágrimas de uma mulher branca conseguiram se sobrepor à justiça."

Os promotores pediram pena de prisão de 86 meses, ou sete anos e dois meses, seguindo as diretrizes estaduais sobre crimes de homicídio culposo. A ex-policial Potter, que não recorreu da condenação e não deu indícios de que pretende apelar da sentença, disse antes de a pena ser anunciada que sentia muito por ter machucado a família de Wright. "Meu coração está partido e arrasado."

Já a defesa da ex-agente pediu que a juíza considerasse que Wright havia resistido à prisão, rotulando-o de agressor, e disse que Potter sentia remorso pelo crime não intencional. Os advogados também mencionaram a falta de antecedentes criminais durante os 26 anos em que ela foi policial, acrescentando que teria baixo risco de reincidência no sistema criminal, mesmo porque não está mais na polícia.

A morte de Wright desencadeou várias noites de protestos em Brooklyn Center. O assassinato ocorreu em meio ao processo de julgamento de Derek Chauvin, ex-policial que matou George Floyd asfixiado. O local da abordagem policial também estava a apenas 20 quilômetros de onde Floyd foi morto, o que impulsionou a onda de atos contra a violência policial e o racismo estrutural nos EUA.

A juíza Chu disse que as ações da ex-agente Potter não podem ser comparadas às de Chauvin, que prensou o pescoço de Floyd com seu joelho por mais de nove minutos até que ele deixasse de respirar. Ele foi, posteriormente, sentenciado a 22 anos e meio de prisão.

Não é usual que policiais sejam condenados e sentenciados nos EUA em casos que envolvem mortes durante abordagens policiais, em especial quando os agentes alegam que confundiram seus tasers com uma arma de fogo. Um levantamento do jornal americano The New York Times mostra que, em 15 casos nas últimas duas décadas em que policiais disseram ter confundido as armas, apenas três foram condenados por um crime, entre eles dois que chegaram a matar as vítimas.

Com The New York Times

  • Salvar artigos

    Recurso exclusivo para assinantes

    assine ou faça login

Tópicos relacionados

Leia tudo sobre o tema e siga:

Comentários

Os comentários não representam a opinião do jornal; a responsabilidade é do autor da mensagem.