Príncipe Andrew faz acordo na Justiça em caso de escândalo sexual

Filho da rainha Elizabeth 2ª é acusado de ter mantido relações sexuais com menor de idade há 20 anos

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Nova York | Reuters

O príncipe Andrew, filho da rainha Elizabeth 2ª, chegou a um acordo judicial com Virginia Roberts Giuffre, mulher que o acusa de ter mantido relações sexuais com ela quando era menor de idade, anunciaram os advogados do caso nesta terça-feira (15).

O duque de York, que renunciou a seus títulos militares no Reino Unido após a denúncia, teria feito um acordo extrajudicial com Giuffre, cujo valor total não foi divulgado, e se comprometido a fazer uma doação substancial para a instituição de caridade administrada por ela, que hoje vive na Austrália.

O príncipe Andrew, do Reino Unido, em uma igreja - Chris Radburn - 19.jan.2020/Reuters

O documento diz ainda, segundo a rede britânica BBC, que Andrew "nunca teve a intenção de difamar o caráter de Giuffre" e que reconhece que ela sofreu tanto como uma vítima de abuso quanto como de "ataques públicos injustos" dos quais foi alvo.

Uma relação sexual com Giuffre teria sido oferecida ao príncipe pelo bilionário Jeffrey Epstein, que se suicidou em uma prisão nos Estados Unidos, em 2019, enquanto aguardava julgamento por acusações de tráfico sexual de menores e conspiração criminosa para traficar menores para explorá-los.

De acordo com o advogado David Boies, da acusação, ambas as partes informaram ao juiz responsável pelo caso que um acordo provisório foi firmado e que solicitam, portanto, o arquivamento do processo. Eles pedem que o magistrado suspenda a ação movida por Giuffre.

O acordo ocorre poucas semanas após Andrew ser convocado para prestar depoimento e ser interrogado pelos advogados de acusação. O julgamento nos EUA era esperado para ocorrer ainda nesta ano. Ele não admitiu nenhuma das acusações feitas pela mulher de 38 anos.

Ainda assim, no documento tornado público nesta terça é possível notar um tom incomum adotado pelo príncipe. No texto, a defesa afirma que é de conhecimento público que Jeffrey Epstein traficou inúmeras jovens ao longo de muitos anos e que o príncipe Andrew lamenta sua associação com o bilionário e elogia a coragem de Giuffre e de outras sobreviventes em se defender judicialmente.

Foto feita na época em que Virginia Giuffre alega ter sido abusada mostra ela, o príncipe Andrew e, ao fundo, Ghislaine Maxwell, ex-namorada de Jeffrey Epstein
Foto feita na época em que Virginia Giuffre alega ter sido abusada mostra ela, o príncipe Andrew e, ao fundo, Ghislaine Maxwell, ex-namorada de Jeffrey Epstein - Tribunal Distrital do Distrito Sul de Nova York via AFP

Por anos, o filho da rainha Elizabeth 2ª manteve relação próxima com Epstein e com Ghislaine Maxwell, ex-namorada do americano que, no final de 2021, foi condenada pela Justiça dos EUA em cinco acusações, por recrutar jovens e ajudar o investidor a abusar delas.

No processo, que, ao que tudo indica, deve ser encerrado, Giuffre alega que Andrew manteve relações quando ela tinha 17 anos. Os abusos teriam ocorrido na mansão de Epstein em Manhattan e em uma ilha do bilionário. Diz ainda que Andrew, Epstein e Maxwell forçaram Giuffre a fazer sexo com o príncipe numa mansão em Londres.

Descrever Giuffre como corajosa contrasta com termos usados há poucos meses pelos advogados do príncipe. Quando pediram a um tribunal americano que arquivasse o processo —demanda que foi negada—, eles alegaram que se tratava de um caso infundado e que ela organizava um esforço de longa data para lucrar com as alegações.​

Em entrevista à BBC em 2019, na tentativa de minimizar as acusações, com resultado que foi o oposto do esperado, Andrew também adotou outro comportamento. Questionado sobre se lamentava o relacionamento com Epstein, que continuou mesmo depois de o empresário ter cumprido pena de prisão por ter aliciado uma menor, ele respondeu: "Se eu lamento o fato de que ele muito obviamente se comportou de maneira indecorosa? Sim".

"Indecorosa?", retrucou a entrevistadora, em tom incrédulo. "Ele era criminoso sexual." O príncipe voltou atrás rapidamente, dizendo: "Sim, sinto muito, estou sendo educado. Quero dizer, no sentido de que ele era criminoso sexual." Andrew também não conseguiu explicar uma foto feita em Londres, que aparentemente o mostra com o braço em volta da cintura descoberta da adolescente, com Ghislaine Maxwell sorrindo em segundo plano.

Lisa Bloom, advogada que representa oito mulheres que acusam Epstein em diferentes processos, celebrou o acordo em uma rede social. Ela afirmou que Giuffre conseguiu fazer com que Andrew deixasse falsas alegações de lado e ficasse do lado das vítimas de abuso. "Saudamos a coragem impressionante de Virginia", diz a mensagem.

O escândalo envolvendo Andrew foi um dos que pesaram em torno do Jubileu de Platina de Elizabeth 2ª, em que a rainha deu início às comemorações por seus 70 anos de reinado, no início deste mês.

Quando o escândalo se agravou, em 2019, ele tomou a decisão de não mais assumir compromissos públicos em nome da monarquia. A pressão para que o príncipe se afastasse das atividades da família real britânica veio não só do público, mas também das Forças Armadas. Mais recentemente, após a publicação de uma carta aberta em que mais de 150 veteranos se diziam irritados e pediam à rainha que tirasse de Andrew suas funções militares, ele abriu mão dos títulos.

O príncipe serviu na Marinha Real por duas décadas, inclusive como piloto de helicóptero durante a guerra das Malvinas, contra a Argentina, em 1982. Os cargos honorários que perdeu incluem vários no exterior, como um título de coronel chefe do regimento logístico do Exército Real da Nova Zelândia.

Nesta terça, procurados para comentar o anúncio do acordo, o Palácio de Buckingham e representantes de Andrew não responderam.

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