Rússia proíbe rede alemã Deutsche Welle de operar no país após Berlim bloquear canal da russa RT

Chancelaria da Alemanha diz que retaliação de Moscou prejudica jornalismo e fragiliza relação entre países

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Moscou | Reuters

O governo de Vladimir Putin anunciou nesta quinta-feira (3) a proibição dos trabalhos da rede de comunicação pública alemã Deutsche Welle na Rússia. As credenciais de jornalistas foram retiradas, e a sucursal, baseada em Moscou, será fechada. O Kremlin pretende, ainda, classificar a empresa como "agente estrangeiro".

A medida vem como retaliação após Berlim bloquear o canal da emissora estatal russa RT, devido a questões ligadas a licenças de transmissão. O Ministério das Relações Exteriores da Rússia descreveu a ação como hostil e disse que também impediria a entrada no país de autoridades alemãs que participaram da decisão.

Repórter em manifestação solitária pela liberdade de imprensa em Moscou, com um cartaz em que se lê 'nós não paramos de ser jornalistas', no ano passado; a Rússia proibiu nesta quinta a rede alemã DW de operar no país - Natalia Kolesnikova - 21.ago.21/AFP

Em resposta, a chancelaria alemã disse que a medida russa é infundada e fragiliza as relações entre os países. "Se essas medidas forem realmente implementadas, limitaria as reportagens independentes na Rússia, o que é importante em tempos politicamente tensos", disse um porta-voz da pasta.

Claudia Roth, ministra alemã da Cultura e da Mídia, classificou a ação contra a DW de inaceitável e pediu que Moscou não "abuse dos problemas de licenciamento da RT como uma reação política".

A tensão envolvendo o veículo público de radiodifusão se dá em meio à escalada da crise no entorno da Ucrânia, onde estão posicionadas tropas russas. A Alemanha tem assumido papel secundário nas negociações diplomáticas, uma vez que está atrelada à Rússia devido ao gasoduto submarino Nord Stream 2, que liga os dois países. O Kremlin informou, também nesta quinta, que uma viagem do premiê alemão, Olaf Scholz, a Moscou está prevista, mas sem data confirmada.

A Deutsche Welle disse que se manifestou formalmente contra o fechamento da sucursal. O diretor-geral da empresa, Peter Limbourg, afirmou que as medidas adotadas pelos russos são absurdas e se assemelham ao que a mídia profissional enfrenta em autocracias.

"Até que sejamos oficialmente notificados das medidas, continuaremos a informar de nossa sucursal em Moscou. Mesmo que eventualmente tenhamos que fechá-la, isso não afetará nossa cobertura sobre a Rússia —pelo contrário, nesse caso a fortaleceríamos significativamente."

A DW goza de licenças oficiais para transmitir dois canais de TV na Rússia desde 2005, um em inglês e outro em alemão, segundo informações da própria emissora. As licenças atuais expirariam em 2025 para o canal em inglês e em 2027 para o em alemão. Este segundo ainda transmite de duas a quatro horas de programação diária em russo, como exigem as condições para a concessão da licença.

Hendrik Wuest, governador da Renânia do Norte-Vestfália, estado alemão onde a DW está sediada, caracterizou a ação russa como um ataque à liberdade de imprensa e disse condená-la veementemente. A Associação Alemã de Jornalistas (DJV, na sigla em alemão) pediu que Putin retire imediatamente a proibição da DW. "Não há justificativa para essa medida drástica de censura", disse, em comunicado.

O anúncio de bloqueio das atividades da DW é a primeira medida do tipo contra um grande veículo de comunicação ocidental desde a dissolução da União Soviética, segundo a agência de notícias AFP.

Durante três décadas, Moscou não havia atacado jornais estrangeiros, ainda que Putin, no poder há 20 anos, tenha tomado progressivamente o controle do setor de comunicação do país. No ano passado, porém, um jornalista da rede britânica BBC e um repórter holandês foram expulsos da Rússia.

O prêmio Nobel da Paz de 2021 foi entregue a um jornalista russo, Dmitri Muratov, ao lado da filipina Maria Ressa. Muratov é cofundador e editor-chefe do Novaia Gazeta, um dos principais jornais de oposição ao governo de Putin. O comitê norueguês do Nobel descreveu o veículo como o mais independente da Rússia atualmente, e laurear o jornalista foi uma forma de acenar em defesa da liberdade de imprensa no país.

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