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Rússia conclui gasoduto que amplia relação com Europa, atrapalha EUA e afeta Ucrânia

Motivo de tensões geopolíticas, Nord Stream 2 pode entrar em operação até o final do ano

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BAURU (SP)

Após anos de obras, disputas geopolíticas e obstáculos impostos por sanções americanas, a empresa Gazprom concluiu a construção do gasoduto submarino Nord Stream 2.

Os mais de 1.200 km em tubulações ligam a Rússia à Alemanha sob o mar Báltico e permitirão que o país de Vladimir Putin duplique suas lucrativas exportações de gás para a Europa. Ao mesmo tempo, atingem a rival Ucrânia e atrapalham interesses dos Estados Unidos.

Atualmente, e pelo menos até o final de 2024, a Rússia paga cerca de US$ 1,5 bilhão (R$ 7,8 bi) por ano à Ucrânia pelo trânsito do gás em seu território. Uma extensão no contrato foi condicionada por Putin à demonstração de "boa vontade" de Kiev.

Etapa final da construção do gasoduto Nord Stream 2 - 8.set.21/Nord Stream/Handout via Reuters

Após o anúncio feito pela Gazprom, no entanto, a Presidência ucraniana divulgou um comunicado em que afirma que o país "lutará contra esse projeto político russo até o fim e, inclusive, depois que começar o fornecimento de gás".

Segundo o site oficial da empresa russa, os primeiros estudos sobre a viabilidade da construção do Nord Stream 2 começaram em 2012. A construção de fato foi iniciada em 2018, mas o avanço do projeto avaliado em US$ 11 bilhões (R$ 57,4 bi) foi interrompido em 2019, quando faltavam apenas 150 km para a conclusão do gasoduto.

À época, o então presidente dos EUA, Donald Trump, impôs sanções contra as empresas envolvidas na obra, forçando a interrupção da construção. Os trabalhos foram retomados um ano depois, com a contratação de embarcações próprias da Rússia.

A nova rota do gás russo espelha o primeiro Nord Stream. Juntos, os dois gasodutos pelo mar Báltico têm capacidade de exportar 110 bilhões de metros cúbicos por ano, o que representa quase metade do total das exportações de gás natural da Rússia para países europeus —a Gazprom já responde por mais de um terço do mercado da região.

Para os EUA, no entanto, o projeto gigantesco é também um obstáculo econômico. A oposição de Washington se baseia no fato de que as operações do Nord Stream 2 aumentarão a dependência da Europa em relação a Moscou. Nesse sentido, os americanos têm tentado aumentar suas vendas de gás natural para os europeus —descrevendo seu produto, inclusive, como "moléculas de liberdade".

Quando assumiu a Casa Branca, o presidente Joe Biden desistiu de bloquear o projeto por considerar que era tarde demais para frear a Gazprom. Na visão do governo democrata, seria mais interessante apostar na aliança com a Alemanha, a maior economia da Europa, de quem os EUA esperam obter respaldo em outras frentes.

No mês passado, a primeira-ministra alemã, Angela Merkel, afirmou que seu país fará tudo o que for possível para que o contrato entre Rússia e Ucrânia seja prorrogado e reiterou pedidos para que Moscou não use a questão energética como uma arma geopolítica. Para Berlim, no entanto, as operações do Nord Stream 2 são, sobretudo, um projeto econômico que ajudará o país a cumprir suas metas de transição energética.

Na Ucrânia, o anúncio do fim das obras foi recebido com algum nível de ceticismo. "Construído não significa posto em operação", disse Olha Belkova, gerente da operadora de gasodutos do país, em entrevista à agência de notícias Reuters. Segundo analistas ucranianos ouvidos pela agência, ainda levará tempo até o gás fluir pelos tubos no mar Báltico, e a falta de uma reação mais expressiva do mercado indica que nenhuma operação comercial nesse sentido é esperada no curto prazo.

Nesta quinta-feira (9), a Rússia disse que o abastecimento de gás por meio do novo gasoduto não começará até que receba luz verde dos órgãos reguladores alemães, que afirmaram não ter previsão para a certificação. Segundo o consórcio que administrou o projeto, no entanto, o objetivo é deixar tudo pronto para iniciar as operações do Nord Stream 2 antes do final do ano.

Para Moscou, a conclusão das obras é um trunfo diplomático. O porta-voz do Kremlin disse que a certificação do gasoduto é um desejo de todos e pediu que ele entre em funcionamento "o mais rapidamente possível".

O projeto terá que lidar ainda com novas regras comerciais impostas pela União Europeia. O bloco exige, por exemplo, que os proprietários de gasodutos sejam diferentes dos fornecedores de gás que neles circulam para garantir uma concorrência justa.

A Gazprom apresentou recursos contra essas exigências e, segundo analistas, tem feito manobras no sentido de não aumentar a oferta de gás na Europa a despeito do aumento na demanda. Seria uma forma de pressionar o bloco e "provar que a Europa enfrentará um mercado de gás menos sem o Nord Stream 2", disse Dmitri Marintchenko, da agência Fitch, em entrevista à AFP.

Com AFP e Reuters

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