Descrição de chapéu Rússia

Macron negocia com Putin, que recebe nova ameaça de Biden na crise da Ucrânia

Enquanto líderes fazem rodada diplomática, separatistas do Donbass pedem ajuda para a Rússia

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São Paulo

Em uma segunda-feira coalhada de movimentos diplomáticos em torno da crise na Ucrânia, os presidentes Emmanuel Macron e Vladimir Putin disseram ter encontrado pontos em comum para negociar, enquanto Joe Biden ampliou suas ameaças caso a Rússia invada o vizinho.

Ao mesmo tempo, parte central e ausente até aqui da crise de segurança na Europa, os separatistas étnicos russos do leste da Ucrânia fizeram uma entrada dramática no noticiário, alertando sobre o risco de guerra e pedindo ajuda à Rússia para reforçar suas posições.

Putin (esq.) conversa com o francês Macron em salão no Grande Palácio do Kremlin, em Moscou
Putin (esq.) conversa com o francês Macron em salão no Grande Palácio do Kremlin, em Moscou - Sputnik/AFP

Tudo isso se desenrolou entre Moscou, onde o francês se encontrou com o russo, Washington, onde o presidente americano recebeu o premiê alemão, Olaf Scholz, e Donetsk, onde falaram os rebeldes pró-Rússia.

O esforço mais vistoso foi o encenado no Grande Palácio do Kremlin, onde Macron passou horas no canto de uma mesa enorme falando com Putin —se imagem é tudo, o russo ganhou o dia ali. Em uma entrevista coletiva que ocorreu depois da meia-noite local, já na terça (8), ambos mantiveram um tom mais firme.

Putin reafirmou suas exigências para que a Otan (aliança militar ocidental) esqueça a Ucrânia, e Macron, que o Ocidente não aceita tal demanda. Mas deu uma senha: "Algumas de suas ideias, sobre as quais é provavelmente muito cedo para falar, acho que é bem possível que sejam a base de nossos próximos passos conjuntos".

Macron, desesperado por algum tipo de vitória diplomática para mostrar ao eleitorado que deve disputar nas urnas em abril, falou o mesmo e disse que ambos iriam conversar mais após ele visitar Kiev nesta terça. Nenhuma manchete bombástica, mas a manutenção de canais abertos em momento de alta tensão, com mais de 100 mil soldados russos ameaçando fazer valer a determinação de Putin de manter áreas-tampão entre si e o rival.

A França já faz parte do quarteto, com Ucrânia, Rússia e Alemanha, que tenta negociar a paz na Ucrânia desde 2014, quando Vladimir Putin anexou a Crimeia e deu apoio a separatistas no Donbass (leste do país) após a queda do governo pró-Moscou de Kiev.

Um tom menos positivo se viu nos EUA, onde Biden recebeu o novo chanceler alemão, que está sob intensa pressão por sua instância ambígua em relação à crise. A Alemanha é uma das maiores clientes europeias de gás natural russo, e está segurando a abertura de um novo megaduto para o produto desde o fim do ano.

"Se a Rússia invadir a Ucrânia, não haverá Nord Stream 2", disse Biden, citando o gasoduto central para os planos europeus de Putin. Scholz, questionado, apenas disse que EUA e Alemanha agiriam juntos no tema.

Berlim tem se recusado a fornecer armamentos letais aos ucranianos, e vetou inclusive voos com tais equipamentos do Reino Unido e EUA sobre seu território. O máximo que fez foi anunciar o envio de 350 soldados a mais para o contingente que lidera na Lituânia, uma das quatro bases multinacionais da Otan na linha de frente com a Rússia.

Sua ministra das Relações Exteriores, Annalena Baerbock, está em Kiev ouvindo o mesmo sermão do seu homólogo, Dmitro Kuleba, e do presidente Volodimir Zelenski.

Ambos os líderes disseram estar "trabalhando juntos" para deter o que chamam de agressão russa. Como EUA e Otan rechaçaram o ultimato de Putin, o discurso segue na linha de que Moscou será punida com sanções caso avance a linha militar.

Novidade mesmo veio de duas entrevistas à agência Reuters dada por líderes separatistas.

Numa delas, o presidente da autoproclamada República Popular de Donetsk, baseada na cidade homônima, afirmou que "uma guerra total pode acontecer a qualquer momento". "Não descartamos ser forçados a nos virar para a Rússia caso a Ucrânia ultrapasse certos limites", disse Denis Puchilin.

Ao mesmo tempo, ele disse que tal conflito seria "uma loucura". Mais cedo, havia sido a vez de Alexander Khodakovski, um influente e polêmico comandante militar de Donetsk, dizer que precisa de reforço militar do Kremlin.

"Nós temos 30 mil soldados, mas só 10 mil prontos para combate. Precisamos ao menos de 40 mil armados para a frente de batalha", disse. Ele elogiou o apelo feito por Andrei Turtchak, um dos líderes do Rússia Unida, partido de sustentação de Putin, para que os russos enviassem tropas e reforços para o Donbass.

Até aqui, Putin não jogou com essa carta na crise, iniciada quando Moscou deslocou talvez 130 mil homens e equipamentos para frentes em torno da Ucrânia.

O russo nega o intento de invadir, mas emitiu um ultimato com seus termos para a paz europeia, basicamente pedindo o fim da expansão da Otan, a começar pela renúncia de uma adesão ucraniana.

Desde 2014, é certo que forças russas operaram na região e entraram com equipamentos pesados, embora não seja dito publicamente de forma explícita. Até aqui, cerca de 700 mil passaportes russos foram emitidos para moradores da região, aumentando o laço com Moscou e reforçando o argumento de Putin de defesa de russos fora de seu território.

Por fim, o secretário de Estado americano, Antony Blinken, reuniu-se com o chefe da diplomacia da União Europeia, Josep Borrell, que saiu do encontro dizendo que a Europa vive "o momento mais perigoso desde a Guerra Fria, e isso não é alarmismo".

E em Bruxelas, o secretário-geral da Otan, o norueguês Jens Stoltenberg, manteve a fervura em alta dizendo que os reforços temporários em defesas no Leste Europeu, com o envio inicial de 3.000 soldados americanos e outras medidas, podem se tornar perenes. "Estamos considerando ajustes de longo prazo na nossa postura", afirmou​.​

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