Descrição de chapéu Rússia União Europeia

Guerra na Ucrânia: Na Otan, Ocidente insiste em 'arma econômica' para conter Putin

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São Paulo

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A guerra entre Rússia e Ucrânia completou um mês nesta quinta (24), dia em que líderes ocidentais —incluindo o presidente norte-americano Joe Biden— se reuniram para demonstrar coesão contra a invasão e anunciar um novo pacote de sanções econômicas ao governo de Vladimir Putin.

O temor de que o conflito ganhe dimensão mundial com uma resposta mais incisiva das potências, no entanto, manteve o tom de moderação da cúpula extraordinária da Otan, aliança militar liderada pelos Estados Unidos, realizada em Bruxelas.

Havia a expectativa de que a organização divulgasse um plano de ação para o caso de Putin utilizar armas de destruição em massa (nucleares, químicas ou biológicas). Mas a entidade apenas repetiu que esse cenário "teria grandes consequências".

Entenda: nos últimos dias, Otan e Biden haviam engrossado o discurso contra Putin, reiterando o risco de que a Rússia recorra a armas não convencionais diante da dificuldade atingir seus objetivos no território ucraniano. Moscou admite a possibilidade de usar esses armamentos em caso de "ameaça existencial" ao país, o que um eventual avanço da Otan poderia representar.

Emmanuel Macron, Olaf Scholz, Boris Johnson e o próprio presidente ucraniano, Volodimir Zelenski, que participou de forma virtual, fizeram discursos contra a Rússia.

"Para salvar as pessoas e as nossas cidades, a Ucrânia precisa de ajuda militar irrestrita. Assim como a Rússia usa todo o seu arsenal contra nós sem restrições", disse.

Os principais anúncios da aliança militar foram:

  • incrementar o envio de armas mais leves, como mísseis antitanque, à Ucrânia;

  • aumentar o apoio ao país em segurança cibernética e contra possíveis químicos, biológicos e nucleares;

  • reforçar a frente da Otan no Leste Europeu com quatro novos grupos de batalha em Bulgária, Hungria, Romênia e Eslováquia.

Além disso, Estados Unidos e Reino Unido anunciaram novas levas de sanções:

  • EUA: congelamento de ativos atinge cerca de 400 políticos, oligarcas e a indústria de defesa da Rússia;

  • Reino Unido: medidas afetam 59 pessoas e empresas russas e seis bielorrussas.

Às manifestações de apoio da comunidade internacional se somam a uma tentativa de exibição de força da Ucrânia feita poucas horas antes do encontro.

A Marinha da Ucrânia anunciou ter destruído ao menos um navio de desembarque de tropas, blindados e munições russos com um ataque de mísseis. A ofensiva foi em Berdiansk, porto a 75 km de Mariupol —cidade considerada estratégica pela Rússia para a abertura de uma ligação entre o país e a região da Crimeia, anexada por Putin em 2014.

Enquanto isso, a Rússia tenta demonstrar uma vitória parcial. Uma rede de TV estatal chamou Mariupol de parte da autoproclamada República Popular de Donetsk, uma região separatista pró-Rússia. A tentativa de conquista de cidades-chave da Ucrânia seguiu nesta quinta com o bombardeio de Kharkiv.

Segundo o governo local, o ataque, com armas de longo alcance, atingiu uma agência de correio próxima a um local onde moradores recebiam ajuda humanitária.

O que a Folha pensa: "Especula-se o óbvio: a guerra não vai bem para o presidente russo, pela lógica segundo a qual ele esperaria que o susto colocasse Kiev de joelhos, aceitando suas condições para desfigurar o país e torná-lo uma província amiga de Moscou", diz o jornal em editorial.

Não se perca

Para ajudar a entender em que ponto está a guerra e quais são suas possíveis consequências a partir do cenário atual, conversamos com Vinícius Rodrigues Vieira, professor de relações internacionais da Faap e da FGV.

Passado um mês da guerra, quão próximo está Putin de atingir seus objetivos declarados? Putin declarou que tinha como objetivo a "desnazificação" da Ucrânia (ele não especifica se isso significa derrubar Zelenski, que tem a simpatia de alguns grupos neonazistas) e a desmilitarização, ponto que também não está claro. Nesses casos, Putin está muito longe de atingi-los. Talvez o mais próximo, que a Rússia já entende como consumado, seria a tomada dos territórios do leste e do sul. O reconhecimento da Crimeia como território russo é algo com o qual os ucranianos não concordam.

O que resume a guerra nesses 30 dias é a percepção de que a Ucrânia não é tão fraca quanto nós, analistas, imaginávamos nem tampouco a Rússia é tão forte. Mas a Rússia não é forte o suficiente para derrotar a Ucrânia nem a Ucrânia consegue derrotar a Rússia, mas resiste à invasão. Isso faz com que o conflito tenda a se prolongar.

Como avalia a atuação da Otan, de Biden e da União Europeia? Biden e União Europeia vivem o dilema do prisioneiro. Se eles apoiam a Ucrânia de maneira mais explícita, com tropas, eles desencadeiam a Terceira Guerra Mundial —embora o conflito já tenha consequências globais. Restou a eles converter o domínio econômico do Ocidente em arma de guerra. Esse domínio, no curto prazo, machuca a Rússia. Mas, no longo prazo, a China, que faz vista grossa para o que Putin está fazendo, deve explorar oportunidades de mercado, oferecendo uma alternativa para que a Rússia continue a comercializar com o restante do mundo pelo Cips, o "Swift" da China.

O Ocidente tem pouco o que fazer, porque já não concentrava, antes da guerra, mais o poder militar. Concentra o poder econômico, mas não é o único ator relevante no mundo. As sanções só seriam efetivas se houvesse a colaboração da China.

Que rearranjo geopolítico podemos esperar disso? As sanções empurram a Rússia em definitivo para a esfera de influência da China. Talvez estejamos no início de um processo de fragmentação da ordem internacional, com blocos regionais que podem se movimentar cada vez mais rumo à influência de Pequim, em um cenário em que talvez não tenhamos mais o dólar como moeda internacional.

O que aconteceu nesta quinta (24)

  • EUA anunciaram plano de acolhimento de até 100 mil ucranianos;

  • Rússia bloqueia Google News e diz que ferramenta distribui conteúdo falso sobre a guerra;

  • Ucrânia atacou porto ocupado pela Rússia e disse que destruiu navio​;

  • Com voto do Brasil, Assembleia da ONU aprovou 2ª resolução contra invasão.

Imagem do dia

O presidente dos EUA, Joe Biden, toca no ombro do chanceler alemão Olaf Scholz na frente do conselheiro europeu Charles Michel (de óculos)
O presidente dos EUA, Joe Biden, toca no ombro do chanceler alemão Olaf Scholz na frente do conselheiro europeu Charles Michel (de óculos) durante a cúpula da Otan que discutiu a situação da Ucrânia - Johanna Geron/Reuters

O que ver e ouvir para se manter informado

Os efeitos diretos e colaterais do conflito em um vídeo e um podcast.


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