Putin avança para isolar Ucrânia do mar, e Kiev volta a ser bombardeada

Campanha militar russa, com vários reveses, tenta redesenhar mapa do vizinho invadido

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São Paulo

O nono dia da invasão russa da Ucrânia viu a retomada dos bombardeios à periferia de Kiev e um avanço que indica o desejo de Vladimir Putin de cortar o acesso do país ao mar Negro.

Não houve, contudo, nenhum grande movimento até o começo da noite (tarde no Brasil). "Essa guerra pode não acabar logo", disse o secretário de Estado americano, Antony Blinken, uma certa obviedade.

Prédio atingido por bombardeio russo em Tchernihiv, no qual morreram ao menos 47 pessoas
Prédio atingido por bombardeio russo em Tchernihiv, no qual morreram ao menos 47 pessoas - Dimitar Dilkoff/AFP

Mas a dinâmica do dia pode ou não ter a ver com as negociações feitas com o Comitê Internacional da Cruz Vermelha para ajustar os parâmetros do corredores humanitários. Acertados na negociação ocorrida na Belarus entre as delegações russa e ucraniana na quinta (3), os corredores teoricamente facilitarão a saída de civis de áreas sob bombardeio, o que implica um cessar-fogo de forma pontual.

Nada parece definido, mas é de se supor que será ofertado às regiões de Kharkiv (nordeste) e de Mariupol (sudeste), cercadas e alvos de bombardeios mais pesados de artilharia e mísseis. Se seguir o protocolo de ação na guerra civil da Síria, a Rússia vai aproveitar a retirada para tentar dominar as localidades.

A prefeitura de Mariupol, último ponto de resistência a evitar o estabelecimento de uma ponte terrestre unindo a região de Rostov russa à Crimeia anexada em 2014 por Putin, passando pelos territórios rebeldes pró-Moscou do Donbass, disse em comunicado que a cidade está sendo exterminada.

Há dois dias não há água ou luz, em um cerco clássico para tentar subjugar a população civil. Mas a novidade nesse flanco sul das ações de Putin, do ponto de vista operacional, foi o início do avanço rumo ao mais importante porto ucraniano, Odessa. Ao longo da sexta, o governo da cidade de Mikolaiv disse que estava sob uma invasão russa, sem maiores detalhes. A cidade fica a oeste de Kherson, centro regional que fora conquistado por Moscou na antevéspera. Dali, são 130 km até Odessa.

Se essa área toda cair, o plano de "fechar" a costa ucraniana, um objetivo secundário presumido da invasão, poderá começar a ganhar corpo. Naturalmente, daí para manter uma ocupação é algo bem diferente, envolvendo muito mais do que os talvez 200 mil homens empregados pelo Kremlin até aqui.

Já a meta primária da campanha, algo sempre hipotético fora do comando russo, Kiev, registrou bombardeios em sua periferia após ter passado um dia sem incidentes mais sérios —na quinta, o problema maior foi para os moradores de Tchernihiv (150 km a nordeste da capital), em um ataque que matou dezenas num bloco residencial.

Houve boatos de que a coluna blindada estacionada a cerca de 25 km de Kiev estaria se preparando para marchar, mas nada ocorreu durante o dia. Em Borodianka, cidadezinha 60 km a noroeste da capital, os Serviços de Emergência reportaram haver até cem pessoas debaixo de escombros de um edifício.

A campanha russa assim avança, mas aos olhos de analistas com diversos problemas. Além de erros como a divisão de objetivos e dispersão de forças, um aspecto intriga especialmente: o fato de a Força Aérea da Ucrânia, aparentemente, ainda conseguir lançar ataques.

Segundo o Estado-Maior do país, só na quinta houve bombardeios com aviões de ataque Su-25 contra posições russas perto de Kiev, Sumi e Kharkiv. Já Moscou diz ter controle do espaço aéreo do país, tendo suprimido a maioria de suas defesas e também aeronaves.

A verdade deve estar em algum lugar no meio do caminho, mas o fato é que o Kremlin não tem utilizado de forma ostensiva aviões de combate. Alguns Su-25 e seus primos mais avançados, os Su-34, foram vistos em ação, mas nada mais. O grosso do trabalho pelo ar é feito com mísseis de cruzeiro e balísticos.

As operações de assalto aerotransportado por helicópteros também têm redundado em fracassos, com exceção da tomada do aeroporto de Hostomel, perto de Kiev, para servir de ponta de lança para ataques a noroeste da capital. Tentativa de desembarque perto de Lviv (oeste) e Kharkiv redundaram em retiradas.

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