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Ataques à Ucrânia interrompem retirada de civis pela 2ª vez em novo fracasso de cessar-fogo

Kiev e Moscou trocam acusações sobre interrupção de corredor humanitário em Mariupol

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São Paulo

Novos ataques neste domingo (6) interromperam pelo segundo dia seguido a retirada de civis de Mariupol. O Batalhão de Azov, da Guarda Nacional ucraniana, divulgou no Telegram e no Twitter, segundo o jornal Pravda da Ucrânia, que novos bombardeios foram realizados na cidade pelos russos.

Os separatistas da região, por outro lado, acusaram as forças de Kiev de não respeitarem o cessar-fogo acertado, de acordo com a agência Interfax. Da mesma forma, o presidente russo, Vladimir Putin, voltou a responsabilizar a Ucrânia pelo fracasso na operação.

A Cruz Vermelha confirmou a suspensão da retirada. A retomada foi anunciada mais cedo pela Câmara Municipal de Mariupol, com previsão de começar ao meio-dia no horário local (7h em Brasília), após um desrespeito ao cessar-fogo impedir a continuidade da retirada no dia anterior.

O cessar-fogo temporário estava previsto para durar até as 21h na Ucrânia (16h em Brasília).

Pessoas chegam de balsa à Romênia após deixarem a Ucrânia
Pessoas chegam de balsa à Romênia após deixarem a Ucrânia - Stoian Nenov - 5.mar.22/Reuters

Além de Mariupol, a operação foi interrompida neste sábado em Volnovakha, segunda cidade ucraniana onde estava prevista ação similar e que também está cercada pelas tropas de Vladimir Putin. Ainda não foram anunciados, no entanto, planos para uma nova retirada, apesar da promessa do líder separatista, Eduard Basurin, de que a ação de saída seria retomada nas duas cidades, segundo a agência Tass.​

Rússia e Ucrânia trocaram acusações sobre os ataques realizados neste sábado. Ainda pela manhã, o Legislativo de Mariupol acusou as tropas russas de não respeitarem o prometido e, mais tarde, a prefeitura da cidade pediu aos moradores que retornassem aos abrigos "por razões de segurança".

"Apelamos à Rússia que acabe com o bombardeio e retome o cessar-fogo para que crianças, mulheres e idosos possam deixar os assentamentos", disse Irina Vereshchuk, ministra para Territórios Ocupados, sobre a situação em Volnovakha, segundo o jornal Pravda da Ucrânia.

Moscou, por sua vez, disse que o acordo não foi cumprido pelos ucranianos. Em uma conversa com as funcionárias da Aeroflot neste sábado, Putin negou que forças do país tenham rompido o acordo.

O presidente russo acusou "bandidos e neonazistas ucranianos" de impedirem as pessoas de sair das cidades. "Estamos em negociação", disse, sobre as conversas das delegações russa e ucraniana que ocorreram na Belarus. Mikhail Mizintsev, chefe do Centro de Comando de Defesa Nacional da Rússia, reiterou a posição de Putin e disse que a trégua foi interrompida por "nacionalistas ucranianos".

O governo ucraniano pretendia, neste sábado, auxiliar a retirada de cerca de 200 mil pessoas em Mariupol e de outras 15 mil em Volnovakha. Cerca de 300 pessoas conseguiram deixar a primeira, de acordo com o governo separatista, e 400, a segunda. Considerada estratégica por Moscou, Mariupol é uma cidade portuária no sudeste da Ucrânia a 150 km de Rostov-do-Don, a principal cidade do sul da Rússia.

Ela foi atacada desde o primeiro dia da guerra e é um porto importante no mar de Azov, uma divisão secundária do mar Negro. A cidade também é considerada o último ponto de resistência a evitar o estabelecimento de uma ponte terrestre unindo Rostov à Crimeia, anexada em 2014 por Putin.

Rússia e Ucrânia haviam concordado em estabelecer os corredores humanitários na quinta (3), durante encontro de delegações dos dois países para negociações na Belarus. Neste sábado, apesar das trocas de acusações, o conselheiro do Ministério do Interior ucraniano, Anton Heraschenko, disse que mais acordos devem ser estabelecidos para a implementação de novas rotas de saída em outros territórios do país.

Nesse sentido, o conselheiro do presidente Volodimir Zelenski, Alexei Arestovich, disse na TV neste domingo, segundo a mídia local, que estão sendo discutidos novos corredores para Butcha e Hostomel, acrescentando que as duas cidades estão praticamente capturadas pelos russos.

O Legislativo de Butcha divulgou que a cidade precisa de um corredor humanitário, após ser alvo de intensos ataques, e que está sem acesso a água, aquecimento, eletricidade e comida.

Corredores humanitários ou zonas de segurança implicam cessar-fogo, algo que, como visto na guerra da Bósnia nos anos 1990, é um instrumento muito precário. Além disso, podem ser utilizados para desocupar áreas de civis potencialmente hostis a invasores, sem garantias de que um dia voltarão para suas casas.

O movimento pode facilitar a eventual ocupação militar de territórios e favorecer o plano presumido de Putin de remover a área da soberania ucraniana. O Ministério da Defesa britânico inclusive divulgou neste sábado que o cessar-fogo proposto pelos russos é provavelmente uma tentativa de evitar críticas internacionais enquanto abre uma oportunidade para renovar suas forças.

Se em Mariupol há a promessa de suspensão dos ataques, no resto do país a Rússia continua com sua ofensiva. A OMS (Organização Mundial da Saúde) relatou que centros médicos foram atingidos, com muitas mortes e pessoas feridas —a Rússia nega agir contra infraestruturas civis.

"Ataques contra estabelecimentos de saúde ou trabalhadores ferem a neutralidade médica e são violações da lei humanitária internacional", escreveu no Twitter o diretor da organização, Tedros Adhanom.

A mídia local reporta que neste domingo as tropas de Moscou atiraram em civis que estavam numa ponte usada para sair de Irpin, nas proximidades de Kiev. Ao menos três pessoas morreram, incluindo duas crianças. Também houve ataques no centro de Kharkiv. Na TV ucraniana, Arestovich também relatou que os russos tentam avançar para o norte de Nikolaev, para tomar mais uma usina nuclear.

Zelenski, por sua vez, denunciou que Moscou pretende bombardear Odessa, na costa do mar Negro, e disse que ataques destruíram o aeroporto de Vinnitsia, no centro-oeste do país.

Em seu mais recente relatório, o Ministério da Defesa britânico comparou a tática russa com as usadas na Tchetchênia em 1999 e na Síria em 2016, empregando munições aéreas e terrestres.

"A escala e a força da resistência ucraniana continuam a surpreender a Rússia. [Moscou] Respondeu visando áreas populosas em diferentes locais, incluindo Kharkiv, Tchernihiv e Mariupol", escreveu a pasta. "Isso provavelmente representa um esforço para acabar com o moral ucraniano", acrescentou.

Para os britânicos, a guerra deve durar meses ou até anos, afirmou o vice-premiê Dominic Raab. Para isso, é preciso que o país, com seus aliados, mostre "resistência estratégica" para "garantir que Putin falhe".

Com Reuters

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