Descrição de chapéu The New York Times

Ataques a tiros aumentam em Nova York e afetam sensação de segurança

Estatísticas geram temor de que cidade-símbolo dos EUA esteja regredindo a passado de violência

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Ali Watkins Troy Closson
Nova York | The New York Times

O número de ataques a tiros em Nova York aumentou no primeiro trimestre do ano em comparação com o mesmo período de 2021, ao mesmo tempo que o de homicídios diminuiu. É a continuação de uma onda de violência que emergiu no início da pandemia e não diminuiu acompanhando o recuo do vírus.

Os incidentes de violência armada subiram para 296 no primeiro trimestre, contra 260 no mesmo período do ano passado, segundo as estatísticas mais recentes do Departamento de Polícia, que incluem os três primeiros dias de abril. A comissária de polícia Keechant Sewell disse na semana passada que a tendência reflete a "violência contínua e totalmente inaceitável em nossas ruas".

Policiais e socorristas na região de ataque a tiros no metrô de Nova York - Dakota Santiago - 12.abr.22/The New York Times

A entrevista na sede do Departamento de Polícia de Nova York (NYPD, na sigla em inglês) marcou a primeira vez desde o início da pandemia que autoridades municipais se reuniram coletivamente para algo que no passado era uma tradição para polícia, jornalistas e público.

Nos dois anos desde a entrevista anterior do NYPD sobre estatísticas do crime, alguns bolsões de Nova York assistiram a um aumento da violência armada e dos homicídios, reforçando o temor de retrocesso na cidade mais populosa dos Estados Unidos.

O prefeito Eric Adams identificou a reversão dessa tendência como meta fundamental de sua gestão. "O NYPD vai empregar todos os recursos e as oportunidades para trazer segurança à cidade", disse Sewell, mas "inverter uma tendência de anos não será [um objetivo] conquistado em semanas".

Ela atribuiu a queda na taxa de homicídios ao aumento no número de detenções. Policiais de Nova York teriam detido mais de 4.000 pessoas em março por crimes, mais que o dobro do registrado no mesmo período de 2021. Mas as declarações da comissária vieram num momento em que a cidade sofria uma sequência de tiroteios que pegaram transeuntes no fogo cruzado.

Kade Lewin, 12, foi morto no bairro do Brooklyn em 1º de abril, quando uma saraivada de balas atingiu um carro estacionado no qual ele estava comendo com familiares. Dias mais tarde, uma mulher de 61 anos morreu vítima de uma bala perdida no Bronx. E no mês passado uma criança de 3 anos foi baleada no ombro diante de uma creche no Brooklyn.

No momento em que a cidade emerge exausta de mais de dois anos de limbo provocado pela pandemia, uma brecha se abriu entre as percepções da criminalidade e a realidade local. Segundo alguns critérios, a Nova York de hoje é mais perigosa que aquela em que muitos de seus habitantes viviam quando a pandemia começou. Mas a segurança ainda é muito maior do que foi em anos passados, e a criminalidade é mais baixa que em muitas das maiores cidades dos EUA.

A violência com armas de fogo chegou aos níveis historicamente mais baixos em 2018 e 2019. Mesmo com o aumento recente, as taxas de ataques com armas de fogo, agressões criminosas e crimes graves de modo geral estão semelhantes ou abaixo dos níveis verificados no final dos anos 2000 e início da década de 2010. Houve nove homicídios a menos neste ano que no período comparável de 2021.

Nos primeiros três meses de 2022 aumentaram crimes como furtos, assaltos e roubos de valores altos, em comparação com os mesmos períodos de 2020 e 2021. Mas especialistas desaconselham as comparações de curto prazo, especialmente durante a pandemia, fase que deturpou as estatísticas.

Nova York não é a única cidade a apresentar dificuldade no combate à criminalidade após a pandemia. Pelo menos 473 homicídios foram registrados em Houston no ano passado; Nova York teve apenas 15 mais que isso, sendo que sua população é quase quatro vezes a de Houston. E a Filadélfia, situada 90 minutos ao sul, teve 559 homicídios em 2021, isso com apenas 1,5 milhão de habitantes.

Mas novas ansiedades vêm levando a avisos sobre um retorno aos "maus velhos tempos" de Nova York, durante os quais houve muitos anos com mais de 2.000 homicídios. Para alguns, a semelhança entre os períodos não está nos crimes ou nas cifras, mas na cobertura da imprensa.

"Isso me lembra os anos 1990, no sentido de que cada incidente de violência vira uma reportagem noticiosa de destaque", diz Jeffrey Butts, diretor do centro de pesquisas e avaliação da Faculdade John Jay de Justiça Criminal. "Algumas dessas coisas são simplesmente chocantes. Mas é importante lembrar também que essas coisas sempre aconteceram e que ainda assim foram incidentes relativamente pouco frequentes. Só que elas ficam na nossa memória por muito tempo."

Alguns tipos de crimes aumentaram significativamente desde que a pandemia começou.

Os ataques com tiros estão duas vezes mais frequentes que nos anos anteriores à pandemia, e a incidência maior deles se dá em bairros de maioria negra e latina. Mais de 1.800 casos foram denunciados anualmente nos dois últimos anos, sendo que em 2018 haviam caído para menos de 900. As agressões a nova-iorquinos de origem asiática aumentaram fortemente; a polícia recebeu mais de 130 denúncias de crimes de ódio no ano passado, sendo que em 2019 havia recebido apenas uma.

A rede de metrô também virou um espaço mais perigoso, com agressões e outros crimes graves tendo subido muito durante a crise sanitária, mesmo levando em conta que a circulação de passageiros no metrô em dias úteis hoje não chega a 60% do nível anterior —e que nem todos os tipos de incidentes, como agressões na rua ou assédios em trens, são fáceis de rastrear.

Mesmo assim, Adams e Sewell promoveram várias mudanças no Departamento de Polícia, incluindo trazer de volta unidades à paisana que haviam sido desativadas em 2020 devido a acusações de brutalidade e uso de força excessiva. As novas equipes recebem treinamento sobre direitos constitucionais e como desarmar situações de tensão, com os agentes trajando um uniforme modificado, em lugar de andar à paisana, segundo o NYPD.

Tradução de Clara Allain

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