Descrição de chapéu Guerra da Ucrânia Rússia

Belarus faz manobras militares; Rússia volta a usar submarino contra Ucrânia

Moscou reforça ofensiva no leste do país e ataca a infraestrutura que transporta armas da Otan

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São Paulo

Após semanas fora do foco da Guerra da Ucrânia, a Belarus ressurgiu em cena nesta quarta (4) ao iniciar exercícios militares de surpresa em seu território. O país é o principal aliado da Rússia na ofensiva contra o vizinho de ambos.

O movimento ocorre no 70º dia da invasão russa, quando Moscou ampliou as forças envolvidas nos ataques na região do Donbass, o leste russófono do país, e anunciou ter usado pela segunda vez um submarino da Frota do Mar Negro em bombardeios com dois mísseis de cruzeiro Kalibr.

Caças MiG-29 voam em formação imitando um Z, símbolo da invasão russa da Ucrânia, em ensaio para o Dia da Vitória sobre Moscou
Caças MiG-29 voam em formação imitando um Z, símbolo da invasão russa da Ucrânia, em ensaio para o Dia da Vitória sobre Moscou - Natalia Kolesnikova/AFP

A ditadura de Aleksandr Lukachenko é uma antiga amiga de Moscou, mas sempre buscou se equilibrar entre a ex-metrópole soviética e a União Europeia. Isso se rompeu em 2020, quando protestos maciços contra mais uma reeleição fraudada do líder o levou a procurar o apoio de Vladimir Putin.

Deu certo, a repressão encerrou o dissenso mais agudo, mas a conta veio. O Kremlin conseguiu unificar sua doutrina militar com a do vizinho, e nos meses anteriores ao início da guerra teve permissão para concentrar homens e equipamentos por lá. O resultado foi a frente que atacou Kiev já no início do conflito, descendo diretamente de Belarus e com o apoio de sistemas antiaéreos baseados no país. Nenhum soldado de Lukachenko, contudo, tomou parte oficialmente da ação.

O Ocidente não se convenceu muito e também incluiu autoridades do país em listas de sanções, mas nada parecido com o progressivo desligamento do sistema internacional imposto à Rússia. De lá para cá, Belarus fingiu ser figurante de luxo e sediou conversas de paz, embora a retirada da tropa que fracassou em tomar a capital ucraniana e seu deslocamento para o leste tenham ocorrido por seu território.

Segundo o Ministério da Defesa belarusso, as manobras só visam a "testar sua prontidão para combate" e não oferecem perigo a vizinhos. Kiev não comprou o discurso pelo valor de face. "Estamos prontos", disse o porta-voz do serviço de fronteiras ucraniano, Andrii Demtchenko, sobre um eventual reforço de Minsk.

Ele seria bem-vindo por um lado, já que há uma anemia crônica de recursos humanos para Putin, que não decretou uma mobilização geral para evitar chamar a guerra pelo nome —ele se atém a "operação militar especial". O Kremlin negou, nesta quarta, que usará a data mais importante do calendário político do país, o dia da vitória sobre os nazistas, em 9 de maio, para declarar guerra e mobilização nacional.

"Isso é nonsense, zero chance", afirmou o porta-voz Dmitri Peskov. A especulação está forte nos meios militares russos, insatisfeitos com o que veem como uma guerra com esforço limitado e sem sucesso por isso. A data havia sido citada por autoridades britânicas também. Por outro lado, se Belarus entrar na guerra, garantirá outra região de instabilidade nas fronteiras russas. Mais do que em qualquer momento desde que faziam parte da União Soviética, a vizinha está hoje sob controle político da Rússia. Sanções ocidentais mais duras e sangue poderiam estragar o arranjo, com a ressurgência das manifestações.

Enquanto isso, Kiev apontou para um reforço nas ações de Moscou no Donbass, particularmente em torno da segunda maior cidade do país, Kharkiv, duramente castigada por bombardeios.

O Ministério da Defesa russo não confirmou, preferindo se concentrar na divulgação de ataques a linhas de suprimento de armas da Otan, a aliança militar ocidental, à Ucrânia. Foram destruídas, de acordo com a pasta, seis estações de trem e subestações de energia que alimentavam as linhas ferroviárias usadas por esses comboios vindos do oeste —fronteira da Polônia, principalmente.

Com a batalha do Donbass se desenrolando, o influxo mudou: além de armas portáteis contra tanques, agora já há quase 90 obuseiros americanos e talvez 200 tanques poloneses doados a Kiev. Por vídeo, o ministro da Defesa Serguei Choigu disse que "qualquer transporte da Otan com armas é um alvo".

"O comando militar russo está tentando aumentar a intensidade de sua operação ofensiva. E busca destruir nosso sistema de transporte", afirmou o porta-voz da Defesa ucraniana, Oleksandr Motuzianik.

Forças da Ucrânia bombardearam o centro de Donetsk, a capital da autoproclamada república separatista russa homônima no Donbass. Em Mariupol, no sul do país, houve ataques russos aos dois batalhões restantes de nacionalistas do grupo neonazista Azov escondidos numa siderúrgica da cidade, mas na sequência o Kremlin disse que Putin ordenou que eles apenas permanecessem cercados.

A determinação foi seguida pelo anúncio do Ministério de Defesa da Rússia de um cessar-fogo para permitir que, a partir desta quinta-feira (5) e durante três dias, um corredor humanitário seja viabilizado para a retirada de civis. A usina de Azovstal é o ponto final de resistência mais dura ucraniana no sudeste do país, ligação entre o Donbass e a Crimeia anexada pela Rússia em 2014.

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