O Departamento de Segurança Nacional dos Estados Unidos (DHS, na sigla em inglês) anunciou na quarta-feira (18) a suspensão dos trabalhos de um conselho consultivo destinado a combater a desinformação, depois do que o órgão descreveu como uma campanha de desinformação deliberada.
A criação do grupo, chamado Conselho de Governança da Desinformação, produziu uma tempestade de críticas quando foi anunciada no mês passado. As críticas vieram de todo o espectro político, incluindo de grupos pelas liberdades civis, mas as denúncias mais ferozes partiram da direita. Líderes e comentaristas republicanos falaram sobre ele como um "Ministério da Verdade" orwelliano que policiaria o discurso das pessoas.
Essa nunca foi a missão do conselho, disse um porta-voz do DHS em uma declaração. Em vez disso, destinava-se a coordenar as várias agências do departamento no combate à desinformação maliciosa vinda de adversários estrangeiros, traficantes de drogas ou pessoas e grupos criminosos internacionais.
Algumas semanas após a criação do conselho, porém, seu destino está agora em dúvida. Nina Jankowicz, autoridade em desinformação que foi escolhida para liderar o grupo, apresentou sua renúncia na quarta-feira, depois de enfrentar assédio e abusos online virulentos e altamente pessoais.
"Os ataques falsos tornaram-se uma distração significativa do trabalho de vital importância do departamento, o de combater a desinformação que ameaça a segurança do povo americano", afirmou o comunicado.
O secretário do DHS, Alejandro Mayorkas, pediu a dois ex-funcionários que revisem a questão do combate à desinformação: Michael Chertoff, que foi secretário do departamento no governo do presidente George W. Bush, e Jamie Gorelick, vice-procurador-geral do presidente Bill Clinton.
Mayorkas pediu que eles preparem recomendações dentro de 75 dias e disse que o conselho não se reunirá durante esse período. "Seu trabalho será interrompido", disse o comunicado, confirmando a suspensão, que foi relatada anteriormente pelo jornal The Washington Post.
A saída de Jankowicz, juntamente com o lançamento problemático do conselho, torna improvável que ele volte a operar em algo parecido com sua forma atual.
"Nós matamos o Ministério da Verdade!", escreveu no Twitter um dos muitos críticos republicanos do conselho, o deputado Matt Gaetz, da Flórida.
Angelo Carusone, presidente da Media Matters for America, grupo de vigilância de esquerda, disse que a oposição ao conselho se consolidou rápida e ferozmente, sugerindo um esforço organizado e motivado. Ele observou que o combate à desinformação faz parte dos esforços do governo desde as campanhas da União Soviética na Guerra Fria.
O clima político atual, no entanto, tornou o próprio assunto um para-raios que, segundo ele, as autoridades deveriam ter previsto melhor. Em vez disso, elas pareceram pegas de surpresa pela resposta.
"Acho que é um desserviço para todos nós perdermos essa função, especialmente após o que acabamos de ver em Buffalo, porque isso é uma consequência dessa paisagem de informação", disse Carusone, referindo-se ao tiroteio racista em Nova York. "É uma caixa de fósforos."
Como diretora do conselho, Jankowicz, 33, recebeu o grosso dos ataques, um assunto que ela conhece bem. Seu livro mais recente, "How to Be a Woman Online" [como ser uma mulher online], narra os abusos que ela e outras mulheres enfrentam vindos de trolls e outros atores nocivos na internet.
Uma das questões que vieram à tona foi um trabalho que Jankowicz fez para a StopFake, organização ucraniana de checagem de fatos patrocinada pelo governo dos EUA. Vista por muito tempo como um modelo de combate a mentiras vindas do Kremlin, a ONG vem recebendo críticas pelos supostos vínculos de seus diretores com grupos neonazistas violentos —a própria Jankowicz é acusada de ter elogiado esses grupos em um programa que apresentou para a StopFake.
Em uma carta de demissão apresentada na quarta, ela disse que ingressou no departamento neste ano para ajudar a lidar com os efeitos da desinformação.
"É profundamente decepcionante", escreveu, "que as caracterizações errôneas do conselho tenham desviado a atenção do trabalho vital do departamento e, de fato, juntamente com acontecimentos recentes em todo o mundo e no país, representam por que ele é necessário."
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