Descrição de chapéu China

Hong Kong prende cardeal da Igreja Católica crítico do regime chinês

Joseph Zen, liberado após pagamento de fiança, foi detido com outras três pessoas acusado de conluio com forças estrangeiras

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Hong Kong | Reuters

Um dos clérigos católicos de posição mais elevada na Ásia, o cardeal Joseph Zen foi preso nesta quarta (11), junto a outras três pessoas,​ e solto após pagamento de fiança. Acusados de conluio com forças estrangeiras, eles organizaram uma campanha de arrecadação para manifestantes detidos de Hong Kong.

Zen, 90, ex-bispo do território, foi interrogado durante horas na delegacia do distrito de Chai Wan, próximo à igreja onde mora. Vestindo um colarinho clerical, deixou o local sem falar com a imprensa. Em um comunicado, a polícia confirmou que o departamento de segurança nacional havia detido dois homens e duas mulheres, com idades entre 45 e 90 anos, na terça e nesta quarta.

O cardeal Joseph Zen, ex-bispo de Hong Kong, na Praça de São Pedro, no Vaticano, em 2013
O cardeal Joseph Zen, ex-bispo de Hong Kong, na Praça de São Pedro, no Vaticano, em 2013 - Alberto Pizzoli - 5.mar.13/AFP

Ainda segundo as forças de segurança, eles são suspeitos de terem pedido a aplicação de sanções estrangeiras. Todos foram soltos mediante o pagamento de fiança, mas seus passaportes foram retidos sob a lei de Segurança Nacional.

Uma fonte próxima ao tema havia dito à agência de notícias Reuters que cinco pessoas, não quatro, tinham sido presas em conexão com o caso: Zen, a advogada Margaret Ng, 74, a ativista e cantora pop Denise Ho, a ex-parlamentar Cyd Ho e o ex-acadêmico Hui Po-keung.

Zen, um defensor de causas democráticas em Hong Kong, posiciona-se de forma contrária ao crescente autoritarismo sob a liderança de Xi Jinping, incluindo casos de perseguição a católicos e a lei de Segurança Nacional. Em 2020, Pequim impôs uma legislação dura que pune o que o governo considerar terrorismo, conluio com forças estrangeiras e secessão com penas que podem chegar a prisão perpétua.

Hui, professor associado de estudos culturais da Universidade de Lingnan, foi detido no aeroporto na noite de terça, de acordo com relatos da mídia local, enquanto Cyd Ho já estava presa devido a um outro caso.​

Os envolvidos nas detenções desta quarta eram organizadores do Fundo de Auxílio Humanitário 612, que ajudou presos nos atos pró-democracia de 2019 a pagar multas e despesas médicas. A iniciativa acabou em 2021 após a dissolução da empresa que recebia doações por meio de uma conta bancária.

Segundo a polícia, as prisões ocorrem depois do início de uma investigação, em setembro do ano passado, para apurar se o fundo violava as regras da lei de Segurança Nacional.

Hong Kong é um dos locais mais importantes para os católicos na Ásia por abrigar uma ampla rede de agências de ajuda, acadêmicos e missões que auxiliam membros da igreja na China continental e em outros lugares. O Vaticano disse nesta quarta ter recebido a notícia da prisão de Zen com "grande preocupação" e que estava acompanhando os desdobramentos do caso com "extrema atenção".

A Reuters não conseguiu contatar outros representantes da igreja —a diocese de Hong Kong não fez comentários.​ Já o coordenador dos EUA para o Indo-Pacífico, Kurt Campbell, disse que Washington está preocupada com a repressão em Hong Kong, inclusive em círculos religiosos e acadêmicos.

"Estamos cada vez mais preocupados com as medidas para pressionar e eliminar a sociedade civil", afirmou Campbell durante um evento online na capital americana quando questionado sobre as prisões. Na visão do porta-voz do Departamento de Estado, Ned Price, as detenções reforçam que "as autoridades de Hong Kong [...] vão buscar todos os meios para reprimir a dissidência e minar direitos e liberdades".

Críticos afirmam que a lei de Segurança Nacional erode as liberdades prometidas por Pequim no arranjo "um país, dois sistemas" acertado com o Reino Unido no momento em que Hong Kong foi devolvida aos chineses, em 1997.

As autoridades do território, no entanto, dizem que a legislação traz estabilidade após as manifestações em massa por democracia e que foram duramente reprimidas. No último domingo (8), inclusive, o responsável por implementar a dura repressão aos manifestantes foi nomeado novo líder de Hong Kong, em um processo controlado pelo regime comunista chinês.

Na época dos grandes protestos, John Lee era o chefe de segurança da ilha e agora se torna o primeiro oficial de segurança a assumir a liderança do território. Ele substitui Carrie Lam, a atual chefe do Executivo que, no início de abril, anunciou que não disputaria a reeleição.

Ao ser nomeado o novo líder da ilha, Lee defendeu a legislação de segurança imposta pela China em Hong Kong há dois anos. Segundo ele, os dispositivos em vigor são necessários para "restaurar a estabilidade". "Salvar a soberania de nosso país, a segurança nacional e os interesses de desenvolvimento, e proteger Hong Kong de ameaças internas e externas e garantir sua estabilidade continuarão sendo de suma importância", afirmou.

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