Partido de Boris amarga derrotas nas eleições regionais do Reino Unido

Polícia abre investigação contra opositor do premiê no caso 'beergate'; Irlanda do Norte pode ter vitória de nacionalistas

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São Paulo e Guarulhos

O Boris Johnson sorridente que foi às urnas na quinta-feira (5) acompanhado do cachorro Dilyn pode até ter passado a imagem de que estava despreocupado com o resultado das eleições regionais. Mas tanto ele como seus correligionários acordaram preocupados nesta sexta (6).

Os resultados parciais revelam que o Partido Conservador, a legenda de Boris, perdeu controle de redutos tradicionais em Londres e sofreu reveses em outras regiões, com eleitores aproveitando o pleito para enviar uma mensagem de repúdio aos escândalos de seu governosendo o "partygate" o principal.

O premiê do Reino Unido, Boris Johnson, líder do Partido Conservador, deixa centro de votação em Londres acompanhado de seu cachorro - Tim Ireland - 5.mar.22/Xinhua

O cenário inicial segue, em partes, o que previam analistas e pesquisas. O revés para Boris, é verdade, está mais no campo simbólico, já que os milhares de assentos em conselhos municipais e distritais não têm, em tese, impacto direto na política nacional.

A legenda do premiê perdeu, por exemplo, o controle do conselho de Westminster, na região de Londres, administrado pelos conservadores desde a sua criação, em 1964. Também passaram para o controle dos trabalhistas os conselhos de Wandsworth, reduto conservador desde 1978, e de Barnet, sob comando quase contínuo da sigla do premiê desde 1964 —exceto em duas eleições.

O atual pleito decidirá quase 7.000 assentos em conselhos municipais, incluindo todos os de Londres, da Escócia e do País de Gales, e um terço dos assentos do resto da Inglaterra.

Contagem do jornal The Guardian mostra que, até a publicação deste texto, os conservadores perderam 397 assentos, enquanto os trabalhistas ganharam 252. Sobraram fatias consideráveis para outras legendas, como os liberais-democratas, que ganharam mais 189 cadeiras —algumas das quais analistas previam que iriam em peso para os trabalhistas.

A BBC, com base nos resultados iniciais, estimou o que aconteceria se todo o país estivesse votando nas eleições desta quinta. Nesse cenário, 30% dos votos iriam para os conservadores, 35% para os trabalhistas e 19% para os liberais-democratas, com o restante dividido entre siglas menores.

A vantagem de cinco pontos percentuais dos trabalhistas sobre os conservadores é a maior desde as eleições regionais de 2012. Em compensação, com a fatia de 30%, os conservadores caíram cinco pontos percentuais em relação a 2018 e seis pontos em relação ao ano passado —quando também foram realizadas regionais em menor escala.

Após a divulgação dos primeiros números, Boris relativizou a perda para sua sigla. "Tivemos uma noite difícil em algumas partes do país, mas, por outro lado, em outras vemos os conservadores avançando e obtendo ganhos notáveis em lugares que não votam no partido há muito tempo", disse o premiê.

Acrescentou, então, as lições que pensa ter tirado do que chama de "mensagem dos eleitores": "Querem que foquemos as grandes questões que importam a eles, como a recuperação [econômica] pós-Covid, os problemas de abastecimento de energia e o pico inflacionário, e que continuemos nossa agenda de mais empregos e altos salários".

Embora as eleições regionais em geral se distanciem dos grandes temas políticos nacionais, a série de escândalos que envolveram o premiê levou seus próprios correligionários a buscarem distanciamento. Alguns dos candidatos que, em circunstâncias normais, poderiam tentar capitalizar o fato de estarem no mesmo partido do chefe de governo fizeram o oposto: apresentaram-se como "conservadores locais".

E a cobrança veio tão logo surgiram os primeiros resultados, com conservadores dizendo que Boris terá de provar sua integridade perante os britânicos e responder aos questionamentos das urnas. "Claramente o premiê tem perguntas difíceis para responder; as pessoas estavam muito esperançosas com as políticas do governo, mas agora não estão felizes com o que ouviram sobre o partygate", afirmou David Simmonds, parlamentar conservador, ao Guardian.

Reveses também para os trabalhistas

O líder trabalhista Keir Starmer descreveu os resultados parciais como "absolutamente fantásticos". "Acreditem em mim: esse é um grande ponto de virada para nós", afirmou ele, ainda pela manhã.

Pouco depois, porém, viu-se envolvido em caso similar ao que respingou na gestão de seu rival político. A polícia britânica anunciou que investigará Starmer por uma possível violação das regras de isolamento para conter a disseminação do coronavírus no ano passado. O caso foi apelidado de "beergate".

Em abril daquele ano, o trabalhista foi visto bebendo cerveja com colegas durante uma reunião em Hartlepool, no nordeste da Inglaterra. A polícia local havia concluído que nenhum crime havia sido cometido, mas, nesta sexta, afirmou que, após o recebimento de novas informações, abriu uma apuração.

O líder do Partido Trabalhista do Reino Unido, Keir Starmer, durante conversa com jornalistas em Londres - Peter Nicholls - 24.abr.22/Reuters

PROVÁVEIS MUDANÇAS NA IRLANDA DO NORTE

A votação na Irlanda do Norte, país de aproximadamente 1,9 milhão de habitantes, também tem peso significativo, mas por outras razões. Pesquisas sugerem que o partido Sinn Féin, ex-braço político do Exército Republicano Irlandês (IRA), deve se tornar a principal força política e, assim, eleger o premiê.

A legenda garantiu 29% dos votos de primeira preferência em comparação com 21,3% do Partido Unionista Democrático (DUP)—no complexo sistema de votação local, cada eleitor pode votar em mais de um candidato. A cifra indica que o Sinn ​Féin conquistará a maior fatia dos assentos.

Assim, a legenda se tornaria o primeiro partido nacionalista a comandar o maior número de cadeiras da assembleia regional em 101 anos, desde a criação da Irlanda do Norte, em 1921. Os resultados completos serão divulgados até sábado (7).

Ainda que a sigla não tenha mobilizado sua histórica pauta de reunificação com a República da Irlanda na campanha eleitoral, concentrando-se em questões como o custo de vida, esse é o pano de fundo simbólico que se desenha caso o partido ganhe maioria.

Partidos pró-Reino Unido, apoiados predominantemente pela população protestante, dominam a nação há um século, mas as tendências há muito indicam que eles acabariam eclipsados por legendas nacionalistas, predominantemente católicas, que hasteiam a bandeira da união irlandesa. Na última eleição, em 2017, o DUP, unionista, conquistou 28 assentos, pouco à frente dos 27 do Sinn Féin.

Com Reuters e AFP

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