O presidente dos EUA, Joe Biden, deu destaque aos riscos enfrentados pela democracia em seu discurso na abertura da Cúpula das Américas, na noite desta quarta-feira (8), em Los Angeles.
"Em um momento em que a democracia está sob ataque no mundo todo, vamos nos unir de novo e renovar nossa convicção de que a democracia não é só o fator definidor da história americana, é ingrediente essencial para o futuro das Américas."
A defesa da democracia é um dos principais temas do evento, que reúne chefes de Estado do continente até sexta (10). A expectativa é a de que sejam firmados compromissos em diversas áreas, incluindo, além da democracia, energia limpa, imigração, inclusão digital e parcerias em saúde pública.
Na fala de abertura, Biden citou o Brasil apenas uma vez, como um dos maiores exportadores de alimentos do continente, ao lado de países como Argentina, Canadá e México.
O democrata fará sua primeira reunião com o presidente Jair Bolsonaro nesta quinta. O líder brasileiro fez diversos ataques ao sistema eleitoral do país e também questiona o resultado das eleições americanas de 2020, quando Biden foi eleito. Nesta quarta, Jake Sullivan, conselheiro de Segurança Nacional, disse que as eleições serão um tópico importante da conversa, assim como a preservação da Amazônia.
Antes da cerimônia, o presidente americano cumprimentou e posou para fotos com chefes de 30 delegações estrangeiras que já chegaram a Los Angeles. Bolsonaro não participou do evento, pois desembarca na cidade na manhã desta quinta (9). Ele deve fazer um discurso na sexta (10).
Na abertura, Biden anunciou a Parceria Americana para a Prosperidade Econômica, dividida em cinco pontos: revigoramento das instituições econômicas regionais, em especial o BID (Banco Interamericano de Desenvolvimento), aumento da resiliência das cadeias de suprimentos, melhoria de serviços públicos, criação de empregos com transição para energias verdes e ampliação do comércio exterior regional.
O líder americano também falou sobre a criação de um Corpo de Saúde das Américas, que capacitará 500 mil profissionais do continente, ao custo de US$ 100 milhões. Parte do valor será custeado pelos EUA, que também oferecerão treinamentos em instituições do país.
Sobre imigração, um dos temas do encontro, disse que a chegada de estrangeiros é benéfica, mas que a "imigração ilegal é inaceitável". O governo americano quer assinar, na sexta, uma declaração conjunta com os países vizinhos com medidas para conter o tráfico de pessoas e a imigração irregular.
O evento de abertura contou com vários discursos breves. A vice-presidente Kamala Harris disse que a cúpula tem grandes ambições, como a de melhorar a vida das pessoas nos países da América e que as condições do continente afetam diretamente a segurança e a prosperidade dos EUA.
"Os desafios encarados pelo nosso hemisfério nos meses e nos anos à frente são significativos. Crise do clima, insegurança alimentar, desigualdade econômica, corrupção e violência de gênero. Eles demandam novas e inovadoras coalizões", disse a democrata.
Já o presidente do Peru, Pedro Castillo, destacou compromissos feitos em eventos anteriores para combater a corrupção no continente e criar novas parcerias econômicas. A abertura foi realizada em um teatro, com distribuição de pipoca e refrigerante grátis para os convidados. Entre as falas, houve números musicais e apresentações de vídeos. Um deles mostrou crianças dos países da América falando de suas nações. Nicarágua e Venezuela foram citadas. O Brasil foi descrito como um grande produtor de café.
Biden sentou-se na plateia ao lado do presidente colombiano, Iván Duque. No começo de seu discurso, ao menos duas pessoas gritaram palavras de protesto contra o democrata. Uma mulher foi retirada do local.
Os EUA buscam usar o evento para se reaproximar da América Latina. O governo Biden tem anunciado uma série de iniciativas para beneficiar países do continente em áreas como recuperação econômica, melhora do sistema de saúde e adoção de energias limpas.
Na terça, Kamala divulgou investimentos do setor privado em novos negócios na América Central, no total de US$ 1,9 bilhão. A lista de empreendimentos inclui redes de banda larga fixa e de telefonia móvel, expansão de pagamentos digitais, fábricas de roupas e autopeças e plantações de banana e abacate.
Após a pandemia e a Guerra na Ucrânia, os Estados Unidos passaram a falar em "near-shoring", um movimento para aproximar indústrias e cadeias de produção espalhadas pelo planeta, algo que pode beneficiar a América Latina. O governo americano espera que a mudança, além de melhorar a economia da região, também ajude a desestimular a migração de latino-americanos rumo aos EUA.
"Não é mais só uma questão de o que os EUA farão pelas Américas. É o que podemos alcançar trabalhando juntos como parceiros com diversas habilidades, mas com respeito mútuo, reconhecendo nossa soberania individual e nossas responsabilidades", disse Biden.
"Nossa região é grande e diversificada. Nem sempre concordamos em tudo, mas em uma democracia abordamos nossas divergências com respeito e diálogo."
Apesar dos gestos, o começo do evento é marcado pela ausência de 11 chefes de Estado. Oito deles, incluindo México e Honduras, fizeram um boicote como forma de crítica pelo fato de os EUA não terem convidado Cuba, Nicarágua e Venezuela, consideradas ditaduras pelo governo americano.
Nesta quarta, Biden conversou por telefone com Juan Guaidó, que os EUA reconhecem como presidente da Venezuela, apesar de ele não comandar o país. O líder americano defendeu que as negociações entre a oposição venezuelana e o ditador Nicolás Maduro são a melhor saída para restaurar a democracia no país.
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