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O mapa da guerra da Ucrânia, que entra em seu terceiro mês, se amplia com a suspeita de que o governo de Vladimir Putin almeja um alvo além daqueles oficialmente declarados para justificar a invasão.
Neste estágio do conflito, em que Moscou intensifica seus ataques no leste e tenta combater o último reduto de resistência ucraniana em Mariupol, já está claro o objetivo russo de criar um corredor terrestre que liga duas regiões separatistas aliadas:
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As províncias de Donetsk e Lugansk, na região do Donbass, que a Rússia quer que a Ucrânia reconheça como autônomas;
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A península da Crimeia, anexada por Putin em 2014 e que a Rússia quer que Kiev reconheça como sendo russa.
Mas recentes ataques a Odessa, onde fica o maior porto da Ucrânia, levantaram suspeitas de que a Rússia quer estender esse corredor para o sul, seja para conquistar uma saída estratégica para o mar, seja para alcançar uma nova frente com forte conexão com Moscou: a Transdnístria, na Moldova.
Não conhece? Um guia rápido sobre a Transdnístria:
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É uma faixa de 400 km na fronteira com a Ucrânia, marcada pelo rio Dniester;
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Tem cerca de 500 mil habitantes, de maioria eslava e idioma russo;
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Pertence formalmente à Moldova, de maioria étnica romena. Mas desde 1992 é dominada por separatistas pró-Rússia;
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Funciona como um território independente, com governo próprio, mas não é reconhecida por nenhum país, nem por Moscou.
Nesta segunda (25), um ataque com lança-granadas foi registrado na sede do ministério da Segurança Pública em Tiraspol, principal cidade da Transdnístria.
O incidente ocorreu três dias depois de um alto militar da Rússia ter declarado que a intenção da operação militar especial —como o Kremlin chama a guerra— é também capturar o sul da Ucrânia e chegar ao enclave separatista na Moldova.
O argumento, segundo Rustam Minnekaiev, vice-comandante do Distrito Militar Central, seria o mesmo alegado para a presença das tropas em outras áreas: salvar a população da Transdnístria de uma suposta opressão.
O plano, porém, tem sido negado por Moscou. Também nesta segunda, o vice-chanceler da Rússia, Andrei Rudenko, afirmou que o governo busca uma solução pacífica para a região e que não há risco para essa população.
Sim, mas: Não é a primeira vez que a Transdnístria ganha atenção como possível desdobramento do conflito. Em março, a região apareceu em um mapa apresentado pelo presidente belarusso Alexander Lukashenko, maior aliado de Putin, em um pronunciamento à TV.
O embaixador de Belarus na Moldova mais tarde pediu desculpas e alegou que se tratava de um erro. Mas o fato é que autoridades da pequena ex-nação soviética já manifestam preocupação sobre uma eventual invasão do território —ainda que a importância estratégica não seja significativa.
Assim como a Ucrânia, a pequena nação de 2,6 milhões de habitantes não é membro da Otan (aliança militar ocidental) nem da União Europeia.
Não se perca
Três curiosidades sobre a Transdnístria, a "república-fantasma" na Moldova que quer ser da Rússia:
- Presença militar: Apesar de não reconhecer o território como independente, a Rússia mantém cerca de 1.500 soldados na região —grande parte é formada por locais usando uniformes militares russos. O objetivo de garantir a paz e proteger o estoque de munições da era soviética
- Moeda: A região tem uma divisa própria, o rublo transnístrio, negociada apenas localmente, mas muito buscada por colecionadores. O contrabando de mercadorias é expressivo
- Saudosismo: A memória dos tempos soviéticos está presente na bandeira oficial com a foice e o martelo, nas estátuas de Lênin e em nomes de ruas como Rosa Luxemburgo
O que aconteceu nesta segunda (25)
- Diplomacia russa fez alerta aos EUA sobre envio de armas após visita de Blinken a Kiev;
- Rússia anunciou cessar-fogo para saída de civis de usina em Mariupol;
- Rússia atacou refinaria de petróleo e ao menos 56 instalações militares;
- Kremlin declarou 40 diplomatas da Alemanha ‘personae non gratae’.
O que ver para se manter informado
Como foi celebração da Páscoa ortodoxa na região atacada no leste da Ucrânia e os professores ucranianos que organizam aulas para crianças refugiadas na Romênia, em dois vídeos:
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