Indígenas ocupam central elétrica em protestos no Equador que já deixaram 4 mortos

No 11º dia de mobilizações, manifestantes também tentam invadir sede do Congresso

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Quito | AFP

Centenas de indígenas ocuparam uma central elétrica no sul do Equador em meio a protestos que já duram 11 dias contra o governo do presidente Guillermo Lasso e o aumento do preço dos combustíveis. Em Quito, indígenas tentaram invadir o Congresso, mas foram dispersados pela polícia.

O ministro de Energia e Minas, Xavier Vera, afirmou nesta quinta (23) a uma rádio local que cerca de 300 pessoas de diversas comunidades indígenas e camponesas fizeram parte da ação na usina localizada na província de Tungurahua, a 150 km de Quito. Ele não disse se a instalação permanece ocupada.

Manifestantes e policiais durante confronto em Quito, no Equador
Manifestantes e policiais durante confronto em Quito, no Equador - Martin Bernetti/AFP

A ocupação começou na noite de quarta-feira (22) de maneira pacífica, mas depois os operadores "foram raptados", de acordo com Vera, por se recusarem a suspender o serviço de eletricidade. Mesmo assim, a usina não interrompeu o fornecimento de energia elétrica.

"Isso não é trivial nem aleatório. Acredito que há um trabalho macabro de inteligência, porque essa subestação é essencial", disse o ministro. Um eventual corte de energia poderia impactar a cidade de Guayaquil, centro comercial do país e capital da província de Guayas, com 2,7 milhões de habitantes.

Quatro pessoas já morreram em meio à repressão contra as mobilizações, segundo a Aliança de Organizações pelos Direitos Humanos. Outros 92 manifestantes foram feridos e 94 levados pela polícia.

Autoridades locais, por sua vez, afirmam que 117 agentes de segurança ficaram feridos. Na quarta, o ministro do Interior, Patricio Carrillo, disse que 18 policiais desapareceram depois de um ataque que teria sido realizado por indígenas contra instalações militares em Puyo, a 260 km da capital.

Pressionado, Lasso deu o primeiro passo para a retomada do diálogo com os manifestantes. Isolado com Covid, o presidente cedeu a uma das reivindicações e ordenou a saída de militares da Casa da Cultura, local simbólico para os indígenas no centro de Quito. "É um triunfo da luta", afirmou o líder indígena Leonidas Iza com um megafone, enquanto avançava em direção à praça do centro cultural.

Ainda assim, novas convocações para atos foram feitas nesta quinta, e o conflito parece longe de acabar. Os manifestantes pedem a redução do preço da gasolina, a renegociação de dívidas dos trabalhadores rurais com bancos, mais empregos e o fim da concessão de licenças de mineração em terras indígenas.

Lasso considera parte das reivindicações inviável e se recusa a revogar o estado de exceção que rege seis províncias e a capital, outra demanda dos indígenas. A medida habilita o presidente a mobilizar as Forças Armadas para manter a ordem interna, suspender direitos dos cidadãos e decretar toque de recolher.

As mobilizações são em grande parte puxadas pela Confederação de Nacionalidades Indígenas (Conaie), que também participou das ondas de protestos que levaram à queda de três presidentes entre 1997 e 2005. Os atos diários se espalham pelo país e ganham intensidade, em especial, na capital, Quito.

O preço do galão do diesel no país subiu 90%, chegando a US$ 1,90 (R$ 9,75), e o da gasolina, 46%, indo a US$ 2,55 (R$ 13) em um ano. Desde outubro passado, os valores estão congelados depois de pressão popular, mas a Conaie reivindica que eles cheguem a US$ 1,50 e US$ 2,10, respectivamente. ​

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