Trump tentou tomar volante de limusine para ir ao Capitólio no 6 de Janeiro, diz ex-assessora

Cassidy Hutchinson afirma que ex-presidente pediu retirada de medidas de segurança mesmo ciente de que apoiadores estavam armados

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Washington | Reuters

O ex-presidente Donald Trump sabia que seus apoiadores estavam armados e poderiam se tornar violentos no dia da invasão do Capitólio dos EUA, mas mesmo assim quis retirar medidas de segurança, afirmou em depoimento, nesta terça-feira (28), Cassidy Hutchinson, ex-assessora da Casa Branca.

Em outro momento, o republicano teria tentado tomar o volante da limusine presidencial para que pudesse ir ao Congresso, aonde uma turba se dirigia em busca da interrupção da chancela da vitória de Joe Biden.

As declarações foram dadas ao comitê bipartidário da Câmara que investiga o 6 de Janeiro, numa audiência em Washington marcada de surpresa no dia anterior. Hutchinson, que trabalhou com Mark Meadows, então chefe de gabinete de Trump, já havia testemunhado em vídeo na semana passada.

Cassidy Hutchinson depõe ao comitê que investiga o 6 de Janeiro, em Washington
Cassidy Hutchinson depõe ao comitê que investiga o 6 de Janeiro, em Washington - Andrew Harnik - 28.jun.22/Pool/AFP

Trump expressou raiva, disse Hutchinson, porque o Serviço Secreto, encarregado de proteger o presidente, estava usando detectores de metal para manter pessoas armadas fora da área cercada em que ele fez um discurso inflamado, no qual repetiu falsas alegações de que a derrota para Biden foi fruto de fraude.

O republicano, segundo a assessora, disse: "Parem as revistas, eles não estão aqui para me machucar".

Ainda de acordo com Hutchinson, funcionários do Congresso, além do próprio presidente, foram avisados de que o comício poderia sair do controle. Apesar de saber que apoiadores estavam armados, inclusive com fuzis AR-15, Trump quis a remoção dos detectores de metal antes de a multidão invadir o Capitólio.

No meio da confusão, enquanto a turba avançava a caminho da sede do Legislativo, o republicano teria tentado pegar a direção da limusine da Casa Branca de um agente secreto ao saber que não seria levado ao Congresso. "Sou o maldito presidente, leve-me ao Capitólio agora", disse ele, segundo a ex-assessora.

Na Truth, rede social que fundou, Trump negou que tenha tentado tomar o volante do veículo e chamou o depoimento de Hutchinson de "doente" e "fraudulento". A ex-funcionária do governo afirmou ainda que, dentro da Casa Branca, o republicano bateu na mesa e atirou pratos, espirrando ketchup na parede após saber que o então secretário de Justiça, Bill Barr, desmentiu as falsas alegações de fraude na eleição.

O presidente do comitê, o deputado democrata Bennie Thompson, abriu a audiência afirmando que novas provas estavam sendo apresentadas sobre o que aconteceu em Washington em 6 de janeiro de 2021 e nos dias anteriores à ação. Ele também elogiou a coragem de Hutchinson em depor —trata-se da primeira vez nas seis audiências de junho que um ex-funcionário da Casa Branca testemunhou presencialmente.

Na sessão desta terça, Hutchinson pintou uma imagem de funcionários da Casa Branca em pânico, eriçados com a possibilidade de Trump se juntar ao que se tornaria uma multidão violenta abrindo caminho para invadir o Capitólio, à caça do então vice-presidente Mike Pence, da presidente da Câmara, Nancy Pelosi, e de outros parlamentares que certificavam a vitória do democrata Biden.

O comitê da Câmara investiga há mais de um ano a primeira tentativa de impedir a transferência pacífica de poder na história dos EUA, um dos maiores ataques à democracia americana. Até agora, contudo, a fritura de Trump não dá sinais de enfraquecer o republicano, provável candidato à reeleição em 2024.

A ex-assessora, que sentava a poucos metros do Salão Oval, afirmou que, poucos dias antes do ataque ao Capitólio, Meadows, seu ex-chefe, suspeitava de violência iminente. Rudolph Giuliani, advogado de Trump, teria dito que o presidente estaria lá no dia e passaria a imagem de poderoso.

Ainda de acordo com ela, tanto o então chefe de gabinete do presidente quanto o ex-prefeito de Nova York expressaram interesse em receber indultos presidenciais após a violência do 6 de Janeiro.

No depoimento por vídeo, na semana passada, Hutchinson afirmou que, da mesma maneira, outros aliados de Trump pediram o perdão presidencial depois de apoiarem as tentativas do republicano de reverter sua derrota nas eleições de 2020.

As outras cinco audiências deste mês tiveram testemunhos de figuras importantes, como o da filha mais velha de Trump, Ivanka, e o do ex-secretário de Justiça Bill Barr. Eles e outros depoentes disseram não acreditar nas falsas alegações de fraude do republicano e que tentaram, sem sucesso, dissuadi-lo.

Trump nega quaisquer irregularidades e acusa o comitê de promover uma caça às bruxas política.


VEJA DESTAQUES DO QUE FOI REVELADO EM CADA UMA DAS AUDIÊNCIAS:


1) 9.jun Trump foi acusado de "conspiração contra a democracia". Após a exibição de depoimentos de diversas pessoas próximas ao ex-presidente, a deputada republicana Liz Cheney disse que as evidências provam que ele convocou e reuniu a multidão e "acendeu a chama" para o ataque.

2) 13.jun Os principais conselheiros de Trump alertaram o republicano de que suas alegações de fraude eram infundadas e não reverteriam sua derrota, mas o então chefe da Casa Branca se recusou a ouvi-los. Para William Barr, que atuou como secretário de Justiça no governo do republicano e era considerado leal a ele, Trump "perdeu o contato com a realidade".

3) 16.jun Trump foi denunciado por ter pressionado seu vice, Mike Pence, a contestar a vitória de Biden. De acordo com familiares do ex-presidente, os dois brigaram por telefone no dia da invasão. Um ex-assessor de Trump disse que ouviu a palavra "covarde" na discussão.

4) 21.jun Foram apresentados relatos de testemunhas que disseram ter sofrido pressão do ex-presidente para inverter o resultado das urnas em estados nos quais ele havia sido derrotado. "Esses servidores públicos não seguiram o plano dele, e Trump fez de tudo para ter certeza de que sofreriam consequências", afirmou Bennie Thompson.

5) 23.jun Comissão mostrou que Trump usou o Departamento de Justiça para tentar se manter no poder.

6) 28.jun Ex-assessora afirma que Trump sabia que seus apoiadores estavam armados e poderiam se tornar violentos no dia da invasão do Capitólio, mas mesmo assim quis retirar medidas de segurança

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