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Crise política no Equador se agrava após renúncia de quatro ministros

Titulares das pastas de Economia, Saúde, Transporte e Educação Superior pedem demissão na esteira de protestos antigoverno

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Quito | Reuters

Depois de semanas de protestos, a crise política no Equador se agravou nesta terça-feira (5) com a renúncia de quatro ministros —Simon Cueva, da Economia, Ximena Garzon, da Saúde, Marcelo Cabrera, do Transporte e Obras Públicas, e Alejandro Ribadeneira, da Educação Superior.

Um porta-voz afirmou que a saída de Cueva, que será substituído pelo economista Pablo Arosemena Marriott, atual governador de Guayas, deve-se a uma "decisão própria" tomada há "alguns meses".

Os gabinetes, porém, passam por uma reestruturação após 18 dias de protestos no país, nos quais os manifestantes pediram preços mais baixos para os combustíveis e limites à expansão das indústrias de mineração e petróleo. Ao menos seis civis morreram nos atos, que levaram milhares às ruas.

Além de Marriott, houve uma dança das cadeiras. O empresário Darío Vicente Herrera Falcones passa do Ministério do Desenvolvimento Urbano para o de Transporte e Obras Públicas. No posto que deixou vago na pasta anterior, entra a arquiteta María Gabriela Aguilera Jaramillo, que, por sua vez, era vice de Falcones. Da mesma maneira, a antes subsecretária Andrea Alejandra Montalvo Chedraui foi promovida a secretária de Educação Superior. Ainda não houve a escolha para o cargo de titular da Saúde.

Manifestantes marcham na capital Quito em meio aos protestos contra o governo
Manifestantes marcham na capital Quito em meio aos protestos contra o governo - Martin Bernetti - 30.jun.22/AFP

Antes das demissões, Lasso, na Presidência há um ano, escapou na terça passada (28) de um processo de impeachment pleiteado pela oposição, que o acusava de inabilidade para lidar com os atos.

Um pacto para acabar com a crise foi assinado na semana passada entre o governo e lideranças indígenas, numa reunião mediada pela Igreja Católica. Na carta de renúncia que entregou ao presidente na segunda (4), a agora ex-ministra Garzon disse a Lasso estar "profundamente grata pela oportunidade dada e orgulhosa por ter contribuído para controlar a pandemia de Covid-19".

Cueva, da Economia, havia sido nomeado no ano passado com a tarefa de cortar o déficit fiscal, que o governo espera reduzir em US$ 2 bilhões neste ano. Com o acordo firmado na semana passada, a Conaie, maior organização indígena do país, afirmou que considera oficialmente encerrada o que chama de primeira etapa dos atos e que, em 90 dias, avaliará o cumprimento dos compromissos firmados.

A Conferência Episcopal Equatoriana, na leitura da ata, disse que o governo se comprometeu a reduzir mais US$ 0,05 no preço do galão do diesel e no da gasolina, levando a redução total a US$ 0,15 —no primeiro anúncio de diminuição, os protestos não cessaram. Antes, a Conaie pedia redução de US$ 0,40.

O presidente celebrou o acordo, que descreveu como o retorno da paz ao país. "Agora começaremos, juntos, a tarefa de transformar essa paz em progresso, bem-estar e oportunidades a todos", disse ele, que não participou do acordo final —o governo foi representado pelo ministro de Governo, Francisco Jiménez.

A Conaie, por sua vez, tratou o pacto como uma vitória da mobilização popular. Ainda que a redução final no preço não tenha correspondido ao valor solicitado, a confederação lembrou que outras demandas foram atendidas, entre as quais a revogação de um decreto presidencial que permitia ao Estado ampliar as fronteiras de extração de combustíveis fósseis, em grande parte na região da Amazônia equatoriana.

O governo também se comprometeu a derrubar o estado de exceção que havia decretado em quatro províncias. A medida permitia o uso de militares nas ruas e a suspensão do direito de livre associação, além de instituir toque de recolher noturno de 8 horas em algumas regiões e de 10 horas em outras.

A mobilização iniciada no dia 13 de junho chegou a registrar atos com mais de 10 mil indígenas nas ruas de Quito. Ao menos seis pessoas morreram, e 600 ficaram feridas. Outros 150 foram detidos pela polícia. Há, ainda, o impacto econômico, com o governo afirmando que a produção de petróleo foi muito afetada.

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