No Brasil, secretário de Biden defende democracia e controle civil sobre militares

Lloyd Austin participa de encontro em Brasília sobre segurança nas Américas e ecoa posicionamento de Washington

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Brasília

O secretário de Defesa dos EUA, Lloyd Austin, afirmou nesta terça (26), em viagem ao Brasil, que as Forças Armadas dos países da América devem estar sob "firme controle civil" e fez um discurso em defesa da democracia e do Estado democrático de Direito.

Austin, general reformado escolhido por Joe Biden para formular as políticas americanas de defesa, está no país para participar do encontro multilateral sobre segurança das Américas, que tem o Brasil como sede para o biênio 2021/2022. Os encontros ocorrem em Brasília.

Lloyd Austin, secretário de Defesa dos EUA, em Brasília, na conferência de ministros de Defesa das Américas - Adriano Machado - 26.jul.22/Reuters

"Uma dissuasão confiável exige forças militares e de segurança que estejam prontas, capazes e sob firme controle civil. E exige que os Ministérios da Defesa atendam seus cidadãos de forma transparente e sem corrupção", afirmou o americano em um discurso de quase oito minutos.

Austin afirmou que, durante a pandemia de Covid, o "Estado de Direito, os direitos humanos e a dignidade humana foram atacados" nas Américas. Ele ainda citou discurso do presidente dos EUA ao dizer que a democracia é o "símbolo das Américas" que deve ser preservado.

"Nossos países não estão apenas unidos pela geografia. Também nos aproximamos por nossos interesses e valores comuns: o profundo respeito pelos direitos humanos, o compromisso com o Estado de Direito e a devoção à democracia."

Antes do discurso, uma autoridade da Defesa americana, sob condição de anonimato, havia antecipado à agência Reuters que Austin deveria fazer coro aos pedidos para que militares respeitem o sistema democrático no Brasil —no que seria uma resposta a insinuações golpistas que Jair Bolsonaro (PL) tem feito, utilizando-se das Forças Armadas para atacar o sistema eleitoral e as urnas eletrônicas.

A posição do secretário configura uma continuidade no esforço de Washington para defender a confiança na Justiça Eleitoral. Na última semana, depois de Bolsonaro repetir as ameaças em uma reunião com embaixadores em Brasília, a representação diplomática americana no país afirmou, em nota, que os EUA confiam na "força das instituições democráticas brasileiras".

Ned Price, porta-voz do Departamento de Estado, também deu declarações descrevendo o sistema eleitoral do Brasil como um modelo.

A manifestação é semelhante a outra da ministra de Defesa Nacional do Canadá, Anita Anand. "Cada um dos países nas Américas existe hoje porque, em momento específico de nossas histórias, decidimos que nosso povo tem o direito de determinar o próprio futuro", disse. "A Conferência de Ministros de Defesa das Américas tem o dever de se posicionar: apoiamos a democracia e a determinação de todas as nações", concluiu, citando a Guerra da Ucrânia.

Durante o evento de oficialização de sua candidatura no último fim de semana, Bolsonaro defendeu o papel dos militares em seu governo, alçados a diversos postos de administração e comando de estatais.

O deputado democrata Tom Malinowski, membro do Comitê de Relações Exteriores da Câmara americana, disse à Reuters que Austin deveria deixar claro que os militares têm o dever de permitir que disputas eleitorais sejam resolvidas por meios constitucionais. "E [Austin] deve lembrar que a lei dos EUA impede nossa cooperação com militares estrangeiros que participam de qualquer coisa que possa se assemelhar a um golpe."

Sob o atual governo, militares têm promovido questionamentos ao sistema de urnas eletrônicas, algo até então incomum para as Forças Armadas, o que coincide com o discurso de Bolsonaro, que busca desacreditar o modelo e propagar discursos sem fundamento.

Ainda à Reuters Nicholas Zimmerman, ex-assessor da Casa Branca, disse que "o risco de que alguns membros das Forças Armadas acompanhem os esforços antidemocráticos deve ser levado a sério".

Nesta terça (26), uma comitiva de representantes de 19 entidades brasileiras realizou reuniões em Washington para discutir o risco de golpe no Brasil. Pela manhã, o grupo foi recebido no Departamento de Estado, órgão que chefia a diplomacia americana, e por membros da Comissão de Relações Exteriores da Câmara. À tarde haveria conversas com parlamentares, incluindo o senador Bernie Sanders.

Os integrantes pediram às autoridades americanas que reconheçam rapidamente o resultado das eleições de outubro no Brasil, para reduzir a possibilidade de uma tentativa de reversão do resultado. Também relataram ataques recentes contra a democracia no Brasil.

O grupo que visita os EUA inclui entidades como Artigo 19, Conectas, Comissão Arns, Greenpeace Brasil, ABGLT, Apib (Articulação dos Povos Indígenas do Brasil), Conaq (Coordenação Nacional de Articulação das Comunidades Negras Rurais Quilombolas), Geledés (Instituto da Mulher Negra) e Instituto Vladimir Herzog.

Colaborou Rafael Balago, de Washington. Com Reuters

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