Bolsonaro diz que 'não deixou de falar a verdade' sobre Boric após Chile convocar embaixador

Presidente critica reação de Santiago a acusação feita contra esquerdista em debate no domingo

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Brasília | Reuters

O presidente Jair Bolsonaro (PL) afirmou nesta terça-feira (30) que não deixou de falar a verdade sobre o homólogo chileno Gabriel Boric em um debate na TV no último domingo (28). Acusações feitas pelo brasileiro fizeram com que Santiago convocasse o embaixador brasileiro.

"O presidente do Chile agora começou a chamar o embaixador, uma maneira que ele tem de mostrar a insatisfação comigo. Se eu exagerei ou não, não deixei de falar a verdade", disse. "A Constituinte do Chile vai na contramão do que qualquer país democrático quer. Isso é problema deles? É problema deles, mas o cidadão lá teve o apoio de um cara aqui do Brasil."

O principal adversário de Bolsonaro no pleito de outubro, o ex-presidente Luiz Inácio Lula da Silva (PT), manifestou apoio a Boric na eleição chilena —enquanto o atual mandatário endossou a candidatura do ultradireitista José Antonio Kast. O Chile realiza no próximo domingo (4) um plebiscito sobre a proposta de nova Constituição.

O presidente Jair Bolsonaro em evento em Brasília - Adriano Machado - 30.ago.22/Reuters

Bolsonaro participou nesta terça de evento do Instituto União Nacional de Entidades do Comércio e Serviços (Unecs), em Brasília.

Na véspera, o governo chileno havia feito a convocação do representante da chancelaria brasileira para prestar esclarecimentos. Essa medida, nos meios diplomáticos, é uma forma de expressar desagrado de um governo com alguma ação de outro país —no caso, com as declarações de Bolsonaro durante debate entre os candidatos à Presidência, quando tentava atacar Lula.

"Lula também apoiou o presidente do Chile, o mesmo que praticava atos de tacar fogo em metrôs lá no Chile. Para onde está indo nosso Chile?", disse Bolsonaro, nas declarações finais do debate organizado por Folha, UOL e TVs Bandeirantes e Cultura. Na fala, ele ainda criticou outros líderes de esquerda na região —vitórias eleitorais recentes desse campo aumentaram seu isolamento regional.

Com origem na política estudantil, Boric participou dos protestos de 2011 pela gratuidade do sistema de ensino superior e foi eleito deputado pela primeira vez em 2014. Em outra onda de protestos, em 2019 —na qual o transporte público da capital chilena foi vandalizado, como citado por Bolsonaro—, o atual presidente do Chile não foi parte do movimento.

Ele, porém, apoiou as reivindicações dos manifestantes e foi um dos líderes responsáveis pelo acordo que abriu as portas para o plebiscito da Constituinte.

"[As acusações de Bolsonaro] são absolutamente falsas. O uso político da relação bilateral com fins eleitorais, com base em mentiras, desinformação e tergiversação, erode não apenas o vínculo entre nossos países como também a democracia", disse a ministra de Relações Exteriores chilena, Antonia Urrejola, na segunda (29).

Em nota na qual reforçou que Boric já manifestou publicamente ter diferenças com seu homólogo mas defende a importância da relação das duas nações, a chancelaria chilena destacou que as declarações de Bolsonaro eram inaceitáveis. "Não condizem com o trato respeitoso que deve haver entre chefes de Estado nem com as relações fraternas entre os dois países latino-americanos."

Em sua campanha à reeleição, Bolsonaro tem feito seguidas críticas aos governos de esquerda da região, muitas vezes apontando problemas econômicos. A tentativa é de atingir Lula, que lidera as pesquisas de intenção de voto e mantém proximidade com os líderes atacados por Bolsonaro.

Na declaração final do debate de domingo, o presidente começou a fala elencando críticas à ditadura na Venezuela e ao atual presidente argentino, Alberto Fernández. "Olha para onde está indo a economia da nossa Argentina". Por fim, após acusar Boric, estendeu a crítica ao colombiano Gustavo Petro, a quem acusou de querer "liberar as drogas e soltar presos" —ele assumiu prometendo uma mudança no paradigma da guerra ao narcotráfico—, e ao nicaraguense Daniel Ortega, mencionando a perseguição religiosa promovida pela ditadura.

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