Descrição de chapéu América Latina

Chile luta para combater fake news sobre plebiscito de nova Constituição

Analistas veem desinformação sobre nova Carta como mais complexa de desmentir do que a sobre Covid

  • Salvar artigos

    Recurso exclusivo para assinantes

    assine ou faça login

Santiago | Reuters

A nova Constituição proposta no Chile quer proibir a propriedade privada e permitir abortos no nono mês de gestação. Empresas privadas farão a contagem dos votos. Uma enxurrada de prisioneiros e migrantes serão autorizados a votar no próximo referendo.

Todas essas histórias se tornaram virais em plataformas de mídia social como Facebook, Instagram, Twitter, TikTok e WhatsApp no Chile, enquanto os cidadãos se preparam para opinar sobre a nova Constituição no próximo domingo (4). Todas elas são, no mínimo, imprecisas —para não dizer completamente falsas.

Mulher recebe cópia do projeto da nova constituição do Chile em frente ao palácio presidencial La Moneda, em Santiago
Mulher recebe cópia do projeto da nova constituição do Chile em frente ao palácio presidencial La Moneda, em Santiago - Martin Bernetti - 11.ago.22/AFP

Um ano depois que protestos violentos contra a desigualdade abalaram o país, quase 80% dos chilenos votaram em 2020 a favor da criação de uma Assembleia que elaborasse uma nova Constituição, para substituir o texto escrito sob a ditadura de Augusto Pinochet. Mas esse apoio caiu, e as pesquisas mostram que os eleitores estão mais propensos a rejeitar o projeto.

A proposta, escrita por legisladores predominantemente independentes e progressistas, está facilmente disponível nas ruas, online ou em formato de podcast. Com foco em direitos sociais e meio ambiente, ela representa uma mudança acentuada em relação à atual Constituição, mais orientada para o mercado.

Paulina Valenzuela, estatística da empresa de pesquisa pública Datavoz, diz que a maior parte da desinformação no último ano se concentrou nos constituintes que estavam redigindo o documento, mas que ela mudou para o novo texto em si depois que ele foi concluído, no início de julho.

"Mais do que falsos, eu diria que são meias verdades. Avançam em pontos nos quais há dúvidas sobre como a norma ou o artigo deve ser interpretado", diz. Segundo ela, é difícil quantificar o impacto da desinformação nas pesquisas, mas 65% dos entrevistados relataram ter se deparado com algo do tipo na última semana de julho.

Fábian Padilla, que fundou o site de checagem Fact Check CL durante os protestos de 2019, afirma que esses serviços não podem apontar como falsas interpretações legais —em contraste, por exemplo, com alegações médicas patentemente falsas que circularam na pandemia de coronavírus.

"Com a Covid, a desinformação foi muito consistente, repetindo padrões, alguns muito absurdos. Mas com o texto constitucional isso é discutível", diz. O processo leva a consultas com especialistas jurídicos e tempos de verificação mais longos. "Dói quando uma checagem demora, porque sabemos que cada dia a mais significa milhões e milhões de visualizações daquela mentira."

Marcelo Mendoza, professor de informática da PUC Chile, que estuda a disseminação de desinformação, conta que alegações falsas sobre a nova Constituição circulam três vezes mais rápido no Twitter do que notícias de veículos confiáveis. "Elas causam a maior parte de seu impacto em 24 horas, prazo que as empresas de mídia social lutam para romper. Eles sempre chegam tarde", diz.

O próprio plebiscito e o órgão eleitoral chileno, o Servel, foram alvo de desinformação. O presidente do colegiado, Andrés Tagle, diz que este é o quinto ciclo eleitoral em que a agência é atingida, com ataques marcados por intensidade crescente e efeito cumulativo na confiança do público.

A Meta e o Twitter disseram estar trabalhando ativamente com o governo e verificadores de conteúdo para ajudar a impedir a disseminação de desinformação. A Meta afirmou que ativou uma equipe de resposta rápida no Facebook e no Instagram para identificar violações, firmou parcerias com agências como a Fast Check CL e age para limitar o alcance de postagens consideradas enganosas.

No WhatsApp, a empresa disse que se concentra em reduzir a viralização das mensagens.

Mas Tagle vê as medidas como aquém do necessário. Ele defende a regulamentação das plataformas, responsabilizando-as pelas postagens caso não consigam identificar o usuário.

  • Salvar artigos

    Recurso exclusivo para assinantes

    assine ou faça login

Tópicos relacionados

Leia tudo sobre o tema e siga:

Comentários

Os comentários não representam a opinião do jornal; a responsabilidade é do autor da mensagem.