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Novo conflito na Etiópia põe fim a meses de cessar-fogo no Tigré

Região separatista ao norte volta a enfrentar forças da administração de Abiy Ahmed

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Nairóbi | Reuters e AFP

Colocando fim a um cessar-fogo de cinco meses, combates entre rebeldes da região do Tigré, no norte da Etiópia, e forças do governo central eclodiram nos arredores da cidade de Kobo nesta quarta-feira (24). Cada lado culpou o outro pela retomada dos conflitos.

A luta é um golpe nas esperanças de negociações de paz entre o governo do primeiro-ministro Abiy Ahmed e a Frente de Libertação Popular do Tigré (TPLF), partido que controla a região separatista de mesmo nome.

Os combates na segunda nação mais populosa da África começaram em novembro de 2020 e deslocaram milhões de pessoas, empurrando porções consideráveis da região do Tigré para a fome e deixando um saldo de milhares de civis mortos.

Imagem de junho de 2021 mostra fazendeiros caminhando ao lado de tanque na região do Tigré - Yasuyoshi Chiba - 20.jun.21/AFP

A disputa opõe o governo sediado em Adis Abeba, chefiado por Abiy Ahmed há quatro anos, e os insurgentes da TPLF —grupo que liderou a coalizão que governou a Etiópia de 1991 a 2018, numa fase marcada por autoritarismo e denúncias de corrupção.

Na terça (23), os militares acusaram os rebeldes do Tigré de se prepararem para atacar e cobrir seus rastros espalhando notícias falsas nas redes sociais. "Tornou-se um segredo aberto que eles [TPLF] estão fazendo campanha para incriminar nosso Exército", disse o comunicado do governo, acusando os rebeldes de divulgarem "propaganda pré-conflito".

O comando militar das forças rebeldes, por sua vez, acusou o governo de violar o cessar-fogo, afirmando em comunicado que acredita que o ataque perto de Kobo foi uma distração e que suas forças esperam uma nova grande ofensiva.

"O processo de paz está sendo preparado para fracassar", afirmou Debretsion Gebremichael, líder da TPLF. Ele também acusa o governo de reter serviços-chave e promover bloqueios no entorno da região; o governo nega.

Redwan Hussein, conselheiro de segurança nacional do primeiro-ministro, afirmou que o Exército etíope derrubou um avião que transportava armas para o Tigré. Mas Getachew Reda, porta-voz da TPLF, afirmou que a declaração era "uma mentira descarada".

A guerra civil na região eclodiu há quase dois anos e se espalhou para as regiões vizinhas de Afar e Amhara em meados de 2021. Em novembro passado, as forças do Tigré chegaram a marchar em direção a Adis Abeba, mas foram repelidas por uma ofensiva do governo.

Um cessar-fogo foi anunciado em março, depois que o governo declarou uma trégua humanitária para que alimentos pudessem chegar à área em disputa. De acordo com a ONU, quase 90% das pessoas no Tigré precisam de ajuda, as taxas de desnutrição dispararam e a situação deve piorar até a colheita de outubro.

Nesta quarta, o secretário-geral da ONU, António Guterres, exortou a retomada do cessar-fogo, com negociações de paz, acesso humanitário total e o restabelecimento dos serviços públicos no Tigré. A região está sem serviços bancários e de comunicação desde o final de junho, e as importações de combustível estão restritas, limitando a distribuição da ajuda.

Em junho, o governo de Ahmed formou um comitê para negociar com a TPLF, e no início deste mês disse querer conversas "sem condições prévias". O governo do Tigré pediu a restauração dos serviços aos civis antes do início dos diálogos, num apelo ecoado por diplomatas.

O primeiro-ministro, vencedor do prêmio Nobel da Paz, chegou ao cargo em meio a protestos populares e, de forma vista como promissora, passou a implementar reformas liberais no país. Rapidamente, porém, entrou em atrito com a TPLF.

Para os líderes da região do Tigré, os projetos visavam à centralização do poder na Etiópia e, portanto, à perda de autonomia regional —um dos pilares políticos das últimas décadas no país.

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