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Ataques no Tigré mataram civis e crianças, diz ONU; Etiópia faz nova ofensiva

Região controlada por insurgentes registra terceira ação do governo central em três dias

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Adis Abeba (Etiópia) | Reuters

As forças do governo da Etiópia, liderado pelo primeiro-ministro Abiy Ahmed Ali, voltaram a fazer ataques, nesta quarta-feira (20), no Tigré, no norte do país, base de um grupo opositor insurgente que defende a autonomia da região.

De acordo com a ONU (Organização das Nações Unidas), a ofensiva, a terceira em três dias, acabou atingindo civis, inclusive crianças e mulheres. O movimento indica que a Etiópia tem entrado em um novo ciclo de violência e disputas.

Horas depois do ataque, o governo disse que os ataques desta quarta miraram um centro de treinamento militar e um depósito de armas que seriam usados pelos rebeldes da TPLF (Frente de Libertação do Povo do Tigré) –o local fica cerca de 80 quilômetros a oeste de Mekelle, capital da região.

Fumaça sai do local alvo de um ataque aéreo, por parte do governo etíope, em Mekelle, capital da região de Tigré, na Etiópia
Fumaça sai do local alvo de um ataque aéreo, por parte do governo etíope, em Mekelle, capital da região de Tigré, na Etiópia - Reuters

“A TPLF tem escondido munições e artilharia pesada em locais de culto e usado pessoas comuns como escudo humano", afirmou o porta-voz do governo, Legesse Tulu.

À agência de notícias Reuters, duas testemunhas e uma pessoa que atua nos serviços de ajuda humanitária no país disseram que o ataque acertou um complexo de indústrias, que, segundo acredita o governo central, daria apoio aos insurgentes. Em novembro Adis Abeba congelou as contas da empresa, alegando evidências de um apoio à TPLF.

Um dos líderes das forças opositoras, Debretsion Gebremichael negou os argumentos de Adis Abeba, apontando que os mísseis atingiram uma empresa privada sem ligação com o grupo.

Segundo a mídia local, ligada aos rebeldes, nove civis foram atingidos, incluindo uma criança de cinco anos. Não há relatos de mortes.

A explosão ainda quebrou as janelas do principal hospital de Mekelle, a cerca de um quilômetro do complexo industrial, e danificou casas próximas, de acordo com um médico da instituição de saúde. Ele contou às agências de notícias que cinco feridos foram levados ao local.

“Quatro deles eram empregados da fábrica e o quinto é uma mulher que mora perto do local. A casa dela foi destruída pelo ataque aéreo”, disse.

Na segunda (18), o governo etíope já havia realizado dois ataques aéreos no Tigré. Em um deles, três crianças foram mortas e um adulto ficou ferido, conforme profissionais de saúde relataram às Nações Unidas.

Na outra investida, mais nove pessoas ficaram feridas e casas e hotéis foram danificados, de acordo com Jens Larke, porta-voz do Escritório de Coordenação de Assuntos Humanitários da ONU. "Essa escalada do conflito é muito alarmante", disse, na segunda-feira.

Inicialmente, o governo de Ahmed (vencedor do Nobel da Paz de 2019) havia negado os ataques, mas depois confirmou que a ofensiva mirou estruturas de comunicação, com medidas para evitar alvos civis.

A disputa atual opõe o governo sediado em Adis Abeba, chefiado pelo atual primeiro-ministro há três anos, e os insurgentes da TPLF —grupo que liderou a coalizão que governou a Etiópia de 1991 a 2018, numa fase marcada por autoritarismo e denúncias de corrupção.

Ahmed chegou ao cargo em meio a protestos populares e, de forma vista como promissora, passou a implementar reformas liberais no país. Rapidamente, porém, entrou em atrito com a TPLF. Para os líderes da região do Tigré, os projetos visavam à centralização do poder na Etiópia e, portanto, à perda de autonomia regional —um dos pilares políticos das últimas décadas no país.

O conflito atual começou em novembro, quando o premiê acusou os rebeldes de atacar as forças do governo central e, como resposta, lançou ofensivas contra a região. A TPLF reagiu rapidamente e não apenas retomou o controle do Tigré como avançou nas regiões vizinhas de Amhara e Afar.

O governo central declarou, então, um cessar-fogo unilateral e impôs restrições ao acesso humanitário às zonas controladas pelos insurgentes. Em julho, os embates retornaram, com as ofensivas de Adis Abeba se consolidando agora, na esteira da reeleição de Ahmed e sua posse para um segundo mandato, no começo do mês.

O governo de Joe Biden tem criticado o político etíope, e sanções a comandantes dos dois lados do conflito já são esperadas nas próximas semanas. Enquanto isso, quase 2 milhões de pessoas já foram deslocadas pelo conflito e, segundo a ONU, 5 milhões precisam de ajuda humanitária, sendo que centenas de milhares estão em condição próxima à da fome.

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