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Cristina Kirchner diz que é inocente e relaciona pedido de prisão a ataque

Vice-presidente finaliza defesa em uma das cinco ações a que responde e afirma que vai processar promotor

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Buenos Aires

A vice-presidente argentina, Cristina Kirchner, voltou a declarar sua inocência em um processo no qual é acusada de corrupção e pediu uma investigação sobre os promotores que conduzem o caso. No final de agosto, eles propuseram 12 anos de prisão e a perda de direitos políticos de Cristina.

A fala da ex-presidente nesta sexta-feira (23) encerrou formalmente sua defesa nesse caso, que agora segue em avaliação da Justiça. Uma sentença é esperada para os próximos meses.

Cristina é acusada de liderar um esquema de corrupção na concessão de obras públicas durante sua gestão e na de seu antecessor e marido, Néstor Kirchner (2003-2015). Segundo o Ministério Público, ambos teriam favorecido o empresário Lázaro Báez, que também é réu, em contratos envolvendo estradas e vias públicas na província de Santa Cruz —da qual Kirchner foi governador.

A vice-presidente da Argentina, Cristina Kirchner, aguarda em seu gabinete para apresentar de forma virtual sua defesa em processo em que é acusada de corrupção - Charo Larisgoitia - 23.set.22/Divulgação/AFP

A atual vice-presidente apresentou-se à corte nesta sexta na qualidade de advogada de si mesma, ao final da defesa apresentada por um de seus advogados, Carlos Beraldi.

"Não se pode acreditar no modo como se levou adiante esse processo. Quero fazer um pedido formal a este tribunal para que se tome o depoimento de todos os envolvidos e se exponham as mentiras dos promotores, que serão contrastadas com as provas documentais trazidas pela minha defesa", afirmou. Ela acrescentou que iniciará um processo contra os promotores Diego Luciani e Sergio Mola.

Cristina afirmou ainda que a causa não tem lógica, porque quando seu marido chegou ao poder a Argentina passava "por uma crise tremenda". Por esse argumento, não faria sentido que sua principal preocupação fosse superfaturar obras em sua província. Néstor Kirchner governou o país entre 2003 e 2007, logo depois da crise política e econômica de 2001, e morreu em 2010.

A vice-presidente também disse que, se ela fosse líder de uma associação ilícita, tampouco poderia ser acusada pelo promotor Luciani. "Isso porque fui eu quem o autorizei a ser promotor, e os fatos decorrentes de uma associação ilícita são ilegais."

Ela fez referência ao atentado contra sua vida no último dia 1º, apontando que o pedido de condenação de Luciani foi o que fez "com que se armasse um circo" diante de sua residência, na Recoleta. O ataque, perpetrado pelo brasileiro Fernando Andrés Sabag Maciel, ocorreu depois de dias de acampamento de apoiadores e de protestos diante do edifício.

E criticou a Justiça argentina, acusando impunidade contra quem comete grandes crimes no país. "Os juízes que me julgam jogam pádel [jogo de raquetes] com [o ex-presidente Maurício] Macri. Assim como quem eu considero que seja o líder da 'gangue do algodão-doce'", disse, em referência ao apelido do grupo acusado pelo ataque. Cristina sustenta que os quatro estariam vinculados a aliados de seu sucessor no mundo empresarial.

Antes da fala da vice-presidente, Beraldi afirmou que todas as licitações haviam passado por perícia e eram legítimas. "As 51 obras foram aprovadas de acordo com as regras da província de Santa Cruz. Nem sequer é um atributo presidencial realizar esses procedimentos", afirmou.

Lázaro Báez já foi condenado a 12 anos de cadeia por lavagem de dinheiro, mas também responde a esse processo, junto a outras 13 pessoas.

Mesmo que a sentença confirme a condenação de Cristina, ela possui imunidade por ser vice-presidente e líder do Senado. O Congresso teria de aprovar seu impeachment para que fosse aplicada a pena. No ano que vem, porém, há eleição na Argentina. Embora o peronismo ainda não tenha definido seu candidato, é possível que ela dispute a corrida para a Presidência ou para o Senado —se ganhar, também manteria a imunidade.

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