Morre xeque Youssef al-Qaradawi, um dos mentores da Primavera Árabe, aos 96

Líder espiritual da Irmandade Muçulmana, clérigo era considerado moderado em relação a radicais da Al-Qaeda

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Beirute | Reuters e AFP

Líder espiritual da Irmandade Muçulmana e um dos mentores da Primavera Árabe em 2011, o xeque egípcio Youssef al-Qaradawi morreu nesta segunda-feira (26), aos 96 anos. Qaradawi passou parte da vida no Qatar, onde se tornou um dos clérigos sunitas mais reconhecidos e influentes do mundo árabe, graças a aparições regulares na rede Al Jazeera.

Transmitidos para milhões de pessoas, seus sermões geraram descontentamentos que levaram a Arábia Saudita e seus aliados do Golfo a impor um bloqueio ao Qatar em 2017, declarando Qaradawi terrorista.

Youssef al-Qaradawi, mentor da Primavera Árabe que morreu aos 96 anos, durante conferência em Doha - Mohammed Dabbous - 23.jun.14/Reuters

A morte foi anunciada em sua conta oficial no Twitter, e a causa não foi divulgada. Ele morreu no Qatar, onde vivia no exílio após a derrubada, por militares, do governo da Irmandade Muçulmana no Egito em 2013.

Qaradawi, que estudou na Universidade Al-Azhar do Cairo, era frequentemente descrito por apoiadores como um moderado que oferecia um contrapeso às ideologias radicais defendidas pela Al Qaeda —ele condenou veementemente os ataques de 11 de Setembro nos EUA.

Apesar da moderação, ele referendou a violência em alguns episódios. Após a invasão americana do Iraque em 2003, apoiou ataques da insurgência contra as forças da coalizão; também defendeu homens-bomba palestinos em suas ofensivas contra alvos israelenses no ano 2000. A postura fez com que diversos países ocidentais proibissem a entrada dele em seus territórios.

Qaradawi ingressou na Irmandade Muçulmana ainda jovem. Defendendo o Islã como um programa político, o grupo é visto como uma ameaça por líderes árabes autocráticos desde que foi fundado, em 1928, no Egito por Hassan al-Banna, que Qaradawi conhecia.

O clérigo recusou a chance de liderar a organização, concentrando-se na pregação e no conhecimento islâmico e na conquista de seguidores que se estendiam para além do grupo. Durante os levantes da Primavera Árabe, pediu que o ditador líbio Muammar Gaddafi fosse morto e declarou luta contra o governo do sírio Bashar al-Assad.

Sua proeminência cresceu após as revoltas de 2011.

Ao visitar o Cairo após a queda do presidente Hosni Mubarak, ele disse a uma praça Tahrir lotada que o medo havia sido retirado dos egípcios que derrubaram um faraó moderno. Sua aparição simbolizava as mudanças na região, com islamistas há muito oprimidos desfrutando de novas liberdades e um membro da Irmandade, Mohamed Mursi, sendo eleito presidente em 2012.

Quando os militares, encorajados por protestos, derrubaram Mursi um ano depois, Qaradawi condenou a nova ordem militar e sua repressão à Irmandade. O xeque pediu um boicote à eleição presidencial que tornou o comandante do Exército Abdel Fattah al-Sisi presidente em 2014. "O dever da nação é resistir aos opressores, conter suas mãos e silenciar suas línguas."

Sentença de morte

"Ele é alguém comprometido com a democracia e a soberania popular de uma perspectiva islâmica", disse David Warren, estudioso do islã e pesquisador da Universidade de Washington. "Mas ser um democrata não significa que alguém tenha que ser um pacifista."

Qaradawi foi julgado e condenado à morte por um tribunal egípcio em 2015, junto com Mursi e cerca de 90 outros. O xeque afirmou que a sentença, relacionada a uma fuga em massa da prisão em 2011, era absurda e violava a lei islâmica.

O xeque também se opôs ao Estado Islâmico, dizendo que discordava totalmente de suas "ideologias e meios", e apoiou firmemente a luta palestina com Israel. Em uma visita a Gaza em 2013, organizada pelo grupo islâmico Hamas, Qaradawi disse: "Devemos buscar libertar a Palestina, toda a Palestina, centímetro por centímetro".

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