Irã admite 35 mortos em protestos e organiza atos de apoio ao véu

Polícia disse ter detido 700 manifestantes em apenas uma província, incluindo 60 mulheres

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Paris | AFP e Reuters

De acordo com balanço oficial divulgado neste sábado (24), pelo menos 35 pessoas morreram nos protestos que começaram no Irã há mais de uma semana após a morte de uma jovem presa por usar o véu islâmico, segundo o regime do país, de forma inapropriada.

Manifestantes foram às ruas das principais cidades do Irã, incluindo Teerã, por oito noites consecutivas desde a morte de Mahsa Amini, 22, que entrou em coma após ser detida pela polícia moral do Irã.

Manifestantes defendem uso do véu islâmico em Teerã, em atos contrários aos protestos que tomam o país desde a morte de Mahsa Amini - 23.set.22/AFP

O regime reagiu, cortando a internet e reprimindo os atos por meio das forças de segurança. Na sexta, o Estado também organizou comícios em várias cidades em apoio ao uso do hijab e contra os protestos.

A mídia estatal, que vinha admitindo 17 mortos nas manifestações, elevou o número para 35, entre os quais cinco membros das forças de segurança. Entidades de direitos humanos contestam o número: a ONG Direitos Humanos do Irã, sediada em Oslo, calculava ao menos 50 mortes até quinta-feira (22).

O número de manifestantes presos também não está claro. A mídia local vinha relatando 280, mas neste sábado a polícia iraniana admitiu que ao longo da semana de protestos prendeu, em uma só província, mais de 700 pessoas, incluindo 60 mulheres, informou a agência de notícias Tasnim. Entre os ativistas e os jornalistas presos está Niloufar Hamedi, do jornal reformista Shargh, que noticiou a morte de Amini.

Também neste sábado, o presidente iraniano, Ebrahim Raisi, disse que será firme contra as manifestações. Citado pela mídia estatal, ele chamou os atos de "tumulto" e afirmou que é preciso "distinguir protestos de perturbação da ordem e da segurança públicas". Ele disse ainda que vai "lidar decisivamente com aqueles que se opõem à segurança e à tranquilidade do país".

Por telefone, o líder iraniano prestou condolências à família de um membro de uma força de segurança voluntária morto enquanto ajudava a reprimir manifestantes na cidade de Mashhad, no nordeste do país.

Na sexta-feira, milhares de pessoas saíram às ruas de Teerã em uma manifestação a favor do hijab, em homenagem às forças de segurança que tentam sufocar o que a mídia oficial chama de "conspiradores".

Atos em apoio às forças de segurança também foram realizadas em Ahvaz, Isfahan, Qom e Tabriz.

AK-47 contra manifestantes

Vídeos dos protestos de sexta-feira contra o regime mostram confrontos na capital e em outras grandes cidades, como Tabriz. Algumas imagens exibem forças de segurança nas cidades de Piranshahr, Mahabad e Urmia disparando o que parecia ser munição letal contra manifestantes desarmados.

Em um registro compartilhado pela ONG Direitos Humanos Irã, um membro uniformizado das forças de segurança dispara com um fuzil AK-47 contra manifestantes no Ferdowsi Boulevard, em Teerã.

De acordo com o grupo de direitos curdos Hengaw, com sede na Noruega, os manifestantes "tomaram o controle" de partes da cidade de Oshnavih, na província do Azerbaijão Ocidental.

A Anistia Internacional alertou na sexta-feira sobre o "risco de mais derramamento de sangue em meio a um apagão deliberadamente imposto na internet". De acordo com a ONG com sede em Londres, evidências coletadas em 20 cidades do Irã apontam para "um padrão terrível das forças de segurança iranianas disparando deliberadamente e ilegalmente munição real contra manifestantes".

Amini morreu após ser detida pela polícia moral iraniana, encarregada de aplicar o rígido código de vestimenta do país às mulheres. Segundo ONGs de direitos humanos, ela levou uma pancada na cabeça enquanto estava detida, informação não confirmada pelas autoridades, que abriram uma apuração.

Alguns manifestantes removeram o hijab em desafio ao regime e o queimaram ou cortaram simbolicamente o cabelo antes de aplaudir a multidão, segundo imagens postadas nas redes sociais.

Atos também foram organizados pela diáspora iraniana em vários países, incluindo no Brasil. Na sexta, imigrantes protestaram na avenida Paulista, em São Paulo, contra a violação aos direitos humanos no Irã.

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