Putin exibe aliança com a China para o Ocidente em exercício militar

Com agravamento dos efeitos da guerra, líder vende imagem de bom humor e desafio

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São Paulo

Com os efeitos econômicos e políticos da Guerra da Ucrânia se multiplicando, o presidente russo, Vladimir Putin, fez uma coreografada demonstração de união com a sua principal aliada, a China de Xi Jinping.

O palco foi o Extremo Oriente russo, onde ocorre o megaexercício militar anual das Forças Armadas russas. Neste ano, pelo esquema de rotação com outras regiões militares, está em curso o Vostok (Leste), com manobras em toda a Sibéria Oriental e no Pacífico.

Putin sorri para Choigu, ao lado de Gerasimov, no centro de treinamento de Sergueiévski, no Extremo Oriente russo
Putin sorri para Choigu, ao lado de Gerasimov, no centro de treinamento de Sergueiévski, no Extremo Oriente russo - Mikhail Klimentiev/Sputnik/Reuters

Como em todos os anos, países aliados são convidados a participar. Até pela proximidade geográfica, a China sempre envia mais tropas e equipamento para as edições Vostok, como ocorreu neste ano. Mas também estavam presentes países como a Índia, que mantém uma política de boa vizinhança com Moscou e Washington ao mesmo tempo, Síria e Belarus.

Putin foi pessoalmente a Ussuriisk, sede do principal campo de treino, o Sergueiévski. Envergou uma jaqueta militar e trocou piadas e sorrisos com seu ministro da Defesa, Serguei Choigu, e com o chefe do Estado-Maior das Forças Armadas, Valeri Gerasimov. Um dia antes, batizara um falcão na vizinha Kamtchatka como nome de Tempestade, uma unidade militar lutando no Donbass (leste ucraniano).

Depois, o russo foi a Vladivostok, sede da Frota do Pacífico russa e maior cidade da região, onde falará num fórum econômico e irá se encontrar com o número três da hierarquia governamental da ditadura comunista chinesa, Li Zhanshu.

É o principal encontro de Putin com uma autoridade chinesa ao vivo desde que esteve em Pequim para a abertura das Olimpíadas de Inverno com Xi, 20 dias antes do início da invasão da Ucrânia de 24 de fevereiro.

Putin segura falcão em centro de criação das aves em Kamtchatka, Extremo Oriente da Rússia
Putin segura falcão em centro de criação das aves em Kamtchatka, Extremo Oriente da Rússia - Gavriil Grigorov - 5.set.2022/Sputnik/Reuters

Tudo isso mira o Ocidente, visando dar uma demonstração de união entre Moscou e Pequim no momento em que o mundo se divide progressivamente devido aos efeitos da agressão russa a Kiev. Governos europeus se preparam para enfrentar a pressão política decorrente dos efeitos dos cortes de gás russo ao continente, efeito colateral das sanções aplicadas a Moscou.

Os russos, por sua vez, se ancoram cada vez mais em Pequim e Nova Déli para desviar o fluxo de exportação de petróleo e gás, visando reestruturar seu comércio exterior —o que não ocorre do dia para a noite. Países distantes do embate, como o Brasil, mantêm neutralidade econômica para auferir ganhos, mas sabem que a divisão da Guerra Fria 2.0 poderá levar à formação de blocos políticos.

Em Ussuriisk, forças russas e chinesas simularam ataques e contra-ataques a postos de comando. Não muito distante, na costa pacífica, um navio russo disparou um míssil de cruzeiro Kalibr contra um alvo a 300 km.

Enquanto isso, na vida real, um mesmo modelo armado atingiu depósitos de combustível ucranianos perto da frente de Mikolaiv, que concentra o esforço de Kiev em tentar romper as defesas do território ocupado de Kherson.

Navios russos e chineses já cumpriram a etapa mais importante do exercício, de treino de tiro coordenado. Mas o Vostok-2022, por toda a propaganda, é uma manobra bem menor do que a usual. A sua última edição, em 2018, havia sido vendida como o maior exercício do tipo desde a Guerra Fria, com 300 mil homens. O Zapad (Oeste) de 2021 teve alegados 200 mil soldados.

Os números costumam ser contestados por especialistas, mas o Kremlin anunciou que o Vostok-2022 seria menor, com 50 mil soldados.

Apesar das restrições e das sanções, a ideia da propaganda também é mostrar que há folga para cumprir outras missões além da guerra. É parte do jogo, de resto jogado pelo Ocidente: a inteligência americana vazou para a imprensa um relato de que a Rússia está comprando munição norte-coreana.

Pode ser verdade, dado que há uma visível redução no emprego de mísseis mais sofisticados por parte dos russos na Ucrânia, até porque eles dependem de chips ocidentais, seja por falta ou por economia para conflitos futuros com a Otan (aliança militar ocidental). Mas os antigos estoques soviéticos de armas menos precisas são bastante vastos, o que gera dúvidas acerca da história.

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