Comitê da Câmara dos EUA que investiga 6 de Janeiro intima Donald Trump a depor

Expectativa de que ex-presidente compareça é baixa; republicano também sofre revés na Suprema Corte

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São Paulo

O comitê bipartidário da Câmara dos EUA que investiga a invasão do Capitólio em 6 de janeiro de 2021 aprovou nesta quinta-feira (13), por unanimidade, uma moção para intimar o ex-presidente Donald Trump a prestar esclarecimentos sobre o episódio.

A intimação do republicano configura uma das medidas mais enfáticas do colegiado desde que ele foi formado, há mais de 15 meses. A avaliação dos legisladores foi de que encerrar os trabalhos em breve sem falar com Trump, personagem central do 6 de Janeiro, seria insuficiente.

Donald Trump, ex-presidente dos EUA, durante comício no Arizona - Brian Snyder - 9.out.22/Reuters

Não há expectativa de que o republicano aceite comparecer sem questionar a intimação. Um de seus principais aliados, o estrategista Steve Bannon, chegou a ser condenado por desacato em julho após desrespeitar as intimações do órgão para esclarecer sua participação no episódio que marca o maior ataque recente à democracia dos EUA.

Na rede social que criou após ser banido das principais plataformas, a Truth Social, Trump disse que a intimação seria uma chacota. "Por que o comitê não me pediu para testemunhar meses atrás? Por que eles esperaram até os momentos finais? O comitê só serviu para dividir o país que, aliás, está indo muito mal", escreveu.

Congressistas que atuam no colegiado têm reiteradamente afirmado que Trump está ligado à serie de acontecimentos que culminaram na invasão da sede do Legislativo dos EUA —em especial devido aos questionamentos que o ex-presidente levantava sobre o resultado das eleições que alçaram seu oponente, Joe Biden, à Casa Branca.

A sessão no Capitólio naquele dia servia para certificar a vitória do democrata.

"A causa central do 6 de Janeiro foi um homem —Donald Trump—, que muitos outros acabaram por seguir", disse a deputada Liz Cheney, do estado de Wyoming, que, mesmo sendo do mesmo partido de Trump, tem sido uma das principais vozes contra os ímpetos golpistas do ex-chefe da Casa Branca. "Ele tinha um plano premeditado de declarar que a eleição foi fraudada."

O presidente da comissão, o democrata Bennie Thompson, reforçou essa visão. "Ele é a única pessoa no centro da história do que aconteceu em 6 de Janeiro. Queremos ouvi-lo. Ele é obrigado a responder aos policiais que colocaram suas vidas em risco para defender nossa democracia." Na ocasião, cinco pessoas morreram, incluindo um policial, e 140 agentes ficaram feridos.

A votação unânime desta quinta ocorreu após o comitê exibir um vídeo inédito que mostra como congressistas que estavam dentro do Capitólio no momento da invasão reagiram. Aparecem, entre outras pessoas, a presidente da Câmara, Nancy Pelosi, e o líder da maioria no Senado, Chuck Schumer, ambos democratas.

O senador aparece em um trecho telefonando para o então secretário interino de Justiça, Jeffrey Rosen, e questionando: "Por que você não pede ao presidente para dizer a eles que deixem o Capitólio?"

Pelosi, a certa altura, questiona a assessores se poderia voltar para a sessão que deveria confirmar a vitória de Biden e foi interrompida pelos apoiadores de Trump. Em resposta, ela ouve que as pessoas estão tendo de usar máscaras para se proteger do gás lacrimogêneo e, portanto, não seria seguro sair da sala onde estava refugiada.

Outros trechos mostram também ela e Schumer telefonando a governadores e outras autoridades para pedir que enviem mais agentes de segurança e da Guarda Nacional.

Aliados de Trump criticaram a intimação. A deputada Elise Stefanik, em comunicado compartilhado nas redes sociais, chamou a medida de uma "manobra política desesperada" a menos de um mês das midterms, as eleições de meio de mandato. "Isso apenas dá energia ao povo americano para causar um tsunami que irá eleger uma histórica maioria republicana", afirmou.

Ainda que o processo de fritura de Trump não tenha necessariamente desidratado a força pública do ex-presidente, as criticas e alegações ali feitas se somam a acusações que o republicano enfrenta na Justiça.

Em setembro, por exemplo, ele foi acusado pela Procuradoria-Geral de Nova York por fraudes fiscais cometidas ao longo de uma década. Há ainda outros processos correndo na Geórgia e em Manhattan (Nova York).

Ainda nesta quinta, Trump sofreu outro revés. A Suprema Corte rejeitou o pedido do ex-presidente para intervir em uma decisão de instância inferior que vetou que um árbitro independente examinasse cerca de cem documentos confidenciais, de um universo de milhares, que o FBI retirou de sua casa na Flórida em agosto.

O Departamento de Justiça americano também havia pedido que os juízes da corte não acatassem os pedidos de Trump.

Com The New York Times e Reuters

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