Descrição de chapéu The New York Times

Hotéis de Trump cobraram 'diárias exorbitantes' do Serviço Secreto, indicam registros

Filho de republicano dizia que quartos saíam a preço de custo; deputada vê empresa querendo lucrar em cima da Presidência

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David A. Fahrenthold Luke Broadwater
Washington | The New York Times

A Organização Trump cobrou do Serviço Secreto dos Estados Unidos até US$ 1.185 (R$ 6.258) por noite por quartos de hotel da rede do ex-presidente, usados por agentes que protegiam Donald Trump e sua família. A conta forçou o órgão a pagar bem acima do que era estipulado pelo governo, segundo documentos divulgados nesta segunda-feira (17) pelo Comitê de Supervisão da Câmara.

O colegiado divulgou registros do Serviço Secreto que indicam pagamentos de mais de US$ 1,4 milhão (R$ 7,39 mi) a propriedades de Trump desde 2017, ano em que ele assumiu a Presidência. Segundo o comitê, a contabilidade ainda está incompleta, porque não inclui gastos em propriedades do republicano fora dos EUA –nas quais agentes muitas vezes acompanharam sua família– e porque os dados só vão até setembro de 2021.

Então presidente dos EUA, Donald Trump, e o agente do Serviço Secreto Bobby Engel caminham até o Força Aérea Um antes de um comício de campanha em The Villages, na Flórida
Então presidente dos EUA, Donald Trump, e o agente do Serviço Secreto Bobby Engel caminham até o Força Aérea Um antes de um comício de campanha em The Villages, na Flórida - Tom Brenner -23.out.20/Reuters

Os registros fornecem novos detalhes sobre um esquema em que Trump efetivamente teria transformado o Serviço Secreto em cliente cativo —usando suas propriedades centenas de vezes e cobrando do governo taxas muito acima do limite habitual.

Eles também deixam claro que um dos filhos de Trump, Eric, que administrou os negócios da família enquanto o pai estava na Presidência, distorceu informações sobre o tema. Em 2019, ele afirmou que a Organização Trump cobrava do governo apenas "cerca de US$ 50" por quartos de hotel em viagens presidenciais.

Em vez disso, os registros mostram que o Trump International Hotel, em Washington, cobrou repetidamente do Serviço Secreto taxas superiores a US$ 600 (R$ 3.168) por noite. Em um caso de 2017, envolvendo agentes que acompanhavam o próprio Eric, a diária cobrada foi de US$ 1.160 (R$ 6.126). Isso é mais de quatro vezes o limite habitual de gastos do governo para hotéis em Washington —mesmo assim, o Serviço Secreto aprovou o dispêndio.

No mesmo ano, o hotel de Trump na capital americana cobrou da agência US$ 1.185 (R$ 6.258) por um quarto usado por agentes que protegiam Donald Trump Jr. Por lei, o Serviço Secreto pode exceder o valor máximo de uma diária permitido pelo governo quando a missão assim o exigir.

Anteriormente, a taxa mais alta de que se tinha notícia da Organização Trump cobrando do governo por um quarto de hotel foi de US$ 650 (R$ 3.432), por quartos em Mar-a-Lago, o clube de golfe do ex-presidente em Palm Beach, na Flórida.

"O que me incomoda, várias e várias vezes, é como eles mentem sobre essas coisas", diz a deputada democrata Carolyn B. Maloney, de Nova York, presidente do Comitê de Supervisão. "Documentos não mentem." Segundo ela, os papéis deixam claro que Trump se aproveitou dos contribuintes ao exigir que agentes do Serviço Secreto ficassem em suas propriedades e cobrar taxas exorbitantes do governo.

"Isso leva à preocupação de que a Organização Trump agiu de forma a ter lucros em cima da Presidência", diz Maloney. Segundo ela, o comitê continuará a investigar como os negócios do republicano usaram do Executivo para sua vantagem financeira —principalmente em relação a ligações com governos estrangeiros. "Essa pode ser só a ponta do iceberg."

A Organização Trump não comentou o caso nesta segunda-feira (17). Representantes da empresa já disseram que ela cobrava "preço de custo" do governo e poderia ter lucrado mais alugando os quartos para outros hóspedes.

A empresa continuou a cobrar do Serviço Secreto mesmo depois de Trump deixar o cargo e passar a viver em suas propriedades em tempo integral.

Em 2020, o jornal The Washington Post informou que o governo gastou mais de US$ 2,5 milhões (R$ 13,2 mi) em empreendimentos do republicano enquanto ele esteve na Presidência. Os pagamentos vieram de várias agências do governo e foram em grande parte motivados pelas viagens de Trump.

O Departamento de Estado, por exemplo, pagou milhares de dólares ao clube Mar-a-Lago por despesas relacionadas a reuniões do político com líderes estrangeiros realizadas no local —incluindo despesas com flores, comida e até copos de água.

A Casa Branca pagou a Mar-a-Lago, por exemplo, mais de US$ 1.000 (R$ 5.280) por 54 drinques consumidos por assessores do ex-presidente em um bar privado, conforme noticiou a ProPublica.

E o Serviço Secreto custeou diárias para que seus agentes acompanhassem deslocamentos da família a propriedades da empresa do político em todo o país e no mundo —muitos deles se referem a visitas do ex-presidente a Mar-a-Lago e ao Trump National Golf Club, em Bedminster, em Nova Jersey.

Neste último, o órgão chegou a pagar à Organização Trump US$ 17 mil (R$ 89,8 mil) por mês, um aluguel incomumente alto para a região, para usar uma "casa de campo" no terreno do clube de golfe.

O Serviço Secreto ainda pagou à empresa do republicano por diárias de agentes que acompanhavam outras autoridades do governo, incluindo Mike Pence e Steven Munchin, então vice-presidente e secretário do Tesouro, respectivamente.

Os registros obtidos pelo Comitê de Supervisão da Câmara mostram que o Serviço Secreto fez pelo menos 669 pagamentos à firma de Trump, relatou Maloney nesta segunda em carta pública à diretora da agência, Kimberly A. Cheatle. O órgão não comentou.

Trump continuou sendo dono de suas empresas enquanto esteve na Presidência, embora tenha dito que passou a administração cotidiana delas a seus filhos. As cobranças feitas pela Organização Trump não violam a Constituição, segundo especialistas em ética, já que presidentes estão amplamente imunes às leis de conflito de interesses que se aplicam a outras autoridades federais.

Tradução de Luiz Roberto M. Gonçalves 

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