Brasil fica em 110º em ranking de liberdade de imprensa, com 'situação problemática'

ONG Repórteres Sem Fronteiras destaca desinformação e ações de Bolsonaro como prejudiciais para atividade jornalística

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Londres | AFP

Descrito como um dos países em que há deterioração da liberdade de imprensa, o Brasil ocupa a 110ª posição entre 180 nações no ranking atualizado da ONG Repórteres Sem Fronteiras divulgado nesta terça (3). O resultado representa um ligeiro avanço em relação ao ano anterior —quando o país estava em 111º—, mas não chega a ser reconhecido como progresso real pela organização.

A RSF afirma que a desconfiança em relação à imprensa, alimentada pela retórica contra a mídia disseminada por políticos a exemplo do presidente Jair Bolsonaro (PL), ganhou terreno ao longo do último ano. "Cada vez mais visíveis e virulentos, ataques públicos enfraquecem a profissão e incentivam processos abusivos, especialmente contra [profissionais] mulheres", diz trecho do material.

O presidente Jair Bolsonaro chega em ato organizado por apoiadores em Brasília (DF) - Antonio Molina - 1º.mai.22/Folhapress

Há sete anos, o Brasil ocupava a 99ª posição do ranking, que avalia 180 países. Outras nações da América Latina, como Cuba (173ª), Nicarágua (160ª), Venezuela (159ª) e El Salvador (112ª) também são mencionadas como áreas de preocupação pela organização no balanço.

O documento lista como pontos de atenção a violência estrutural contra jornalistas, a concentração dos veículos de comunicação em poucas empresas privadas e campanhas de desinformação, salientando a participação do atual governo. "As relações com a imprensa se deterioraram significativamente desde a chegada ao poder do presidente Jair Bolsonaro, que ataca regularmente jornalistas e a mídia em seus discursos", afirma o capítulo sobre Brasil.

Ao todo, a entidade aponta que 73% dos 180 países avaliados a cada ano vivem cenários muito graves, difíceis ou problemáticos —o Brasil está entre estes últimos. A proporção é idêntica à da edição anterior, mas o número de nações onde a situação é muito grave (a categoria mais alta) passou de 21 para 28.

Países que convivem com regimes autoritários ou nos quais há enfraquecimento da democracia foram destacados pela RSF, que chama a atenção para a polarização nos ambientes internacional e doméstico, estimulada pelo aumento da desinformação.

A Rússia de Vladimir Putin, 155º país da lista, é um desses casos. A organização aponta que a invasão do território da vizinha Ucrânia foi orquestrada, em partes, com base em uma guerra de propaganda promovida pelo governo, o que deu novo ímpeto para cercear o trabalho da imprensa profissional. "Todos os canais de televisão independentes privados estão banidos do ar, com exceção dos canais de entretenimento a cabo", diz o material.

"A criação de um arsenal midiático em alguns regimes autoritários priva os cidadãos de seu direito à informação e contribui para o aumento das tensões internacionais que podem levar às piores guerras", afirmou o secretário-geral da RSF, o francês Christophe Deloire, durante entrevista coletiva.

A China é outro caso destacado. A ditadura liderada por Xi Jinping "utiliza o arsenal legislativo para confinar sua população e isolá-la do resto do mundo, especialmente em Hong Kong", diz o relatório, referindo-se ao território semiautônomo sobre o qual Pequim tem avançado nos últimos anos. O país ocupa a 175ª posição do ranking.

Já a ilha honconguesa ocupa a 148ª posição, sendo que no ano passado ocupava a 80ª. "Trata-se da queda mais expressiva do ano, totalmente relacionada aos constantes ataques à liberdade de imprensa e ao lento desaparecimento do Estado de Direito", disse à agência de notícias AFP Cedric Alviani, diretor da RSF para o leste da Ásia.

A Nicarágua do ditador Daniel Ortega, reeleito em uma eleição de fachada no último ano, registrou a queda mais expressiva das Américas: 39 pontos —de 121º foi para 160º. Na vizinhança, a RSF também sinalizou que El Salvador apresenta situação preocupante com o que descreveu como guinada autoritária do governo de Nayib Bukele.

O México segue como o lugar mais violento do mundo para a imprensa. O país está na 127ª posição do ranking global e, segundo a contagem da RSF, registrou quatro assassinatos de profissionais da imprensa por razões ligadas à profissão desde o início deste ano —a organização Artigo 19, que também monitora o assunto, apontou oito crimes do tipo em relatório sobre o governo de Andrés Manuel López Obrador.

Em todo o mundo no ano passado, de acordo com o relatório, 25 jornalistas foram mortos e 480 estão presos atualmente —China (120), Mianmar (69) e Belarus (36) lideram em números de detenções.

Somente oito países são classificados como em boa situação em relação à liberdade de imprensa. São eles: Noruega —a líder da lista—, Dinamarca, Suécia, Estônia, Finlândia, Irlanda, Portugal, Costa Rica e Lituânia. A última do ranking é a ditadura da Coreia do Norte.

Os Estados Unidos ocupam a 42ª posição, enquanto a Argentina está na 29ª, e a Colômbia, na 145ª.

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