Descrição de chapéu The New York Times

Parque dos 'meninos da caverna' na Tailândia se prepara para reabertura

Depois de novos filmes sobre resgate milagroso e com controle da pandemia e fim das chuvas, local aguarda volta de turistas

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Richard Paddock Muktita Suhartono
Caverna Tham Luang (Tailândia) | The New York Times

Quatro anos atrás, era uma cena lamacenta, caótica e emocionalmente tensa à entrada da caverna Tham Luang, onde milhares de pessoas, de voluntários a pais a espeleólogos de todo o mundo, reuniram-se com um objetivo: resgatar 12 meninos e seu treinador de futebol presos lá dentro.

Durante uma provação de 18 dias, grande parte da atenção do mundo se voltou para a caverna, com muitos temendo o pior. Mas, contra as probabilidades, toda a equipe foi salva.

O resgate milagroso se tornou foco de documentários, sucessos de Hollywood e mais de uma dúzia de livros. Hoje, a área em frente à caverna é uma zona em obras, à medida que o parque nacional se prepara para uma esperada onda de turistas que querem ver o local.

The entrance to the Tham Luang Cave in Chiang Rai province, Thailand, on Aug. 17, 2022. The rescue of 12 boys and their soccer coach trapped in the cave in 2018 has since become the focus of documentary films and Hollywood blockbusters. (Luke Duggleby/The New York Times)
A entrada da caverna de Tham Luang, na Tailândia, onde meninos ficaram presos em 2018 - Luke Duggleby/The New York Times

As áreas onde familiares aguardavam notícias das crianças desapareceram, e abrigos onde voluntários se recuperavam de incursões árduas na caverna foram derrubados. Em seu lugar, estão sendo construídos um centro de visitantes, instalações turísticas e uma grande réplica das montanhas circundantes.

Tham Luang, que por muito tempo foi um velho parque nacional pacato e pouco visitado, voltou ao mapa graças ao resgate do time de futebol dos Javalis Selvagens. "Nunca esperei que mudasse tanto, porque, antes que os meninos ficassem presos na caverna, ninguém conhecia Tham Luang. Mesmo distritos vizinhos não conheciam a caverna", diz Naphason Chaiya, 54, chefe da aldeia Baan Jong.

Em uma primeira onda de melhorias, estradas foram repavimentadas e hotéis, lojas e cafeterias surgiram. Em homenagem a Saman Gunan, mergulhador voluntário que morreu na empreitada, uma estátua dele com com 13 javalis a seus pés foi erguida.

Logo após o resgate, começaram a chegar tantos turistas que a fila de carros às vezes tinha mais de 1,5 km. Para desânimo dos comerciantes locais, porém, o boom foi interrompido em 2020, com a pandemia. Agora, com o vírus recuando e lançamentos de filmes e documentários —como "Treze Vidas: O Resgate", de Ron Howard, na Amazon, e "O Resgate na Caverna Tailandesa", na Netflix—, muitos moradores esperam que Tham Luang volte a ser um ímã de visitantes quando a estação chuvosa terminar.

"Estou otimista. A caverna está trazendo mais turismo e melhorando a economia da cidade. Vejo muitos novos projetos, novos negócios, restaurantes e cafés", diz Pansak Pongvatnanusorn, que construiu o Teva Valley Resort a 5 km da caverna em 2019 e o manteve aberto durante a pandemia.

Tham Luang fica nas montanhas Doi Nang Non, que correm ao longo da fronteira com Mianmar na província mais ao norte da Tailândia, Chiang Rai. Considerada sagrada, a formação se ergue do vale, com vista para campos de arroz e aldeias. Na seca, o lugar é um sistema de cavernas longo e estreito, pontuado por câmaras subterrâneas. Durante a temporada das chuvas fortes, rapidamente se torna um rio subterrâneo, motivo pelo qual os meninos ficaram presos.

Vern Unsworth, explorador amador que teve um papel fundamental no resgate, recrutando os mergulhadores britânicos que encontraram os meninos, desde então lidera esforços para expandir o sistema de cavernas, encontrando novas entradas e câmaras e conectando segmentos sem saída.

Nesses esforços, o conjunto ganhou mais de 11 quilômetros de comprimento. "Até o ano que vem, será o mais longo da Tailândia."

Após toda a atenção internacional que o resgate recebeu, hoje pouco se sabe dos meninos e de seu treinador, Ekkapol Chantawong. Uma das razões é que eles e seus familiares venderam os direitos de sua história a uma empresa ligada ao governo, que por sua vez as vendeu à Netflix. Nos contratos, as crianças e Ekkapol são impedidos de contar a história publicamente por anos. (Vários deles, contatados pelo New York Times, recusaram-se a falar.)

Unsworth diz que alguns dos meninos e Ekkapol voltaram à caverna para explorá-la com ele na época da seca. "Eles não têm problemas com o que aconteceu. Só tentaram tocar a vida o melhor que puderam. Não se colocaram em um pedestal, permanecem discretos."

Vários ainda se dedicam ao futebol. Um deles, Duangphet Promthep, foi recentemente aceito pela Brooke House College Football Academy, no Reino Unido. Adul Sam-on estuda na Masters School em Dobbs Ferry, no estado de Nova York, com bolsa de estudos —ele foi um dos três apátridas que, além de Ekkapol, receberam a cidadania tailandesa depois do resgate.

Adul, no ensino médio, é proficiente em cinco línguas e tinha o sonho de se tornar médico, segundo seu tio-avô e guardião Go Shin Maung. Mas o resgate e a atenção internacional ampliaram sua visão de mundo e agora ele espera fazer um trabalho humanitário, possivelmente com a ONU. "Os meninos ainda se falam e trocam mensagens, mas estão seguindo caminhos próprios", diz o pastor cristão.

Embora a maioria dos moradores da região seja budista, muitos mantêm uma crença tradicional em espíritos e dizem ver a figura de uma mulher adormecida no contorno das montanhas.

Segundo a lenda local, há muito tempo uma princesa se apaixonou por um cavalariço; depois que ela engravidou, eles fugiram para a caverna. Um dia, quando o jovem saiu para buscar comida, foi morto pelos homens do rei, levando a princesa ao suicídio. Seu sangue se tornou o rio que flui na caverna, e as montanhas acima assumiram sua forma. O nome completo da caverna, Tham Luang Nang Non, significa "grande caverna da dama adormecida".

Durante o resgate, muitos voluntários rezaram e deixaram oferendas em um santuário na entrada da caverna. Quando os Javalis foram descobertos, a localização da câmara em que estavam significou para muitos que a moça estava realmente mantendo a todos seguros.

"O destino está escrito porque eles foram encontrados sob os olhos da princesa. Seu destino era que todas as pessoas se reunissem para salvá-los", diz o guarda florestal Kamon Kunngamkwamdee.

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