Diante da escalada de tensão na Ásia fruto de manobras militares da Coreia do Norte, três dos principais atores envolvidos —EUA, Japão e Coreia do Sul— demonstraram que podem recorrer à China como um possível agente de pressão para dissuadir Pyongyang de eventual novo teste nuclear.
O recado mais enfático vem de Washington. Na reunião que terá com o líder chinês, Xi Jinping, o presidente americano, Joe Biden, deve reforçar a mensagem de que, se a Coreia do Norte seguir com os lançamentos de mísseis, a presença dos EUA na região será maior.
"Justamente por isso a China tem interesse em desempenhar um papel construtivo na contenção das piores tendências da Coreia do Norte", disse Jake Sullivan, conselheiro de segurança nacional da Casa Branca, a jornalistas neste sábado (12).
Biden está no Camboja para participar de uma reunião da Asean, a Associação de Nações do Sudeste Asiático, região importante para Washington, que disputa com Pequim o campo de influência no Indo-Pacífico. De lá, vai para Bali, na Indonésia, para a cúpula do G20 —onde deve ocorrer a reunião com Xi.
Além do americano, também estão na capital cambojana, Phnom Penh, o premiê do Japão, Fumio Kishida, e o presidente da Coreia do Sul, Yoon Suk-yeol. Os dois também enviaram recados a Pequim.
Kishida disse ao premiê chinês, Li Keqiang, esperar que os países tenham um relacionamento construtivo e estável, segundo a chancelaria japonesa. E reiterou que os recentes lançamentos de mísseis balísticos norte-coreanos, incluindo um que sobrevoou o Japão, são uma ameaça inaceitável para a comunidade internacional.
Ele também pediu cooperação para conseguir o completo desmantelamento das armas de destruição em massa de Pyongyang.
Em linha semelhante, Yoon Suk-yeol propôs um mecanismo de diálogo tripartite com China e Japão, que contaria com uma cúpula de líderes para tratar de questões como segurança e emergência climática. Ele afirmou que, se a Coreia do Norte realizar outro lançamento, a comunidade internacional deveria responder "com uma só voz".
Sanções internacionais capitaneadas pelos EUA até aqui falharam em conter as manobras norte-coreanas e promover a desnuclearização da península. Autoridades americanas acusam em especial China e Rússia de permitir programas de mísseis e bombas de Pyongyang ao não defender retaliações em fóruns internacionais.
De certo modo, Washington tenta reeditar medida de 2017, época em que o regime liderado por Kim Jong-un realizou um teste nuclear e o Conselho de Segurança da ONU, o mais alto colegiado da organização, aprovou de forma unânime duras sanções contra o país asiático.
Pequim e Moscou inicialmente resistiram à medida, mas depois cederam. À época, Liu Jieyi, embaixador de Pequim, disse que a resolução não tinha a intenção de causar impactos negativos ao povo norte-coreano, mas sim de desnuclearizar a região.
Alto diplomata dos EUA para o Leste Asiático na época do governo de Barack Obama, Daniel Russel disse à agência Reuters que a China poderia, em certa medida, atuar como uma espécie de fator restritivo.
"Isso pode ocorrer se Pequim sentir a própria segurança ameaçada, não apenas pelas capacidades da Coreia do Norte, mas pelo acúmulo de forças dos EUA e de nações aliadas na região", afirmou. "Pode-se imaginar que, em algum momento, Kim será impedido pelo próprio interesse de segurança nacional da China."
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