Xi Jinping faz crítica velada à Rússia um dia após reunião com Biden

No G20, líder chinês condena uso de energia e alimentação como armas de guerra

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Nusa Dua (Indonésia) | AFP e Reuters

O dirigente chinês, Xi Jinping, usou seu discurso no encontro do G20, em Bali, na Indonésia, nesta terça-feira (15) para se posicionar contra a "politização, instrumentalização e uso de questões alimentares e energéticas como armas".

A fala, vista como um alerta velado à Rússia, ecoa críticas feitas pela comunidade internacional de que o país governado por Vladimir Putin teria interrompido o fornecimento de gás para a Europa e dificultado a exportação de grãos para penalizar o Ocidente por seu apoio a Kiev na Guerra da Ucrânia.

Xi Jinping, líder do regime da China, participa de sessão sobre segurança energética e alimentar em encontro do G20 em Nusa Dua, na Indonésia - Leon Neal/via Reuters

A declaração de Xi se dá um dia depois de ele se reunir com o presidente americano, Joe Biden, às margens da cúpula. Primeiro encontro presencial dos líderes desde que o democrata assumiu a Casa Branca, a conversa foi marcada pela reiteração de posições de ambos os lados em relação a temas sensíveis como Taiwan, mas rendeu frutos como a condenação absoluta do uso de armas nucleares.

É outra indireta a Putin, que vem subindo o tom nesse sentido nos últimos meses, aumentando o assombro de um fantasma que ronda o conflito desde seu início em fevereiro.

A afirmação do dirigente comunista ocorre ainda em meio a um aumento das pressões do Ocidente por um posicionamento mais enfático da China em relação ao conflito. Pequim é um dos principais aliados de Moscou e tem auxiliado os russos de forma visível com um aumento significativo na compra de petróleo russo, vetado na Europa, e promessa de aquisição de mais gás natural.

Mas o país asiático mede suas palavras ao tratar do conflito publicamente —em geral, suas declarações se limitam à defesa do fim do conflito e das negociações de paz e à condenação das sanções impostas à Rússia pelos países ocidentais.

Essa postura foi reiterada novamente nesta terça, quando Xi se reuniu com o presidente da França, Emmanuel Macron, em paralelo ao G20. Enquanto o europeu afirmou que ambos concordaram que a diminuição das tensões entre Moscou e Kiev é urgente, o resumo do encontro pela parte asiática só cita a guerra de passagem, dedicando-se com mais fôlego às demandas por uma melhoria no ambiente de negócios na França para os chineses.

Antes disso, no início do mês, o primeiro-ministro alemão, Olaf Scholz, tinha aproveitado sua visita oficial a Pequim para pedir que Xi convencesse Putin a dar um ponto final à guerra. Na ocasião, relatos do encontro publicados pela mídia chinesa se centraram em aspectos do diálogo não relacionados à Ucrânia.

Putin, aliás, não participa do encontro do G20 —quem o representa é seu ministro das Relações Exteriores, Serguei Lavrov. O chanceler, que permaneceu em seu quarto durante a fala de Volodimir Zelenski na abertura do encontro, acusa o Ocidente de politizar o evento ao incluir uma condenação à invasão da Ucrânia na versão preliminar da declaração desta edição da cúpula.

"Sim, nossos colegas ocidentais tentaram forçar um linguajar que implicaria condenar as ações da Federação Russa em nome de todo o G20, de que somos parte. Mas façamos isso de forma justa, e deixemos claro que, neste tópico, temos diferenças", disse Lavrov. Ele também responsabilizou os países ocidentais pelo início da guerra —que Moscou ainda chama de "operação militar especial" quase nove meses após seu início.

Além da reunião com Biden, que representou um esforço mútuo da China e dos EUA para aliviar suas tensões, Xi também aproveitou o G20 para tentar reatar laços com a Austrália. Ao conversar com Anthony Albanese, o primeiro-ministro australiano, o líder chinês reconheceu as dificuldades nas relações entre os países, mas defendeu que elas sejam desenvolvidas em nome de seus interesses comuns. O premiê, por sua vez, disse que a discussão foi "positiva e construtiva" ao comentá-la no Twitter.

Geograficamente próximas, as nações não se reuniam oficialmente há cinco anos, quando Camberra baniu equipamentos Huawei de sua rede de telecomunicações e pediu uma investigação independente sobre a origem do novo coronavírus. Em resposta, Pequim passou a sancionar produtos australianos, como carvão e vinho —impondo à Austrália medidas semelhantes às que critica no Ocidente.

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