Descrição de chapéu Guerra da Ucrânia Rússia

Zelenski canta vitória em Kherson e diz que retomada marca início do fim da guerra

Assembleia da ONU aprova resolução para apontar Moscou como responsável pela reparação no país vizinho

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Kherson (Ucrânia) | Reuters

O presidente da Ucrânia, Volodimir Zelenski, juntou-se às comemorações pela retomada de Kherson após oito meses de ocupação russa, em uma visita surpresa à cidade nesta segunda-feira (14).

O local havia sido tomado pelo Exército inimigo ainda no início da guerra e é capital de uma das quatro regiões recentemente anexadas por Vladimir Putin ao seu território por meio de referendos considerados ilegais pelo Ocidente.

O presidente da Ucrânia, Volodimir Zelenski, posa para uma selfie com integrantes do Exército em visita à cidade de Kherson, recém-liberada pelas tropas russas - Assessoria de Imprensa da Presidência da Ucrânia/via AFP

"Estamos avançando", disse Zelenski à imprensa após proferir um discurso na praça principal da cidade, em frente ao prédio do governo até dias atrás ocupado pelos russos. Famílias, algumas delas com filhos pequenos, aglomeravam-se no espaço, e vários dos presentes portavam a bandeira ucraniana.

O presidente, que disse estar muito feliz com a situação, ainda declarou que a retomada de Kherson pode marcar o início do fim da guerra, em resposta ao questionamento de um repórter presente. "Estamos prontos para a paz, mas nos nossos termos", afirmou.

São eles: término imediato do conflito e retirada das tropas russas, restauração da integridade territorial da Ucrânia, compensação pelos danos causados e garantias efetivas de que Moscou não voltará a invadir o país vizinho. Elas foram listadas por um porta-voz do Ministério das Relações Exteriores em uma postagem no Facebook no mesmo dia.

Em Nova York, a Assembleia-Geral da ONU aprovou, com o voto de 94 de seus 193 membros, uma resolução reconhecendo a Rússia como responsável pela reparação na Ucrânia ao final da guerra, de forma a "arcar com as consequências legais de todos os seus atos ilícitos pela lei internacional".

A medida, como as demais da entidade, tem peso apenas simbólico. O Brasil se absteve, ao lado de outras 72 nações; 14 votaram contra.

Antes, durante seu pronunciamento, Zelenski havia agradecido à Otan, a aliança militar ocidental, e a outros aliados por seu apoio no front, acenando diretamente aos Estados Unidos ao mencionar a importância dos Himars (acrônimo para Sistema de Foguetes de Artilharia de Alta Mobilidade, em inglês) remetidos por eles no combate.

Os americanos, aliás, foram um dos que se apressaram para iniciar uma ofensiva diplomática pelo término da guerra assim que chegaram as notícias do recuo de Putin —eles já gastaram quase US$ 20 bilhões enviando armas a Kiev.

Representantes de Washington e Moscou se reuniram na capital turca, Ancara, para discutir um possível tratado de paz nesta segunda, em um encontro que teria contado com a presença de Serguei Narishkin, chefe do SVR (Serviço de Informação Exterior, remanescente da KGB soviética), e William Burns, diretor da CIA (central de inteligência dos EUA).

O Kremlin afirmou que não pode confirmar nem negar a informação, e autoridades americanas dizem que o assunto girou em torno apenas de alertas sobre possíveis consequências para o uso de armas nucleares por parte da Rússia.

De Bali, na Indonésia —onde participa da cúpula do G20 a partir desta terça— o presidente dos EUA, Joe Biden, afirmou que é difícil saber o que a vitória em Kherson representa a essa altura. Mas garantiu que seu governo seguirá apoiando a Ucrânia.

Enquanto isso, o chanceler russo, Serguei Lavrov, que viajou à ilha paradisíaca para o encontro no lugar de Putin, teria sido levado a um hospital por problemas cardíacos segundo relato da agência de notícias Associated Press, o que ele nega. Putin não irá à reunião na Indonésia.

Moscou completou sua retirada militar de Kherson no fim da semana passada. Forças de Kiev entraram lentamente na cidade temendo emboscadas, mas relatos de redes sociais mostram que os momentos finais da saída russa foram dramáticos, com soldados enfileirados para atravessar o rio Dnieper e ocupar suas novas posições na outra margem.

O Exército ucraniano afirma que as tropas russas continuam a bombardear Kherson, e explosões podiam ser ouvidas da praça central da cidade antes e depois do pronunciamento presidencial. O governo regional anunciou o isolamento da área por alguns dias, por motivos de segurança, e alertou os residentes de que pode haver minas terrestres espalhadas pelo território.

Em um discurso televisionado na véspera, Zelenski havia dito ainda que corpos de civis e de militares foram encontrados na cidade, e acusou o Exército russo de ter perpetuado crimes de guerra no local. A Rússia, que enfrenta uma série de imputações do tipo —inclusive por parte da ONU—, nega reiteradamente realizar ataques deliberados a civis ou ter cometido atrocidades nas áreas ocupadas.

A debandada russa de Kherson representa um dos maiores reveses enfrentados por Vladimir Putin desde que ele ordenou a invasão do país vizinho, há quase nove meses. Única capital regional capturada por suas tropas, sua perda é significativa para a Rússia, psicológica e estrategicamente.

A guerra continua, no entanto, com a forças de segurança ucranianas sendo bombardeadas no Donbass —o leste russófono composto pelas províncias de Donetsk e Lugansk, também anexadas por Moscou. O Ministério da Defesa russo anunciou, inclusive, que acaba de tomar o vilarejo de Pavlivka, em Lugansk.

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