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China relata alta de casos de Covid enquanto relaxa medidas de restrição

País cancela uso de aplicativo que monitorava deslocamentos e diminui áreas sujeitas a bloqueios para conter doença

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Guarulhos

O anúncio está nos jornais estatais: "Os principais epidemiologistas previram que essa onda [de Covid] atingirá o pico em um mês", diz texto deste fim de semana no Global Times, ligado ao Partido Comunista.

O relaxamento das rígidas medidas de controle da pandemia na China, como confinamentos em larga escala e internação sistemática de pessoas contaminadas, tem forçado autoridades a colocar em prática medidas de contenção do aumento da cifra de casos dado como certo para as próximas semanas.

Homem recebe vacina contra Covid na região de Danzhai, na província chinesa de Guizhou - AFP

Veículos ligados ao regime afirmam que Pequim prepara um "plano cuidadosamente organizado" para que o adeus gradual às restrições não leve ao descontrole da doença. E não deixam de lado as críticas: "Assim, obtém-se uma volta à normalidade organizada em comparação com o Ocidente", segue o Global Times.

A média móvel de casos de coronavírus no gigante asiático foi de 20,3 mil no último domingo (11), número menor em comparação com o pico de 41 mil observado no início deste mês. Mas longas filas em clínicas para realizar exames de Covid já têm sido observadas, assim como a proliferação de sintomas da doença.

A queda na cifra de casos relatados tem como um dos fatores principais a diminuição dos locais de testes em massa. Segundo o Global Times, no entanto, o número de pacientes internados com sintomas da doença, em especial febre, aumentou em todo o país, o que denotaria subnotificação.

Lideranças também estão de olho na proximidade do Ano-Novo Chinês, em janeiro. Maior festividade do calendário chinês, o evento leva a migrações em massa pelo país de 1,4 bilhão de pessoas.

Além de ampliar a vacinação —cerca de 90% da população completou o primeiro esquema vacinal, segundo a plataforma Our World in Data—, partes da China, como a capital, incentivam pessoas com sintomas leves a se isolar em casa, para conservar suprimentos médicos aos que mais precisam.

Em Pequim, autoridades informaram que mais de 22 mil pacientes foram a hospitais no domingo, 16 vezes mais do que no mesmo dia da semana anterior. Li Ang, porta-voz do Departamento Municipal de Saúde, disse que a tendência de rápida disseminação continua: "O número de consultas de pessoas febris aumentou de maneira significativa, e as ligações para serviços de emergência dispararam."

Ainda assim, o país ampliou o leque de flexibilização. Nesta segunda-feira (12), por exemplo, disse que vai desativar o principal aplicativo que há três anos controla deslocamentos populacionais para verificar se as pessoas transitaram por áreas com concentrações de casos de Covid.

Quando foi lançada, a plataforma foi apontada por críticos como um mecanismo de vigilância em massa e controle social. Liu Xingliang, membro do Ministério da Indústria e Tecnologia, afirmou que, de fato, uma grande quantidade de informações confidenciais foi coletada, mas que todos os dados serão deletados.

O dispositivo controlava deslocamentos a partir de dados de smartphones e mostrava as cidades visitadas nos últimos sete dias. Com base nesse histórico, a pessoa poderia entrar em prédios. Caso o local não fosse definido como de alto risco, o app mostrava um sinal verde, permitindo o ingresso.

O regime de Xi Jinping também reduziu os locais considerados de alto risco para surtos de Covid, levando à reabertura de áreas bloqueadas. O número de regiões caiu para cerca de 4.500 nesta segunda, de acordo com dados oficiais. Na primeira semana do mês, chegava a 30 mil.

Entre as áreas que agora não comportam mais zonas de alto risco está um distrito de Zhengzhou em que está localizada a maior fábrica de iPhones do mundo. Em novembro, milhares deixaram a região com receio dos confinamentos, reduzindo a produção econômica, e atos contra o bloqueio foram registrados.

Segundo as novas orientações, áreas de alto risco sem novas infecções por cinco dias consecutivos devem ser liberadas, e autoridades regionais foram instadas a não expandir de maneira arbitrária o escopo de bloqueios nem prolongá-los. Em Xangai, importante polo financeiro, por exemplo, autoridades informaram que vão passar a considerar todas as áreas como sem risco de Covid a partir desta terça (13).

A mudança no curso da polêmica política de Covid zero, criticada inclusive por organismos internacionais como a OMS (Organização Mundial da Saúde), vem na esteira de uma incomum série de mobilizações populares realizadas nas principais cidades e universidades do país no final de novembro.

A onda de atos teve como estopim um incêndio na província de Xinjiang que deixou dez mortos. Manifestantes alegaram que as pessoas não puderam deixar o local a tempo e que o socorro não conseguiu chegar rapidamente devido às restrições para conter o vírus.

A reportagem da agência de notícias AFP conversou com parentes das vítimas e relatou que elas seriam uigures, grupo minoritário muçulmano que predomina em Xinjiang e que, de acordo com relatos de organizações internacionais, tem sua cultura reprimida por Pequim.

Os protestos foram o desafio público mais forte à liderança de Xi e vieram cerca de um mês após ele ser coroado com um inédito terceiro mandato à frente do regime. Também se inseriram na desaceleração da economia chinesa, com o país registrando a maior queda no fluxo do comércio em dois anos e meio.

Com AFP e Reuters

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